Pular para o conteúdo principal

Alcançar voos maiores (Guaxuma)


A diretora Nara Normande imprimi uma autoria marcante no Curta-Metragem de animação Guaxuma. A leveza do curta embala momentos reais e ficção pela belíssima animação e fotografias que exploram rituais de passagem presentes na amizade de Tayra e Nara. O curta é narrado por Nara com extrema leveza e sensibilidade. O espectador se envolve pela qualidade da animação e principalmente pelo laço forte de amizade entre a diretora e Tayra. 

O roteiro permeia todas as fases marcantes da infância e adolescência das amigas. Matar aula para ficar na praia, superar medos, angústias, trocar confidências, rituais de passagens, modificação do corpo feminino, descoberta da sexualidade, traumas marcantes, fumar um baseado ao entardecer e a distância pela mudança de cidade sem deixar de resgatar lembranças dos momentos praianos. O roteiro aborda com equilíbrio passagens dramáticas com pitadas leves de humor. Tudo embalado por uma trilha sonora tocante e suave. Nos momentos mais dramáticos, a trilha ganha acordes melancólicos. 

A qualidade da animação salta aos olhos do espectador em diversos momentos. As fotografias reforçam a real presente na animação. Guaxuma tem como pano de fundo o cotidiano da vida praiana em Pernambuco. Um dos momentos mais belos da animação é a homenagem que a diretora faz para a amiga com vários origamis voando no céu. A cena é um belo desfecho seguido de um nó na garganta do espectador. Ganhador de três candangos, Guaxuma pode alcançar voos maiores pelo mundo.



*Curta exibido na Mostra Competitiva do 51°Festival de Brasília do Cinema Brasileiro
* Prêmios: Direção, Direção de Arte e Trilha Sonora

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

E o atendente da locadora?

Tenho notado algo diferenciado na forma como consumimos algum tipo de arte. Somos reflexo do nosso tempo? Acredito que sim. As mudanças não surgem justamente da inquietação em questionar algo que nos provoca? A resposta? Tenho minhas dúvidas. Nunca imaginei que poderia assistir e consumir algum produto em uma velocidade que não fosse a concebida pelo autor. A famosa relíquia dos tempos primórdios, a fita VHS, também nos aproximava de um futuro distópico, pelo menos eu tinha a sensação de uma certa distopia. Você alugava um filme e depois de assistir por completo, a opção de retornar para a cena que mais gostava era viável. E a frustração de ter voltado demais? E de não achar o ponto exato? E o receio de estragar a fita e ter que pagar outra para o dono da locadora? Achar a cena certinha era uma conquista e tanto. E o tempo...bom, o tempo passou e chegamos ao DVD. Melhoras significativas: som, imagem e, pasmem, eu poderia escolher a cena que mais gostava, ou adiantar as que não apreciav...

Não, não é uma crítica (Coringa : Delírio a Dois)

Ok, o título estampado no cartaz é: Coringa: delírio a dois. Podemos criar expectativas que a continuação é um filme do Coringa, correto? Na realidade, o que Todd Phillips nos apresenta e faz questão de reforçar a cada cena é que temos o Coringa, porém, o protagonista é Arthur Fleck, um homem quebrado físicamente e mentalmente. Temos também Lee Quinzel, que projeta no outro um sentido na vida e começa a manipular Arthur, para que Arlequina venha à tona. Podemos refletir sobre a manipulação da personagem, ela inclusive reforça:"Não assisti ao filme vinte vezes, talvez umas quatro ou cinco. Quem não mente?". Mas dizer que ela é culpada pelas atitudes de Arthur/ Coringa? A coerência existe no fato da personagem possuir um transtorno mental e, por isso, justifica o desejo e manipulação. Agora, qual a necessidade de criar uma pauta inexistente? O grande equívoco talvez seja do próprio estúdio em não vender o filme como musical e gerar expectativas equivocadas no espectador. É um f...

Uma provável franquia (Histórias Assustadoras para Contar no Escuro)

Um grupo de amigos que reforça todos os estereótipos possíveis, a curiosidade que destaca os laços da amizade, uma lenda sobre uma casa assombrada e desaparecimentos constantes. Histórias Assustadoras para Contar no Escuro apresenta uma trama previsível repleta de referências à filmes  e séries lançadas recentemente como It: A Coisa e Stranger Things. É a velha cartilha de Hollywood: se deu bilheteria em um estúdio à tendência é repetir a dose. Apesar dos elementos e trama repetitivos, sempre vale a pena assistir novos atores surgindo e diretores principiantes com vontade de mostrar trabalho. É o que acontece neste filme produzido e roteirizado por Guilhermo Del Toro . Nada de muito inovador no gênero, o jumpscare reina, porém com o olhar criativo da direção e uma nova geração afiada, o filme ganha o envolvimento do espectador.  O roteiro gira em torno de um grupo de amigos excluídos que finalmente tomam coragem para enfrentarem os garotos mais valentes. Assustados, o ...