Pular para o conteúdo principal

Um grande passo na imersão do espectador (O Primeiro Homem)


Na primeira cena de O Primeiro Homem os elementos narrativos saltam aos olhos do espectador e provocam uma imersão imediata com a narrativa. Tudo para que o público sinta as emoções e frustrações de Neil Armstrong. A montagem de Tom Cross torna-se protagonista durante todo o filme e, na primeira cena, ela dita o ritmo constante da produção. Damien Chazelle também reforça o ritmo com uma autoria madura.

A trama foca no protagonista Neil Armstrong e o fato histórico da chegada do homem à lua. Além de ressaltar as tentativas frustradas dentro da Apollo 11, o roteiro de Josh Singer reforça a humanidade do protagonista na personagem representada pela atriz Claire Foy. Janet é o elo que situa Neil na terra enquanto seu foco sempre está na lua. A alternância entre os arcos dos personagens também é reforçada novamente pela montagem. Por enfatizar ao menos três tentativas frustradas, conflitos familiares, aspectos econômicos e sociais, o roteiro torna o filme longo, mas em momento algum ele possui um ritmo lento.

As atuações de Claire Foy e Ryan Gosling movem a trama, porém existe uma diferença enorme nas emoções propostas por ambos. Ryan está mais introspectivo e quando o foco do ator são as tentativas frustradas, a introspecção dialoga perfeitamente com a construção proposta para o protagonista. Já quando a trama foca no núcleo familiar, quem se destaca é Claire com a firmeza nas atitudes de Janet. Quando Ryan contracena com Claire, o trabalho da atriz sobressai, pois a introspecção do protagonista fica pequena perto da força do olhar de Foy. Essa falta de equilíbrio acompanha o filme todo. Não chega a prejudicar a trama no contexto geral, mas o espectador sente a diferença e o peso das atuações.


Os elementos narrativos são protagonistas fundamentais em O Primeiro Homem. Edição de som, montagem, fotografia, direção e atuações. Juntos, eles proporcionam ritmo e significados únicos para a trama. Eles fazem com que o espectador tenha uma experiência impressionante nos cinemas. Com direito a uma bela valsa no espaço. Kubrick manda lembranças. 2001 é um marco na sétima arte, mas Damien utiliza todo o poder dos elementos narrativos para causar grande impacto no espectador. Não chega a ser uma marco como o clássico de Stanley, mas as premiações estão garantidas.

De tempos em tempos todos os elementos narrativos dialogam entre si e proporcionam para o público experiências únicas vivênciadas no local apropriado: a sala de cinema. Em O Primeiro Homem o espectador embarca na Apollo 11 e chega perto do que provavelmente o verdadeiro Neil Armstrong sentiu em 69. Tecnicamente, O Primeiro Homem é um grande passo na imersão do espectador.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

"Isso parece uma novela" (Bad Boys Para Sempre)

O começo de Bad Boys Para Sempre é basicamente um resgate do primeiro filme dirigido por Michael Bay. Mike e Marcus estão em um carrão em alta velocidade trocando ofensas e piadas enquanto percegue suspeitos. Além de todas as referências, a trama gira em torno de vingança, uma vingança mexicana. Sim, os vilões são mexicanos. Bandidos de um lado, policiais do outro e segredos revelados.  Will Smith sabe como lucrar na indústria, apesar de algumas escolhas equivocadas em projetos passados, Bad Boys Para Sempre parece uma aposta acertada do produtor. Desde o primeiro longa a química entre os atores é o que move a trama e na sequência da franquia não seria diferente. Martin e Will são a ação e o tom cômico da narrativa. Os opostos são explorados de forma intensa. Martin está mais contido com a chegada do neto e Will na intensidade de sempre. As personalidades se complementam apesar da aposentadoria momentânea de Marcus. Tudo ganha contornos diferenciados quando a família em to...

O Mito. A lenda. O Bicho-Papão. (John Wick : Um Novo Dia Para Matar)

Keanu Reeves foi um ator que carregava consigo o status de galã nos anos 80. Superado o estigma de ser mais um rosto bonito em Hollywood, o que não se pode negar é a versatilidade do astro ao escolher os personagens ao longo de décadas. Após a franquia Matrix, Keanu conquistou segurança ao poder escolher melhor os personagens que gostaria de interpretar. John Wick é o novo protagonista de uma franquia que tem tudo para dar certo. Um ator carismático que compreendeu a essência do homem solitário que tinha com companhia somente um cachorro e um carro. Após os eventos do primeiro filme, De Volta ao Jogo, Keanu retorna com John Wick repetindo todos os aspectos narrativos presentes no filme de 2014, mas com um exagero que faz a sequência ser tão interessante quanto o anterior. O protagonista volta aos trabalhos depois de ter a casa queimada. Sim, se as motivações para toda a ação presente no primeiro filme eram o cachorro e um carro, agora, o estopim é uma casa. Logo na primeir...

Não, não é uma crítica (Coringa : Delírio a Dois)

Ok, o título estampado no cartaz é: Coringa: delírio a dois. Podemos criar expectativas que a continuação é um filme do Coringa, correto? Na realidade, o que Todd Phillips nos apresenta e faz questão de reforçar a cada cena é que temos o Coringa, porém, o protagonista é Arthur Fleck, um homem quebrado físicamente e mentalmente. Temos também Lee Quinzel, que projeta no outro um sentido na vida e começa a manipular Arthur, para que Arlequina venha à tona. Podemos refletir sobre a manipulação da personagem, ela inclusive reforça:"Não assisti ao filme vinte vezes, talvez umas quatro ou cinco. Quem não mente?". Mas dizer que ela é culpada pelas atitudes de Arthur/ Coringa? A coerência existe no fato da personagem possuir um transtorno mental e, por isso, justifica o desejo e manipulação. Agora, qual a necessidade de criar uma pauta inexistente? O grande equívoco talvez seja do próprio estúdio em não vender o filme como musical e gerar expectativas equivocadas no espectador. É um f...