O que Steven Spielberg apresenta ao público é um musical que vai além da homenagem, o diretor também entrega o musical digno de um clássico moderno. As coreografias pulsam energia na tela e envolvem definitivamente o espectador. O diretor enquadra Maria e Tony em grades para simbolizar o amor proibido da dupla e reforma o close em momentos melodramáticos. Por falar em melodrama, Spielberg adora o exagero e no terceiro ato o diretor pesa a mão com acontecimentos drásticos na narrativa. A quebra de ritmo é sentida e infelizmente a autoria distancia o espectador dos eventos finais. Outro ponto positivo é a fotografia com cores vibrantes que casam perfeitamente com o ritmo apresentado em boa parte da narrativa. O elemento narrativo é responsável por fazer a magia do musical acontecer na tela.
Os atores também proporcionam intensidade ao musical, porém a escolha para o casal de protagonistas não alcança a química necessária para que o espectador torça pelo amor dos dois. Ansel Elgort possui uma aura próxima dos jovens atores da década de 1960, o que nos remete ao filme original. Já Rachel Zegler possui um timbre vocal que entrega doçura e potência. Porém, como casal, a narrativa perde muito com o envolvimento dos atores. Como torcer pelo casal se a química entre eles não funciona? Agora, o oposto é sentido com Anita e Bernado. Ariana DeBose está encantadora e imprime energia para a coadjuvante que uma indicação ao Oscar não seria surpresa. É incrível como a atmosfera da narrativa modifica com a presença da atriz. Algumas falas foram adaptadas de forma significativa visando o empoderamento de Anita. Precisamos falar da presença de Rita Moreno, que apresenta uma personagem apaziguadora entre as gangues e mentora de Tony. A atriz foi Anita na primeira versão e ganhou um Oscar pela atuação. Como Valentina, a atriz intensifica o olhar terno e melancólico por saber que o final dos jovens pode ser trágico.
Com décadas dedicadas ao ofício, Steven Spielberg prova que ainda pode e entrega o que muitos espectadores desejam ao mergulhar em uma narrativa: a magia de que tudo é real. Ele fez com Tubarão, E.T., Jurassic Park e com West Side Story. O espectador acredita na vivacidade de Anita, na dedicação de Valentina, na falta de opções de Riff, na necessidade de pertencimento de Anybodys, não muito no amor de Maria e Tony (Spielberg não pode atuar por eles) e, principalmente, o espectador é transportado para a época do auge dos musicais de Hollywood. Spielberg faz a magia do cinema acontecer como poucos.
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