Pular para o conteúdo principal

A vítima e as consequências do preconceito (Para Minha Gata Mieze)



Para Minha Gata Mieze é um curta que preza pelo roteiro, atuações e direção de arte. O roteiro de Wesley Gondim prende o espectador com várias reviravoltas. Algumas previsíveis. Manter a tensão durante todo o curta faz a previsibilidade ficar pequena perante os demais elementos narrativos. O fato do personagem de Sérgio Sartório ser homofóbico fica nítido nos primeiros minutos do curta. Mas a tensão crescente na figura do ator envolve o espectador deixando a previsibilidade em segundo plano. O mesmo acontece quando a sobremesa é servida. O roteiro consegue envolver o espectador durante todo o curta. A tensão é constante e necessária para o desfecho, esse sim, nada previsível. 

A direção de arte empresta para o curta um aspecto sofisticado, mesmo que o diretor enfatize um plano detalhe em um objeto com vinho como referência clara para o sangue proposto nas demais cenas, os objetos cênicos proporcionam uma atmosfera tensa, mesmo com o plano detalhe previsível. As cores do apartamento são frias com predominância para o cinza. Frieza por todos os cantos e o aspecto simétrico interessante em vários objetos transmite para o espectador um pouco da personalidade do trio. 

As atuações são a chave em Para Minha Gata Mieze.  O diretor capta com intensidade e frieza as atuações do trio. A sugestão de que algo vai acontecer a qualquer instante envolve o espectador. Toda a tensão é proposta no olhar e no jogo da mise-en-scène, em especial, na cena do jantar. As reviravoltas também são sentidas pelo espectador graças às camadas propostas pelo trio. Para Minha Gata Mieze é um curta que preza pela sofisticação e tensão, mas o que realmente salta aos olhos é a mensagem de homofobia e as consequências de quem é vítima do preconceito.



*Curta exibido na Mostra Brasília do 51° Festival de Brasília do Cinema Brasileiro 
* Prêmio: Melhor Roteiro

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Entretenimento de qualidade (Homem-Aranha no Aranhaverso)

Miles Morales é aquele adolescente típico que ao grafitar com o tio em um local abandonado é picado por uma aranha diferenciada. Após a picada, a vida do protagonista modifica completamente. O garoto precisa lidar com os novos poderes e outros que surgem no decorrer da animação. Tudo estava correndo tranquilamente na vida de Miles, somente a falta de diálogo com o pai o incomoda, muito pelo fato do pai querer que ele estude no melhor colégio e tudo que o protagonista deseja é estar imerso no bairro do Brookling. Um dos grandes destaques da animação e que cativa o espectador imediatamente é a cultura em que o personagem está inserido. A trilha sonora o acompanha constantemente, além de auxiliar no ritmo da animação. O primeiro ato é voltado para a introdução do protagonista no cotidiano escolar. Tudo no devido tempo e momentos certos para que o público sinta envolvimento com o novo Homem-Aranha. Além de Morales, outros heróis surgem para o ajudar a combater vilões que dificultam s

Um pouquinho de Malick (Oppenheimer)

Um dos filmes mais intrigantes que assisti na adolescência foi Amnésia, do Nolan. Lembro que escolhi em uma promoção de "leve cinco dvds e preencha a sua semana". Meus dias foram acompanhados de Kubrick, Vinterberg e Nolan. Amnésia me deixou impactada e ali  percebi um traço importante na filmografia do diretor: o caos estético. Um caos preciso que você teria que rever para tentar compreender a narrativa como um todo. Foi o que fiz e  parece que entendi o estudo de personagem proposto por Nolan.  Décadas após o meu primeiro contato, sempre que o diretor apresenta um projeto, me recordo da época boa em que minhas preocupações eram fórmulas de física e os devaneios dos filmes. Pois chegou o momento de Oppenheimer, a cinebiografia do físico que carregou o peso de comandar a equipe do Projeto Manhattan,  criar a bomba atômica e "acabar" com a Segunda Guerra Mundial. A Guerra Fria já havia começado entre Estados Unidos e a Alemanha, no quesito construção da bomba, a ten

Rambo deseja cavalgar sem destino (Rambo: Até o Fim)

Sylvester Stallone ainda é o tipo de ator em Hollywood que leva o público aos cinemas. Os tempos são outros e os serviços de streaming fazem o espectador pensar duas vezes antes de sair de casa para ver determinado filme. Mas com Stallone existe um fator além da força em torno do nome e que atualmente move a indústria: a nostalgia. Rambo carregava consigo traumas da Guerra do Vietnã e foi um sucesso de bilheteria. Os filmes de ação tomaram conta dos cinemas e consagraram de vez o ator no gênero. Quatro décadas após a estreia do primeiro filme, Stallone resgata o personagem em Rambo: Até o Fim. Na trama Rambo vive uma vida pacata no Arizona. Domar cavalos e auxiliar no trabalho da policial local é o que mantém Rambo longe de certos traumas do passado. Apesar de tomar remédios contralodos, a vida beira a rotina. O roteiro de Stallone prioriza o arco de Gabriela, uma jovem mexicana que foi abandona pelo pai e que vê no protagonista uma figura paterna. No momento em que Gabriela d