Pular para o conteúdo principal

Um vazio ecoando no espectador (Mesmo com tanta Agonia)


O curta, Mesmo Com Tanta Agonia, dirigido por Alice Andrade Drummond, foca a trama na protagonista Maria, um nome comum, para uma realidade igualmente comum, como todo o roteiro propõe ao longo dos vinte minutos de duração. Maria trabalha como chef em um restaurante. Ao preparar tudo para fechar o local e seguir para o segundo turno em casa, Maria sempre está com o olhar distante. O espectador percebe logo no primeiro take de Alice que a protagonista sofre por algo. A agonia do título é constantemente abafada pelo cotidiano ou pelo fato da mãe priorizar a alegria da filha.

Ao longo do curta Alice reforça o redor de Maria principalmente voltado para a pequena filha e seu aniversário comemorado em uma limusine com as demais crianças que literalmente tomam conta da trama. Boa parte do curta é dedicado a festa da filha e das amigas no carro. Muito brilho e cores vibrantes embalam a festa. O curta saiu consagrado com o prêmio de melhor fotografia no festival. A trilha sonora proporciona uma atmosfera mais descontraída e desloca o sofrimento de Maria. O intenso trabalho de Maria Leite, que ganhou o prêmio de melhor atriz, mescla perfeitamente o semblante de preocupação, mas ao mesmo tempo a necessidade de disfarçar no ambiente de trabalho e perto da filha o sofrimento que Maria sente. A atriz empresta para Maria um olhar vazio e distante, mesmo que o espectador não saiba o que a aflige tanto, a interpretação da atriz deixa de lado o sofrimento para que a filha tenha momentos de alegria. A atriz compreende a dualidades da protagonista e o curta cresce com a interpretação de Maria Leite.

É compreensível que a diretora aborde no decorrer do curta o silêncio da protagonista, mas aos poucos o espectador sente o isolamento de Maria como sinônimo de distanciamento da trama. O foco é em Maria, mas não sabermos quase nada da protagonista prejudica o curta. Deixar o sofrimento da protagonista em aberto é uma opção que dialoga com o silêncio proposto, mas o arco de Maria fica inacabado pela falta de desenvolvimento no todo. Saber um pouco mais da agonia, mesmo embalada pelo silêncio envolveria o espectador, não somente pela interpretação de Maria Leite, mas também pelo roteiro. O fato do roteiro não explorar com um pouco mais da profundidade a protagonista deixou um vazio ecoando dentro do espectador.


* Curta exibido na Mostra Competitiva do 51° Festival de Brasília do Cinema Brasileiro 
* Prêmios: melhor fotografia e atriz 

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Entretenimento de qualidade (Homem-Aranha no Aranhaverso)

Miles Morales é aquele adolescente típico que ao grafitar com o tio em um local abandonado é picado por uma aranha diferenciada. Após a picada, a vida do protagonista modifica completamente. O garoto precisa lidar com os novos poderes e outros que surgem no decorrer da animação. Tudo estava correndo tranquilamente na vida de Miles, somente a falta de diálogo com o pai o incomoda, muito pelo fato do pai querer que ele estude no melhor colégio e tudo que o protagonista deseja é estar imerso no bairro do Brookling. Um dos grandes destaques da animação e que cativa o espectador imediatamente é a cultura em que o personagem está inserido. A trilha sonora o acompanha constantemente, além de auxiliar no ritmo da animação. O primeiro ato é voltado para a introdução do protagonista no cotidiano escolar. Tudo no devido tempo e momentos certos para que o público sinta envolvimento com o novo Homem-Aranha. Além de Morales, outros heróis surgem para o ajudar a combater vilões que dificultam s

Um pouquinho de Malick (Oppenheimer)

Um dos filmes mais intrigantes que assisti na adolescência foi Amnésia, do Nolan. Lembro que escolhi em uma promoção de "leve cinco dvds e preencha a sua semana". Meus dias foram acompanhados de Kubrick, Vinterberg e Nolan. Amnésia me deixou impactada e ali  percebi um traço importante na filmografia do diretor: o caos estético. Um caos preciso que você teria que rever para tentar compreender a narrativa como um todo. Foi o que fiz e  parece que entendi o estudo de personagem proposto por Nolan.  Décadas após o meu primeiro contato, sempre que o diretor apresenta um projeto, me recordo da época boa em que minhas preocupações eram fórmulas de física e os devaneios dos filmes. Pois chegou o momento de Oppenheimer, a cinebiografia do físico que carregou o peso de comandar a equipe do Projeto Manhattan,  criar a bomba atômica e "acabar" com a Segunda Guerra Mundial. A Guerra Fria já havia começado entre Estados Unidos e a Alemanha, no quesito construção da bomba, a ten

Rambo deseja cavalgar sem destino (Rambo: Até o Fim)

Sylvester Stallone ainda é o tipo de ator em Hollywood que leva o público aos cinemas. Os tempos são outros e os serviços de streaming fazem o espectador pensar duas vezes antes de sair de casa para ver determinado filme. Mas com Stallone existe um fator além da força em torno do nome e que atualmente move a indústria: a nostalgia. Rambo carregava consigo traumas da Guerra do Vietnã e foi um sucesso de bilheteria. Os filmes de ação tomaram conta dos cinemas e consagraram de vez o ator no gênero. Quatro décadas após a estreia do primeiro filme, Stallone resgata o personagem em Rambo: Até o Fim. Na trama Rambo vive uma vida pacata no Arizona. Domar cavalos e auxiliar no trabalho da policial local é o que mantém Rambo longe de certos traumas do passado. Apesar de tomar remédios contralodos, a vida beira a rotina. O roteiro de Stallone prioriza o arco de Gabriela, uma jovem mexicana que foi abandona pelo pai e que vê no protagonista uma figura paterna. No momento em que Gabriela d