O mistério permeia toda a narrativa de Entre Facas e Segredos. Todos são suspeitos e no tempo apropriado o espectador conhece as motivações e arcos dos personagens. Na trama o patriarca aparece morto após sua festa de aniversário de 85 anos. No decorrer dos atos os parentes mostram as garras e ganância na disputa pela herança de Harlan Thrombley. Tudo é extremamente cordial até a chegada de Benoit Blanc, um detetive peculiar, com habilidades que surgem com o mero acaso. A sintonia nas ações dos personagens movem as pistas do tabuleiro neste jogo de xadrez onde cada um realiza uma jogada certeira para estar sempre a frente de Benoit. Christopher Plummer é um escritor famoso que decide modificar seu testamento deixando todos surpresos. Um anônimo contrata os serviços de Daniel Craig para investigar a morte do patriarca e a partir desse momento várias reviravoltas acontecem.
Aos poucos o roteiro trabalha somente detalhes específicos dos personagens fazendo com que todos sejam relevantes para a trama. Na metade do segundo ato a presença de um membro da família provoca uma reviravolta e faz a trama ganhar contornos inesperados envolvendo ainda mais o espectador. A direção de arte contribui de forma decisiva para que o filme ganhe uma atmosfera voltada para o suspense. Os cômodos, pinturas e estátuas dialogam com cada personagem, além de todos serem interrogados em uma cadeira repleta de facas ao fundo. Vale destacar também um objeto cênico importante: os olhos na sala do patriarca observam tudo e neste local alguns membros da família revelam segredos.
A atmosfera de suspense e comicidade no filme é ressaltada pela presença do elenco que atribui a cada personagem uma camada importante para caracterizar cada membro da família. Jamie Lee Curtis demonstra segurança perante os acontecimentos, até certo ponto. Michael Shannon transmite um ar suspeito e submisso ao pai, mas mostra as garras quando necessário para defender o patrimônio da família. Ana de Armas é a protagonista que move de forma intensa a trama. Ela transmite certa inocência e acanhamento principalmente nos momentos em que roteiro enfatiza a questão do preconceito e imigração. Mas o destaque fica por conta de Daniel Craig que possui um timing cômico seguro. Ana e Daniel receberam indicações merecidas em algumas premiações pelos respectivos personagens. Outro aspecto relevante no filme é a direção de Ryan Johnson que explora em momentos decisivos o zoon in e out. O recurso gera expectativa em cenas de extrema relevância. A pressa ao conduzir o terceiro ato choca com a atmosfera criada ao longo dos atos. Existe uma alternância no ritmo que prejudica o envolvimento do espectador no desfecho, porém, as reviravoltas seguram a trama no conjunto final. O mistério é estabelecido entre a comédia e o suspense gerando uma grata surpresa.
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