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Mostrando postagens de 2018

O foco é o ser humano (A noite devorou o mundo)

Será que não vivemos em um mundo repleto de tecnologia e solidão? O que o ser humano faria se não existisse mais o contato virtual? Já não estamos vivendo a completa Era da solidão? O filme de estreia do diretor Dominique Rocher (II) coloca o protagonista em uma situação de total isolamento onde a única companhia é a solidão. Sam é um dos poucos sobreviventes de um apocalipse zumbi. Sam precisa lidar com a falta de suprimentos e energia. Suportar o frio e o ausência de contato físico. O protagonista encontra em Alfred o consolo para os dias mais pesados. Alfred é a companhia que o conforta, mas Alfred é um zumbi preso por segurança no elevador do prédio. O único contato é o zumbi que transborda afeto no silêncio. E assim os atos permeiam a trama também assinada pelo diretor. Anders Danielsenlie é a escolha acertada para um filme que exige ao máximo da atuação para envolver o espectador. O ator passa boa parte da trama sozinho e precisa transmitir os mais variados sentimentos na m

Entretenimento de qualidade (Homem-Aranha no Aranhaverso)

Miles Morales é aquele adolescente típico que ao grafitar com o tio em um local abandonado é picado por uma aranha diferenciada. Após a picada, a vida do protagonista modifica completamente. O garoto precisa lidar com os novos poderes e outros que surgem no decorrer da animação. Tudo estava correndo tranquilamente na vida de Miles, somente a falta de diálogo com o pai o incomoda, muito pelo fato do pai querer que ele estude no melhor colégio e tudo que o protagonista deseja é estar imerso no bairro do Brookling. Um dos grandes destaques da animação e que cativa o espectador imediatamente é a cultura em que o personagem está inserido. A trilha sonora o acompanha constantemente, além de auxiliar no ritmo da animação. O primeiro ato é voltado para a introdução do protagonista no cotidiano escolar. Tudo no devido tempo e momentos certos para que o público sinta envolvimento com o novo Homem-Aranha. Além de Morales, outros heróis surgem para o ajudar a combater vilões que dificultam s

Reflexo dos tempos modernos (Roma)

Roma é um filme atemporal. O abismo entre classes sociais e a força da figura feminina são as temáticas centrais dos atos. Cleo é empregada doméstica e babá dos filhos de Dona Sofia. O filme aborda subtramas importantes que são o reflexo de vários lares ao redor do mundo. A empatia com a protagonista é imediata. Cleo é amada verdadeiramente pelos filhos mais novos de Sofia, mas a personagem sente um imenso vazio. Apesar de transitar por todos os cômodos da casa e fazer parte da "família", Cleo não pertence a ninguém. A solidão é sua fiel companheira. Esse sentimento também está presente na vida de Sofia. Com o marido sempre viajando, o desabafo da patroa ao telefone é acompanhado de forma acanhada e inesperada por Cleo. A personagem precisa trabalhar e os conflitos familiares de Sofia a atingem constantemente. A todo momento o espectador observa a protagonista e percebe que a empregada sempre soube qual era o seu lugar no mundo. Na realidade ela não tinha lugar. Roma acom

A grandiosidade do uniforme laranja (Aquaman)

Sabe a sensação de estar anestesiado? James Wan consegue provocar esse sentimento no espectador após a sessão de Aquaman. O diretor é sinônimo de criatividade ao entregar para os fãs e o público sedento por entretenimento, um filme que enfatiza a origem do super-herói mantendo o ritmo constante entre os atos. O primeiro contato é voltado para o romance de Tom Curry e Atlanna. Os pais do protagonista se conhecem e com poucos minutos a trama enfatiza o retorno de Atlanna para Atlântida visando a segurança da família. O retorno é marcado pelo nascimento de outra criança e o exílio da personagem. Enquanto isso, na terra, Aquaman salva vidas inocentes e tira selfie em um bar. O filme transita entre o passado e presente do personagem com flashbacks, tudo voltado para a criatividade sem limites do diretor. O que torna Aquaman diferente dos demais filmes do universo DC? Autoria. O ponta pé inicial foi dado em Mulher-Maravilha. Patty Jenkins abriu portas para a autoria em filme solo no

A solidão do mundo contemporâneo (Em Chamas)

O sol e a solidão. Ambos estão presentes na vida de Jong, Ben e Hae-mi. Jong é um jovem recém- formado em escrita criativa que nutri sentimentos conflitantes pela família. O pai precisa prestar contas com a justiça por agressão e a mãe o abandonou ainda pequeno. Hae-mi também é uma jovem que cativa todos ao seu redor com um jeito todo peculiar de ser. Já Ben sente o vazio imenso por ter tudo e ao mesmo tempo não ter nada. Quando Hae-mi entra na vida de Jong, a primeira metáfora é estabelecida no filme: o sol penetra na parede do quarto da jovem, assim como a troca de calor dos corpos no ato sexual de Jong e Hae-mi. Após voltar de uma viagem da África, a jovem conhece Ben e o triângulo amoroso está formado.  Em Chamas possui força e envolvimento do espectador pelas atuações que impulsionam a trama. O trio estabelece uma forte conexão com características e nuances que refletem a solidão dos protagonistas. Ah- In Yoo é o que possui mais tempo de tela e explora Jong de forma viscer

Entre a atração e o distanciamento (A Vida em Si)

A Vida em Si tem uma protagonista que permeia toda a narrativa e proporciona um sentimento duplo no espectador: ao mesmo tempo que a montagem o atrai consegue com a mesma proporção o distanciar da trama. O filme é dividido em cinco capítulos. Os três primeiros são os que causam o distanciamento do espectador. Os demais instigam uma atração inesperada no público. A atração é resultado da montagem mais suave e que estabelece um ritmo diferenciado ao filme nos últimos capítulos. Mesmo que o recurso narrativo seja utilizado durante todo o filme, o ritmo torna-se diferenciado da metade do segundo ato até o desfecho. A montagem torna-se protagonista pois alterna os arcos dos personagens e as subtramas dentro de uma trama maior. Abby e Will se conhecem na faculdade e o espectador acompanha o drama de Will durante dois capítulos. O personagem esteve internado por não suportar um trauma familiar e como sofre alguns devaneios, a montagem alterna os pensamentos do protagonista. Os devane

Uma frieza que gera envolvimento (Corpo e Alma)

Corpo e Alma é um filme distante e ao mesmo tempo envolvente. O representante da Hungria, no Oscar estrangeiro de 2018, causa indagações no espectador para, posteriormente, envolvê - lo pela sincronia das subtramas. O primeiro ato é uma proposta interessante sobre a atração entre um cervo e uma corça. Os animais se aproximam lentamente até se tocarem. A diretora Ildikó Enyedi enfatiza o primeiro plano nos cortes das carnes, cabeça e patas. Tudo para gerar frieza e estranhamento no espectador. Mas o estranhamento ganha outras dimensões ao longo da trama. O foco principal do roteiro são os sonhos e o casal de protagonistas. Endre, de poucos amigos, somente Jeno, tenta uma aproximação com a protagonista, por descobrir que eles possuem sonhos semelhantes. Aqui, o espectador começa a compreender o destaque para os animais. O cervo e a corça são os animais presentes nos sonhos dos protagonistas. À medida que a aproximação e o distanciamento acontecem na vida real, os animais praticam

Uma experiência perturbadora (A casa que Jack construiu)

Viver uma experiência. Qual delas o espectador terá é que vai estabelecer onde A Casa que Jack Construiu o instigou. Um filme perturbador e que testa o público alternando as mais diversas artes com uma violência sem limites. O filme estreiou em Cannes, sim, Von Trier foi "aceito" novamente no Festival. Para novamente provocar. Seria diferente? Se fosse, não seria Von Trier. O que não dá para negar é o fato de que a autoria do diretor choca e muitos gostam de passar por ela. Desde Os Idiotas, Lars instiga o espectador. Talvez o filme mais leve, o que não deixa de ser pesado, seja Melancolia. Mas nas entrelinhas da violência, o diretor possui uma maneira toda particular de brincar e estimular a reflexão do público sobre vários temas. A Casa que Jack Construiu aborda uma infinidade de questionamentos, mas deixando claro para o espectador que, além das artes mencionadas é preciso ter, no mínimo, estrutura emocional para embarcar em mais uma jornada do diretor. Ingresso e

O silêncio como resposta (Infiltrado na Klan)

Valeu a pena aguardar o hiato de Spike Lee? O começo de Infiltrado na Klan é o reflexo do mundo atual: Alec Baldwin ensaia um discurso enquanto imagens são sobrepostas em seu rosto. O ensaio é repleto pela tentativa de frases com uma intonação mais enfática e cores vibrantes. As imagens são significativas e tornam o discurso cada vez mais próximo do que vemos nas figuras de determinados presidenciáveis. O início é o retrato de Donald Trump. As tentativas proporcionam um tom cômico que permeiam toda a narrativa. Dessa forma, o espectador está inserido no filme com um viés político voltado para a comédia. Ainda no primeiro ato, a trama gira em torno dos policiais Ron e Flip. Ron é negro. O primeiro negro a trabalhar em uma delegacia local.  Flip é Branco. Branco e judeu. Cansado de entregar ficha de criminosos, ou dos negrinhos, como faz questão de enfatizar um colega de trabalho, Ron tem a ideia: o protagonista lê um anúncio sobre recrutamento de novos membros para o movimento da Ku

Muito barulho e pontas soltas (Animais Fantásticos: Os crimes de Grindelwald)

De Volta Para O Futuro 2, O Poderoso Chefão - Parte 2 e O Senhor Dos Anéis : As Duas Torres. O que esses filmes tem em comum? São continuações. Sim, são continuações de ótima qualidade que agradaram em cheio o espectador. Esperar por sequências tão aguardadas e não criar expectativas é complicado, mas a espera por eles valeu a pena. Qualidade foi a palavra primordial. Após a franquia Harry Potter , J. K. Rowling precisava manter a fidelidade do público que acompanhou o crescimento do bruxinho nas telas. Com o término dos filmes, novos surgiram com um universo diferenciado e também com a conexão de personagens antigos de Harry Potter. Animais Fantásticos e Onde Habitam estreiou dando início a uma nova franquia. A sequência chegou aos cinemas, mas será que trouxe a qualidade de Harry Potter para o espectador? Infelizmente, não. Animais Fantásticos: Os Crimes de Grindelwald elevou ainda mais a expectativa do público, pois tinha Johnny Depp como vilão. Apesar de todos os rumores e fa

Tudo é uma grande homenagem (O que fazemos nas sombras)

Viago, Vladislav, Deacon e Petyr. Quatro vampiros de idades distintas vivendo no mundo dos meros mortais. A proposta de O Que Fazemos Nas Sombras é apresentar ao espectador um pouco da vida dos vampiros com um documentário. Dois câmeras registram o cotidiano dos vampiros de forma realista. O ideal é transmitir com "naturalidade" para o espectador um pouco de como os quatro amigos, antes de serem vampiros, são basicamente no período noturno. Jemaine Clement e Taika Waititi são os donos do longa. A dupla está envolvida em basicamente todas as funções possíveis no filme. Os gêneros predominantes, o terror e a comédia, nos envolvem de tal maneira que o documentário passa rapidamente.  A dupla presta uma homenagem aos monstros da sétima arte. O foco são os vampiros, mas entre os atos outros monstros surgem no documentário. O roteiro propõe ao espectador saber mais sobre os quatro amigos. Os arcos dos personagens são bem desenvolvidos e todos possuem a devida importância na

A ausência de conexão (Bohemian Rhapsody)

A abertura com o nome do estúdio embalada por acordes específicos de uma música marcante para o Rock Mundial. Assim começa mais um filme da Fox. O espectador entra imediatamente no universo da banda que influenciou gerações. A trama conta um período específico da vida de Freddie Mercury. O início, quando o vocalista entra para a banda desconhecida substituindo o vocalista, até o ápice, no momento em que o vocalista descobre ser portador do vírus HIV.  Bohemian Rhapsody é um filme que o espectador aos poucos vai se acostumando com o que é proposto por Bryan Singer. O visual de Rami Malek causa impacto no primeiro momento, especialmente pela dentadura. A direção no auge do brega de Singer ressaltando ao máximo a persona do cantor. A fotografia que enfatiza ainda mais o brega do diretor com atores imersos por uma paleta de cores quentes. Sem deixar de mencionar o mais envolvente que irá atrair grande público para os cinemas: a música de Queen. Todos esses elementos causam estranh

Um grande passo na imersão do espectador (O Primeiro Homem)

Na primeira cena de O Primeiro Homem os elementos narrativos saltam aos olhos do espectador e provocam uma imersão imediata com a narrativa. Tudo para que o público sinta as emoções e frustrações de Neil Armstrong. A montagem de Tom Cross torna-se protagonista durante todo o filme e, na primeira cena, ela dita o ritmo constante da produção. Damien Chazelle também reforça o ritmo com uma autoria madura. A trama foca no protagonista Neil Armstrong e o fato histórico da chegada do homem à lua. Além de ressaltar as tentativas frustradas dentro da Apollo 11, o roteiro de Josh Singer reforça a humanidade do protagonista na personagem representada pela atriz Claire Foy. Janet é o elo que situa Neil na terra enquanto seu foco sempre está na lua. A alternância entre os arcos dos personagens também é reforçada novamente pela montagem. Por enfatizar ao menos três tentativas frustradas, conflitos familiares, aspectos econômicos e sociais, o roteiro torna o filme longo, mas em momento alg

Uma tocante inversão de papeis (Meu Anjo)

Marion  Cotillard é uma atriz extremamente versátil e firme em papeis dramáticos. O nome da atriz chama atenção em Meu Anjo, mas quem realmente rouba o filme é a pequena Ayline Aksoy- Etaix como Eli. Logo na primeira cena o espectador percebe a inversão de papeis entre mãe e filha. Marlène é a mãe, porém em todo o filme se porta como filha. É Eli que fica preocupada com a ausência da mãe que não retorna para casa, ela que canta para a mãe adormecer, ela que a acaricia e é ela que busca a todo momento a demonstração de carinho que a mãe não proporciona. Com a inversão total de papeis Marion propositalmente torna-se coadjuvante para que a pequena Ayline seja a protagonista da trama.  Ao propor no primeiro ato a inversão de papeis para envolver o espectador na trama, a diretora Vanessa Filho utiliza planos que reforçam o olhar distante e repleto de mágoa de Eli. Sempre buscando a presença física da atriz, a diretora ressalta o estudo de personagem da garotinha de oito anos que mes

Vida longa ao psicopata mascarado (Halloween)

Um clássico do terror está de volta, com a clara intenção de conquistar novos fãs. Jason, Freddy e Michael. Três figuras emblemáticas e marcantes no imaginário do espectador. No filme de 78, o público não sabia a motivação do pequeno Michael em matar a facadas a irmã adolescente. A ausência desse aspecto no roteiro de John Carpenter não prejudicou a trama, pois o que realmente importava no clássico era a atmosfera que surgia em cada cena. Quarenta anos após o lançamento, o diretor David Gordon Green propõe ao público um retorno ao passado e busca referências importantes no clássico para dar continuidade a trama de Laurie e Michael. Halloween tenta revisitar a atmosfera de 78 e consegue com grande êxito.  A trama foca na personagem de Jamie Lee Curtis que ficou traumatizada e obcecada pela segurança da pequena Karen. Aos oito anos, a pequena garotinha no lugar das bonecas "brincava" de atirar e lutar. A justificativa de Laurie era a segurança da filha. A mãe perde a gu

O envolvimento do espectador (Nasce uma Estrela)

Nasce Uma Estrela não é sobre a ascensão de uma jovem artista e a decadência de um cantor talentoso. Na realidade o filme é sobre a ascensão de Bradley Cooper que desmontra para o espectador o quanto pode ser excelente em outras áreas da sétima arte. Cooper é protagonista, produtor, diretor e roteirista. Logo na primeira cena o diretor enfatiza a personalidade de Jackson em uma câmera instável que tenta focar no protagonista. A câmera procura Jackson a todo instante quando o protagonista está sozinho no palco. Sozinho ele perde o chão em consequência do alcoolismo. Jackson encontra Ally em um bar. A voz da jovem o encanta de tal forma que o inevitável acontece: o encontro nos palcos e fora dele.   O roteiro de Coopler sabiamente explora a intimidade de Ally e Jackson de forma tão sensível que o espectador se vê inserido na trama. Após o primeiro ato o público está totalmente envolvido pelo casal de "protagonistas". Protagonistas entre aspas, muitas aspas, pois o