Algumas pessoas que me acompanham há algum tempo sabem do meu
fascínio pela sétima arte. Minha relação com o cinema e com esse mundo paralelo
iniciou-se aos oito anos de idade quando tive o prazer e o sofrimento de ver
pela primeira vez uma criatura que eu acreditava piamente que existia. Na
época, eu não sabia ao certo, mas algo já me atraia em relação ao universo
cinematográfico. A obra, neste caso especifico, me remete aos mais primitivos e
puros sentimentos de criança. Graças ao diretor Steven Spielberg tive acesso ao
filme E.T. - O Extraterrestre.
No princípio fiquei com um pouco de medo e receio, por um instante
quase mudei o canal, ainda bem que insisti e continuei vendo aquele filme que
tinha um pouco de suspense e que não despertou meu interesse no primeiro
momento, e sim, muito medo. Posteriormente, o filme me envolvia a cada cena, de
uma maneira que só hoje, depois de três décadas, eu afirmo taxativamente que
este envolvimento já era a tão famosa magia que o cinema nos proporciona. A
medida que Eliot e aquele ser feio estreitavam seus laços de amizade, a minha
conexão era simultânea, a partir da primeira cena e o contato de ambos, eu me
coloquei imediatamente no lugar daquele garotinho.
Todo o desenrolar da trama passava pelos meus olhos e eu não
conseguia nem piscar em frente à televisão, tamanha era minha fascinação por
aquele ser que me parecia tão real. Me questionava: "Será mesmo que tudo
isso está acontecendo? E indagava minha mãe: " Mãe, você está vendo tudo
isso também?". Depois de uma hora vendo toda a magia do cinema acontecendo
e conexão cada vez mais forte de Eliot com o E.T. percebia que estava em
outro universo, nada ao meu redor existia, somente a relação dos dois e a
tentativa desesperada do garotinho em salvar seu novo amigo.
Meu sofrimento só aumentava quando eu realmente sentia todas as
sensações e desespero da criança. No momento em que o E.T. quase morreu ( um
spolier com mais de três décadas), eu virei para minha mãe e falei, como se ela
pudesse fazer algo: " Faz alguma coisa mãe, ele não pode morrer!".
Depois de chorar copiosamente e me ver tão envolvida com aquele universo, no
auge dos meus oito anos, já tinha certeza que minha relação com a sétima arte
era algo mais do que significativo.
Tudo o que senti vendo um filme tão mágico me fez refletir como
enxergo o cinema durante este tempo . Depois que "nosso" amigo foi
embora para seu planeta de origem, um vazio tomou conta de mim. Chorei por
semanas, minha mãe já não sabia mais o que fazer. Esse vazio é praticamente um
ritual que acontece todas às vezes que as luzes acendem e a tela se apaga.
Voltamos para a vida real, mas com a sensação de que podemos reviver tudo
novamente em uma outra sessão.
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