Keanu Reeves foi um ator que carregava consigo o status de galã
nos anos 80. Superado o estigma de ser mais um rosto bonito em Hollywood, o que
não se pode negar é a versatilidade do astro ao escolher os personagens ao
longo de décadas. Após a franquia Matrix, Keanu conquistou segurança ao
poder escolher melhor os personagens que gostaria de interpretar. John Wick é o
novo protagonista de uma franquia que tem tudo para dar certo. Um ator
carismático que compreendeu a essência do homem solitário que tinha com
companhia somente um cachorro e um carro.
Após os eventos do primeiro filme, De Volta ao Jogo, Keanu retorna com John Wick repetindo todos os aspectos narrativos presentes no
filme de 2014, mas com um exagero que faz a sequência ser tão interessante
quanto o anterior. O protagonista volta aos trabalhos depois de ter a casa
queimada. Sim, se as motivações para toda a ação presente no primeiro filme eram
o cachorro e um carro, agora, o estopim é uma casa.
Logo na primeira cena, o roteiro entrega ao espectador
um aspecto importante que acompanha a trajetória do protagonista: sempre que
ele encontra com um coadjuvante, a aura lendária vem à tona. O tom cômico
gerado nas falas simples dos personagens é marca registrada da trama. No
primeiro ato, John busca o carro que gerou tantos conflitos no filme anterior e
deixa claro ao som do rastro de inúmeras balas que o inevitável irá
acontecer: a lenda está de volta.
Muitas referências do primeiro filme estão presentes na sequência. O espectador logo compreende o motivo do protagonista ser tão apegado ao carro. Na cena inicial, o público é fisgado pela adrenalina gerada em cortes rápidos na montagem para causar a sensação de ação contínua e frenética. John sempre resgata momentos de ternura com a esposa em flashback. O vídeo que o protagonista lembra da mulher é voltado para uma fotografia diferenciada do restante da trama com cores quentes. O predomínio de cores saturadas complementam a mensagem de ação presente no gênero.
O elenco de coadjuvantes enriquece a trama com destaque para Lance Reddick e Ian McShane. Charon como recepcionista do hotel em que o protagonista está hospedado é o ponto cômico do filme. Com uma interpretação sutil, o ator entrega um personagem ideal para a quebra fundamental no ritmo da narrativa. Já Wisnton é o elo de John com o restante da organização. A presença do ator é forte e proporciona aos diálogos uma riqueza que vai além do simples roteiro apresentado. Keanu Reeves é a alma da trama. Mesmo com uma interpretação mediana, o ator possui carisma suficiente para protagonizar a franquia. O vilão de Riccardo Scamarcio não tem a mesma força do primeiro vivido por Michael Nyqvist. A narrativa perde consideravelmente o ritmo com a presença de Santino D´Antonio. Destaque para a participação de Laurence Fishburne que não possui um arco bem desenvolvido para o personagem. Ele entra e sai como a mesma facilidade na trama, mas a presença é marcante o suficiente.
John Wick: Um Novo Dia Para Matar é um filme com um roteiro que peca em alguns aspectos por não desenvolver o arco dos personagens por completo, mas com atores competentes no elenco, as falas ganham importância e a trama cresce aos poucos. As cenas de ação são a motivação para a sequência e as coreografias enriquecem e envolvem o espectador. Chad Stahelski imprime mais ritmo ao filme e consegue manter a atmosfera do protagonista. O Mito, a lenda, o bicho-papão voltou melhor do que antes. Com mais tiros para uma provável continuação.
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