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Uma guerra que está longe de acabar (Um Estado de Liberdade)


O período era a Guerra Civil Americana e o fazendeiro Newton Knight foi convocado para lutar, mas vários questionamentos lhe inquietavam: Morrer com honra defendendo a Nação? Qual o objetivo da guerra? Quais eram as verdadeiras motivações? Após perder o sobrinho, Knight responde ao companheiro: "Ele não morreu com honra, ele simplesmente morreu." O protagonista leva o corpo do jovem para a mãe e a partir deste momento é considerado desertor. Determinado e ao mesmo tempo refugiado em um Pântano com escravos foragidos, o personagem torna-se líder de causas significativas: A independência do Estado de Jones, no Mississippi e a questão racial. 

A narrativa peca em alguns aspectos no roteiro por explorar subtramas desnecessárias que desviam o foco da trama principal. A montagem prejudica o ritmo do filme ao enfatizar a história de um parente distante de Knight. O mesmo acontece com a primeira esposa do personagem, interpretada por Keri Russel. O núcleo familiar é apresentado no primeiro ato somente para que o protagonista tenha contato com a escrava Rachel. A personagem retorna no começo do terceiro ato deixando a sensação de pontas soltas no roteiro. As subtramas mencionadas poderiam ser retiradas da narrativa para dar mais enfoque a acontecimentos relevantes no contexto proposto. 


Após passar metade da carreira tirando a camisa, Matthew McConaughey ganhou um Oscar de melhor ator ao interpretar o texano Ron Woodroof diagnosticado com Aids, em Clube de Compras Dallas. Após a premiação pode escolher protagonistas mais significativos ou coadjuvantes que cantam e batem no peito. O diretor Gary Ross consegue extrair do ator outro trabalho de destaque na carreira. De uma maneira toda peculiar, McConaughey imprime maneirismos expressivos para Newton Knight. Em uma única cena transmite doçura e intensidade ao perceber que sua futura mulher sofria nas mãos do "dono" todo tipo de violência. Se o protagonista é forte o suficiente para conseguir levar a trama, vale destacar também o trabalho de Mahershala Ali. Quando Moses entra em cena potencializa ainda mais a força da narrativa. Por mais que a história seja importante e retrate um período significativo americano, o protagonista é exaltado ao extremo em vários momentos deslocando os demais personagens. Podemos observar o exagero presente na fala de Rachel : "Você conseguiu até plantar no pântano!" Reforçando a ideia de que o marido fez até o impossível acontecer. 

Apesar de prolongar a trama, o longa possui méritos que vão além do elenco. A trilha sonora e fotografia são exploradas para auxiliar os momentos de dramaticidade vividos pelos personagens. Matthew tem suas ações embaladas por uma música suave e delicada que potencializa o crescimento do protagonista em cena. A paleta de cores é modificada quando Knight está em um ambiente externo, o verde escuro toma conta da tela. Ao encontrar Rachel, as cores são mais quentes com predominância para o laranja escuro, proporcionando a sensação de aconchego e segurança para a esposa. O filme perde ritmo quando assume o tom de documentário. A realidade é ressaltada com frases exaltando fatos significativos da história acompanhadas de fotos em preto e branco. 


Um Estado de Liberdade apresenta ao espectador a persona do protagonista e como ele modificou a história americana lutando e defendendo os direitos de cidadãos oprimidos por uma guerra sem sentido e pela intolerância racial. A luta de Newton Knight e Moses Whashigton não foi perdida, mas a guerra está longe de acabar porque o preconceito ainda persiste com uma força intensa na sociedade atual.


Comentários

malcosta disse…
Gostei da crítica. A mudança de enfoque depois do curso do Pablo é notória, e para melhor! :D
Paula Biasi disse…
Maurício, depois do curso a escrita ficou mais aprimorada. Tenho segurança em abordar os aspectos técnicos. Antes eu tinha a percepção das técnicas, mas não conseguia transpor para a escrita. É ótimo poder sair dos 20% presentes no filme que o Pablo mencionou no curso. Como é bom fazer considerações relevantes na narrativa ao longo do filme!
malcosta disse…
É verdade. os cursos dele mudaram toda a minha perspectiva.
Unknown disse…
Muito bom post excelente, amo o trabalho de Matthew McConaughey. Adoro ler livros, cada um é diferente na narrativa e nos personagens, é bom que cada vez mais diretores e atores se aventurem a realizar filmes baseados em livros. Adorei a história e sem dúvida é umo dos melhores Matthew McConaughey filmes, porque tem toda a essência do livro mais uma produção audiovisual incrível.

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