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Mostrando postagens de setembro 23, 2018

A vítima e as consequências do preconceito (Para Minha Gata Mieze)

Para Minha Gata Mieze é um curta que preza pelo roteiro, atuações e direção de arte. O roteiro de Wesley Gondim prende o espectador com várias reviravoltas. Algumas previsíveis. Manter a tensão durante todo o curta faz a previsibilidade ficar pequena perante os demais elementos narrativos. O fato do personagem de Sérgio Sartório ser homofóbico fica nítido nos primeiros minutos do curta. Mas a tensão crescente na figura do ator envolve o espectador deixando a previsibilidade em segundo plano. O mesmo acontece quando a sobremesa é servida. O roteiro consegue envolver o espectador durante todo o curta. A tensão é constante e necessária para o desfecho, esse sim, nada previsível.  A direção de arte empresta para o curta um aspecto sofisticado, mesmo que o diretor enfatize um plano detalhe em um objeto com vinho como referência clara para o sangue proposto nas demais cenas, os objetos cênicos proporcionam uma atmosfera tensa, mesmo com o plano detalhe previsível. As cores do apart

Uma união que nunca existiu (Eu, Minha Mãe e Wallace)

Eu, Minha Mãe E Wallace tem uma característica forte que permeia vários filmes em festivais: a naturalidade nas interpretações. A garotinha do curta é um exemplo interessante dessa naturalidade. Para os demais atores com mais experiência achar essa leveza na interpretação é uma questão complexa. Fabrício de Boliveira é o ator mais experiente do quarteto e encontrar o tom da naturalidade sem destoar das demais interpretações do curta não é tarefa fácil. Fabrício consegue transmitir naturalidade, mas em diversos momentos o espectador percebe nitidamente a distância nas interpretações. Não é um demérito do curta, pois Noemia Oliveira também consegue imprimir naturalidade com força para uma mulher que criou a filha sozinha. Já a pequena Sophia Rocha é ela mesma e funciona para compor o trio. Wallace esteve preso por onze anos. Ao retornar para casa se depara com a indiferença da mulher e com a distância da filha. A filha não sabe que ele é seu pai, ela acredita que Wallace seja um

A luta pelo amor paterno (10 Segundos para Vencer)

Duelo na vida. Duelo nos ringues. A trama de 10 Segundos Para Vencer gira em torno dos duelos pessoal e profissional de Éder Jofre. A cinebiografia do ex-pugilista ganha às telas com muito melodrama. Mas qual vida não é repleta de uma boa dose de drama? A família humilde de São Paulo passa por dificuldades quando um dos irmãos de Éder é diagnosticado com câncer no estômago. O protagonista deseja cursar faculdade, mas o boxe fala mais alto. O boxe está no sangue dos Jofre. Na trama, os elementos narrativos são positivos, mas o melodrama em determinados momentos torna-se um grande obstáculo para o espectador.    Passar por toda vida de Éder é resgatar o desejo de um garoto que queria um carrinho de presente até o pai de família que sempre esteve dividido entre o esporte e a ausência dentro de casa. O ritmo do longa é mais intenso nos primeiros minutos, porém, logo dá lugar ao ritmo mais cadenciado para que o espectador acompanhe os diversos momentos marcantes de Éder. O ritmo po

Um sorriso leve (Plano Controle)

Marcela deseja viajar pelo mundo. Um plano de celular "Slim" oferece viagens. A protagonista compra o teletransporte como se fosse a recarga de créditos para o celular. A tentação é grande quando a opção oferecida é a famosa cidade de Nova York. Pensando que iria para os Estados Unidos, a protagonista se frustra quando vai parar numa cidade brasileira no interior com o nome similar. O curta de Juliana Antunes poderia ter levado o candango de melhor roteiro. Não que a premissa seja inovadora, mas a temática ser por um plano controle de uma empresa de telefonia é, no mínimo, inusitada.  O roteiro assinado também pela diretora aborda a tentativa de conhecer diversos lugares em diferentes períodos. Ao ser teletransportada para uma cidade no interior de Minas, a protagonista conhece um jovem e logo fica próxima dele. O que os aproxima? Um tiquinho (diminutivo para um curta mineiro) de cachaça. Marcela toma a água ardente e joga sinuca comentando os acontecimentos político

Alcançar voos maiores (Guaxuma)

A diretora Nara Normande imprimi uma autoria marcante no Curta-Metragem de animação Guaxuma. A leveza do curta embala momentos reais e ficção pela belíssima animação e fotografias que exploram rituais de passagem presentes na amizade de Tayra e Nara. O curta é narrado por Nara com extrema leveza e sensibilidade. O espectador se envolve pela qualidade da animação e principalmente pelo laço forte de amizade entre a diretora e Tayra.  O roteiro permeia todas as fases marcantes da infância e adolescência das amigas. Matar aula para ficar na praia, superar medos, angústias, trocar confidências, rituais de passagens, modificação do corpo feminino, descoberta da sexualidade, traumas marcantes, fumar um baseado ao entardecer e a distância pela mudança de cidade sem deixar de resgatar lembranças dos momentos praianos. O roteiro aborda com equilíbrio passagens dramáticas com pitadas leves de humor. Tudo embalado por uma trilha sonora tocante e suave. Nos momentos mais dramáticos, a tril

Coisas de festival... (Conte isso àqueles que dizem que fomos derrotados)

A famosa frase de Glauber Rocha, "uma ideia na cabeça e uma câmera na mão", resume perfeitamente alguns curtas e longas que passaram no Festival de Brasília. O curta documentário, Conte Isso Àqueles Que Dizem Que Fomos Derrotados, teria tudo para se encaixar na frase marcante de Glauber. Teria. A câmera está na mão, mas as ideias não surgem em momento algum. O curta possui 25 minutos de duração e propõe ao espectador somente imagens de um movimento que reivindica moradia. Vemos famílias preparando refeições e jovens colocando bandeiras em grades.  O roteiro toma liberdade e deixa livre para que "os personagens" expressem da forma mais realista possível o dilema proposto. O medo de viaturas policiais e as conduções precárias de moradia podem ser refletidas nas falas que surgem soltas no curta. A premissa é interessante, mas o desenvolvimento do roteiro se perde entre os atos. As imagens foram cedidas pelos membros do movimento, por isso a qualidade não possu

Um vazio ecoando no espectador (Mesmo com tanta Agonia)

O curta, Mesmo Com Tanta Agonia, dirigido por Alice Andrade Drummond, foca a trama na protagonista Maria, um nome comum, para uma realidade igualmente comum, como todo o roteiro propõe ao longo dos vinte minutos de duração. Maria trabalha como chef em um restaurante. Ao preparar tudo para fechar o local e seguir para o segundo turno em casa, Maria sempre está com o olhar distante. O espectador percebe logo no primeiro take de Alice que a protagonista sofre por algo. A agonia do título é constantemente abafada pelo cotidiano ou pelo fato da mãe priorizar a alegria da filha. Ao longo do curta Alice reforça o redor de Maria principalmente voltado para a pequena filha e seu aniversário comemorado em uma limusine com as demais crianças que literalmente tomam conta da trama. Boa parte do curta é dedicado a festa da filha e das amigas no carro. Muito brilho e cores vibrantes embalam a festa. O curta saiu consagrado com o prêmio de melhor fotografia no festival. A trilha sonora propor

Intensas interpretações (Luna)

Luna é um longa que compete no 51° Festival de Brasília do Cinema Brasileiro com uma temática explorada em diversos filmes voltados para o universo adolescente: O bullying e as consequências psicológicas de quem sofre com os insultos constantes. A jovem Luana é querida pelos colegas e famosa pelos brigadeiros que vende no intervalo das aulas. Um vídeo íntimo da protagonista circula entre os alunos e a relação que era de aproximação com os demais transforma-se em agreção o verbal e isolamento. Os olhares de constante julgamento fazem Luna querer mudar de escola. A primeira cena já evidencia o conflito vivido pela protagonista e insere o espectador na trama. No decorrer dos atos, o público conhece um pouco mais sobre Luana e a vida corriqueira da jovem.  O roteiro de Cris Azzi e Odilon Esteves explora com naturalidade e metáforas o estudo de personagem de Luana. Uma jovem que gosta de dançar funk, descobrir aos poucos sua sexualidade, fazer brigadeiros e procurar algo para preen