Barbie, de Greta Gerwig, possui uma temática feminina? Sim, no primeiro ato a infância de muitas mulheres que brincavam com acessórios, casas, piscinas e bonecas ganham o devido destaque. O acerto da diretora é dar vida à Barbielândia nos mínimos detalhes e, consequentemente, estabelecer uma identificação direta com o público-alvo. O roteiro da dupla também visa os lucros da Mattel e apresenta os mais variados tipos de bonecas/ coadjuvantes, assim, nos faz reviver momentos de pura nostalgia.
O filme começa a pecar no humor exagerado, quando a protagonista fala com todos e não consegue parar. Aqui, o inevitável aconteceu: enquanto a nostalgia me aproximava, o humor afastava. Bom, como já tinha em mente que boa parte do longa seria um obstáculo para mim, outros aspectos poderiam me envolver na busca da boneca em compreender o quanto é difícil ser humano. Na trama, após alguns devaneios, Barbie procura,"o oráculo", uma referência mais do que direta à Matrix, um marco da cultura pop. Aliás, se hoje, o rosa está em tudo e em todo lugar ao mesmo tempo, em 1999, óculos escuros, casaco preto e música eletrônica reinavam. A cena é ótima e ao hesitar por um breve momento, Barbie escolhe o mundo real. Após a cena, logo pensei:" Bom, aqui o filme vai me ganhar". Sim e Não. Mais uma vez o roteiro peca nos excessos. O choque com o mundo real é criativo e faz a boneca realmente sentir fisicamente o que é ser mulher. Algumas cenas que a protagonista reclama que não consegue parar de chorar reforçam a sutileza ao explorar outro viés do humor. Outra inquietação que causa desconforto: Greta e Noan abraçam vários núcleos, como o do personagem de Will Ferrell, CEO da Mattel. Todo o núcleo da empresa faz a narrativa perder ritmo, o que ressalta a falta de espaço para desenvolver com profundidade a personagem de America Ferrera. Repetir flashbacks não é a melhor opção para resumir todo o arco dramático e conexão da personagem com a boneca. Mas como o filme é da Barbie, os roteiristas precisavam desenvolver um núcleo para a empresa.
Um ponto positivo são os protagonistas. Margot Robbie teve que lidar no começo da carreira com o estereótipo da loira padrão que só teria a beleza para oferecer. E o filme brinca com o fato. Mais um ponto para o humor sutil. A boneca estereotipada não preza pela inteligência, mas aos poucos descobre que não precisa seguir um padrão. A atriz consegue alcançar o meio termo entre os dois mundos.
Ryan Gosling abraça o personagem e faz o que quer com o estereótipo de ser uma extensão da Barbie. O terceiro ato é claramente masculino e Ryan toma o desfecho para si. O musical, "I'm Just Ken",com todos do núcleo masculino é certeiro no humor. E não é que também, ao buscar a sua identidade, Ken descobre que pode chorar? Sim, homem chora. O filme acerta ao transmitir mensagens apostando no viés sutil e, como Ryan sinaliza na imagem acima, Barbie é o reflexo necessário do seu tempo e está tudo bem.
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