De tempos em tempos diretores se
destacam logo no primeiro trabalho. É o caso de Jordan Peele com o terror
psicológico Corra! Por ser a estreia na direção, a cobrança e expectativa do
público são baixas. O espectador pode ser surpreendido ou simplesmente sair do
cinema indiferente com o que acabou de ver. No caso de Jordan, o espectador
presencia uma trama envolvente e repleta de reviravoltas. Corra! é o primeiro
caso, surpreendente em cada cena.
Chris Washington vai conhecer a
família de Rose Armitage. Ele fica apreensivo ao encontrar os pais da namorada.
O fato de o protagonista ser negro e ela branca, o faz questionar se poderia
haver preconceito por parte dos familiares da jovem. Rose o
tranquiliza, mas logo no primeiro contato com os Armitage o espectador se
coloca no lugar de Chris e sabemos de forma sutil, pela troca de olhares que
tudo parece perfeito demais.
Aos poucos Jordan
aproxima o espectador da narrativa, mesmo com alguns clichês do gênero, como na
cena em que um animal aparece no meio do caminho e quase provoca um acidente
com o casal, ou um enquadramento específico em determinado objeto cênico, não prejudicam o ritmo da narrativa. Por ser o primeiro trabalho do diretor, esses aspectos ressaltam a
inexperiência na direção, mas em nenhum momento a trama perde o foco. Jordan
consegue extrair dos atores olhares intensos que auxiliam ao criar a atmosfera
de Corra! Todos os personagens estão interligados e a cada cena o filme cresce
e surpreende. As aparências enganam, os Armitage estão
longe da normalidade.
O roteiro também
escrito pelo diretor explora o racismo velado entrelaçado pelo humor. DanielKaluuya apresenta Chris ao espectador em certos momentos de forma irônica, com
sorriso sem graça, sempre acuado com comentários camuflados e repletos de
preconceito. Cabe ao amigo do protagonista, Rod Willians, entre um contato e
outro por telefone, estabelecer o equilíbrio do humor e a tensão. Repleto
de pistas ao longo das cenas, o roteiro apresenta detalhes que interligam as ações
dos personagens. As reviravoltas acontecem no momento certo para dar ritmo a
narrativa.
Jordan é seguro ao
conduzir a trama e no primeiro trabalho compreende que o gênero pode fugir da zona de conforto. O diretor apresenta ao público uma trama envolvente. Corra! é o
resultado da criatividade do cinema independente de baixo orçamento. Poderia
estender a crítica com mais detalhes, porém, a magia da sétima arte está
justamente em estabelecer um elo entre o que é projetado e o espectador.
Escrever mais irá prejudicar a experiência que precisa ser sentida nos pequenos
detalhes. Corra! é o cinema se reinventando de forma surpreendente.
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