Luna é um longa que compete no 51° Festival de Brasília do Cinema Brasileiro com uma temática explorada em diversos filmes voltados para o universo adolescente: O bullying e as consequências psicológicas de quem sofre com os insultos constantes. A jovem Luana é querida pelos colegas e famosa pelos brigadeiros que vende no intervalo das aulas. Um vídeo íntimo da protagonista circula entre os alunos e a relação que era de aproximação com os demais transforma-se em agreção o verbal e isolamento. Os olhares de constante julgamento fazem Luna querer mudar de escola. A primeira cena já evidencia o conflito vivido pela protagonista e insere o espectador na trama. No decorrer dos atos, o público conhece um pouco mais sobre Luana e a vida corriqueira da jovem.
O roteiro de Cris Azzi e Odilon Esteves explora com naturalidade e metáforas o estudo de personagem de Luana. Uma jovem que gosta de dançar funk, descobrir aos poucos sua sexualidade, fazer brigadeiros e procurar algo para preencher o tédio. No primeiro ato, a câmera acompanha o cotidiano da jovem entre a escola e a relação afetuosa com a mãe. Cris Azzi que também dirige o longo opta por evidenciar o cotidiano de forma simples, mas quando a protagonista se aproxima de Emília um outro viés é explorado e a câmera ganha um peso maior. A vida da protagonista ganha cores intensas. O deslumbramento com o novo faz Luana querer explorar sua sexualidade e ter experiências intensas com a nova amiga. O roteiro aborda de forma sensível mesclando inocência e intensidade os momentos de transição e descobertas sexuais. No terceiro ato, Luana precisa lidar com o vazamento do vídeo e os insultos na escola. O roteiro reforça o lado metafórico para destacar momentos mais tensos e dramáticos. O equilíbrio entre o relacionamento com a mãe e o desespero de não saber como lidar com a situação é retratado pelo silêncio que toma a tela. O desfecho em uma cena pós-créditos reforça um posicionamento mais empoderado com relação ao corpo feminino e o apoio das colegas com a personagem. Um desfecho impactante e extremamente forte visualmente.
A câmera de Cris Azzi alterna momentos do cotidiano e metafórico com equilíbrio entre a simplicidade e a intensidade. O diretor explora ao máximo a interpretação das atrizes com várias cenas em primeiro plano. A aproximação do primeiro plano intensifica o envolvimento com o espectador. Conhecemos cada vez mais sobre a protagonista e seu dilema. Outro aspecto interessante que reforça o envolvimento com o espectador é a sugestão de que algo vai acontecer e revelar o que de fato estava no vídeo da protagonista. Saber que aconteceu algo, mas não saber de fato do que se trata faz a câmera de Azzi envolver mais o espectador durante todo o filme. A direção de fotografia trabalha constantemente com cores vibrantes sempre que a protagonista deseja explorar novos caminhos e desejos reprimidos. A fotografia reforça também o contraste de classes sociais. A casa de Emília é sofisticada, mas extremamente fria. Já a casa de Luna é repleta de cortes quentes.
O longa não teria a força entre os atos se não fosse pela entrega das protagonistas. Eduarda Fernandes e Ana Clara Ligeiro proporcionam camadas diferenciadas para as jovens. Eduarda explora a timidez e desenvoltura com igual intensidade. Nos momentos dramáticos a atriz consegue impulsionar a trama sem exageros, somente no olhar distante e perdido. Ana Clara está mais solta com Emília. O afastamento de Luna afeta a personagem e o espectador compreende o sofrimento da amiga. As atrizes se entregam de maneira verdadeira para o primeiro trabalho. Cada uma com conflitos internos marcantes e explorados no devido momento. O ritmo também auxilia na intensidade das personagens. Não existe pressa para que Luna e Emília troquem confidências e descobertas.
Cris Azzi propõe em Luna leveza e intensidade com equilíbrio para o envolvimento completo do espectador na trama. A sugestão de que algo pode acontecer nos atos reforça esse envolvimento. Luna aborda uma temática explorada em diversos filmes voltados para o universo adolescente, mas que se distancia dos demais pelas metáforas. Um filme que ressalta descobertas e sexualidade de forma tocante em intensas interpretações.
*Longa exibido na Mostra Competitiva do 51° Festival de Brasília do Cinema Brasileiro
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