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Ninguém é Insubstituível (007 - Sem Tempo para Morrer)




Daniel Graig interpretou o agente 007 por quinze anos e durante os primeiros longas teve que suportar inúmeras críticas sobre como seria capaz de estar à altura dos demais antecessores. Daniel não provou somente que era excelente no papel de espião, como também abriu portas para uma nova vertente do protagonista. O que importa não é encaixar no perfil pré-estabelecido de James Bond, o primordial é ser um ótimo ator. Em Sem Tempo para Morrer, Graig se despede em grande estilo do protagonista que apresenta ao espectador um pouco do machismo característico do personagem, mas acrescenta camadas de humanidade para Bond. A trama resgata personagens de filmes anteriores e intensifica coadjuvantes para que essa veia imprescindível do agente venha à tona. Só de olhar para determinado personagem James sabe que precisa mudar. O protagonista tenta viver de uma forma pacífica na Jamaica, após a aposentadoria da MI6, mas a tranquilidade dura pouco quando o amigo Felix Leiter o procura para uma nova missão. O resgate de um grupo de cientistas envolve situações ainda mais perigosas trazendo uma bela e traumática lembrança do passado. 

O roteiro foca em duas vertentes específicas: a missão e a vida pessoal de James. Em alguns momentos o longa se estente justamente por ter que fechar o ciclo de coadjuvantes importantes e ao mesmo tempo desenvolver o lado humano de Bond. A segunda vertente atrai mais o espectador que observa a vulnerabilidade da masculinidade do protagonista. Está tudo lá, como bem destaca a personagem de Nomi indagando se todas as mulheres sentem atração por Bond. Um velho conhecido afirma que "quase sempre" acontece. Aqui, a atração possui uma vertente cômica com a personagem de Ana de Armas que claramente brinca ao dizer que quer somente que James tire à roupa para concluírem o trabalho. Não seria estranho afirmar que Paloma é uma personagem retirada da imaginação de Phoebe Waller-Bridge que também assina o roteiro. Acredito que a jovialidade presente em Nomi também pode ser atribuída a roteirista. Ao mesmo tempo em que o roteiro brinca com as dificuldades físicas de Bond, o surgimento de uma nova agente já prepara o espectador para algo diferenciado. É importante que o protagonista não evite o passado e encare-o de frente para seguir a diante. O grande equívoco é o desenvolvimento do vilão que não possui força o suficiente para se tornar uma ameaça. Apesar da ligação com uma personagem, Safin possui os velhos propósitos de sempre e não acresecenta inovação a despedida de Daniel. 


O fato do vilão não acrescentar muito a trama se resume pela presença de Rami Malek no papel. É nítido como a narrativa perde força quando o ator está em cena. Nem mesmo o fato da máscara trazer certa aura para o vilão acrescenta nas camadas de Safin. Não deixa de ser cômica a solução do vilão se livrar de certa persongem, a saída do roteiro casa perfeitamente com a falta de impacto da figura do vilão como um todo. Agora, no extremo oposto está Daniel Graig que empresta um equilíbrio intenso de força e sensibilidade para James. Não é à toa que aos poucos o ator imprimiu essa vertente diferenciada para o agente. A postura corporal é mantida, porém, o olhar de Graig diz muito sobre as nuances do protagonista. Outro destaque é a figura cativante de Ana de Armas como Paloma. Existe o estereótipo de mulher fatal presente na franquia, mas o humor da personagem intensifica ainda mais a imersão do espectador. 

A trilha marcante ganha uma roupagem moderna nas mãos de Hans Zimmer e proporciona ao longa uma atmosfera intensa acompanhando o protagonista principalmente nas cenas de ação. Já a escolha de de Billie Elish para compor o tema é voltada para uma vertente comercial, o que já aconteceu em longas anteriores da franquia. Além da escolha certeira de Zimmer para a trilha, outro acréscimo para a narrativa foi a direção de Cary Joji Fukunaga conhecido por trabalhos em séries. Existe a predominancia da grandiosidade tão marcante dos filmes de Bond e Cary não tem pressa em inserir o espectador em cada uma delas, seja em cenas mais tensas com o vilão (que deveria ser maior se não fosse por certo ator) ou nas mais ágeis. Quem teve oportunidade de assistir a primeira temporada de True Detective sabe que o diretor consegue criar uma atmosfera tensa ao explorar a humanidade dos personagens e com Daniel esse aspecto é elevado pelo trabalho de Cary. Sem Tempo para Morrer é um exemplar de que nínguem é insubstituível, sendo assim, o filme aos poucos trabalha o imaginário do espectador para uma despedida emotiva digna de quinze anos marcantes. 

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