O grupo político dos Panteras Negras é o ponto chave para o desenvolvimento da trama de Judas e o Messias Negro. Na década de 1960, Fred Hampton, liderava o movimento que chamou a atenção de William O' Neil. O "protagonista" (às aspas serão explicadas mais adiante na crítica) começa a participar de reuniões para estabelecer um elo de confiança no grupo. Logo no começo da trama William é preso e o agente do FBI, Roy Mitchell, faz uma proposta irrecusável: o protagonista precisa obter informações, em troca, não será preso. É neste momento que começa a tensão e a ligação entre os conflitos internos dos personagens. William mantém uma aura de superioridade em diversos momentos, porém Roy recorda que o trato pode ser quebrado a qualquer instante. Ambos desejam os benefícios do acordo. De um lado, Roy almeja ser reconhecido pelas informações obtidas. De outro, William não quer ser preso. Mas será que vale a pena?
O roteiro explora o estudo de personagem voltado para o trabalho de Lakeith Stanfield. O ator apresenta camadas e um postura corporal que marcam a presença de William em cena. Lakeith recebeu uma indicação ao Oscar de melhor ator coadjuvante, aqui, cabe a explicação para às aspas referente ao parágrafo anterior: fica nítido no decorrer dos atos que Lakeith é o protagonista, então qual o motivo da indicação em outra categoria? Enfim, o trabalho do ator como PROTAGONISTA é digno de reconhecimento. À todo momento o personagem intensifica o olhar de tensão e o corpo curvado quando está infiltrado no movimento. A postura é totalmente diferenciada quando negocia às informações com Roy. Vale destacar também o conflito interno do personagem ao trair o movimento. Quando o ator está sozinho em cena a expressão de sofrimento é intensa. Daniel Kaluuya também demonstra total domínio de Freddy Hampton. Indicado também como ator coadjuvante é praticamente certeiro que Daniel leva o prêmio. O ator apresenta nuances importantes para Freddy fazendo com que o personagem seja humanizado pelo olhar do espectador. Os conflitos internos são explorados pelo ator alternando momentos de introspeção com a mulher e em outros a explosão se faz necessária para discursar perante os jovens .
O diretor Shaka King aposta em cheio no domínio dos atores em cena. Lakeith precisava manter o controle da tensão para que o espectador a sentisse durante as cenas. Com o talento que transborda na tela, King abusa ao máximo de close e planos fechados. Já nas cenas mais intimistas de Daniel os planos continuam fechados porque a qualquer momento a polícia pode chegar na casa do coadjuvante. A câmera tremida é sentida nas cenas de confronto entre a polícia e os membros do movimento mantendo o nível de tensão sem deixar o ritmo oscilar durante a narrativa. Com seis indicações ao Oscar, Judas e o Messias Negro conta com uma direção segura de Shaka para captar a tensão necessária entre Jesse Plemons e Lakeith Stanfield. A trama foca em fatos reais e envolve o espectador por explorar personagens humanizados imersos em um jogo de aparências.
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