É preciso cautela ao adaptar histórias em quadrinhos para o cinema. O que pode ser considerado um gênero cinematográfico ganha as telas com o novo projeto de Vin Diesel como protagonista. O ator já está inserido neste cenário com o universo compartilhado da Marvel, porém em Bloodshot o astro de ação tem uma provável franquia nas mãos. A fórmula Velozes e Furiosos parece um tanto quanto desgastada e um novo projeto pode ser o respiro na carreira do ator. Marvel fornece ao espectador uma zona de conforto e para Vin protagonizar e ter o nome vinculado a um novo projeto desperta o interesse do público que acompanha o gênero. O filme é a adaptação do quadrinho best-seller de 1992, escrito por Kevin VanHook, Don Perlin e Bob Layton. Se foi sucesso em uma mídia porque não tentar em outra? O problema fica realmente na adaptação, o choque entre as linguagens é sentido a todo o momento pelo espectador.
Vin Diesel é um soldado que após ser morto é transformado em uma verdadeira máquina de matar. A memória do protagonista é apagada e ele é aprimorado com nanotecnologia que o faz desenvolver super poderes. A cada nova missão o protagonista começa a ter lapsos de memória com a morte da namorada. Os lapsos na realidade são programas desenvolvidos por Guy Pearce para que ele elimine terroristas. Após o roteiro expositivo de certa forma necessário para que o espectador compreenda todo o projeto envolvendo um grupo com super poderes, a trama segue ladeira a baixo de forma descontrolada. É possível que o espectador fique perdido não somente na trama em si como na quantidade de vilões desenvolvidos. Martin é o vilão mais contundente que surge com uma atmosfera cômica. Infelizmente, o roteiro proporciona um destaque para Jimmy que desvia em vários momentos o foco da trama principal. O desenvolvimento de Dr. Emil é mais plausível e o arco do personagem permanece até o fim da trama. Os demais personagens que formam o grupo são monossilábicos e estereotipados. Além da falta de desenvolvimento dos vilões o roteiro abusa de flashbacks que quebram constantemente o ritmo da narrativa. Como o protagonista tem constantemente a memória apagada, em momentos pontuais existe uma pausa necessária para reiniciar a missão em torno de Ray. Vale lembrar que o recurso de flashback foi utilizado de maneira intensa e inteligente em prol da narrativa na franquia Bourne. Aqui o oposto é sentido no pelo espectador. Se em Bourne o recurso era utilizado para mover a trama, em Bloodshoot ele só provoca cansaço e avança muito pouco na narrativa como um todo.
O destaque fica por conta dos efeitos visuais que reforçam o envolvimento do espectador durante os atos. Os efeitos são intensos principalmente em torno do protagonista. Agora, o que seria dos filmes de ação sem a câmera lenta? Em todas as cenas de ação no filme o recurso é utilizado o que pode ser considerado positivo justamente pela qualidade dos efeitos visuais. O foco é Vin Diesel sendo Vin Diesel. O ator possui presença física para manter a ação ao longo do filme e solta umas frases de efeito entre os atos. Uma pena que a personagem de Elza Gonzalez seja extremamente rasa, o que não é culpa da triz, pois em determinado momento o roteiro se perde por completo. O filme vale pela atuação de Toby Kebbell e Lamorne Morris que proporcionam boas risadas para o público. Bloodshot peca pelo ritmo que a cada feed out sugere uma pausa nos capítulos da HQ. Além de vários equívocos, o maior problema é na transição da linguagem dos quadrinhos para a tela grande. Nesse aspecto o filme provoca ruídos e cansaço.
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