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César: um belo estudo de personagem (Planeta dos Macacos : A Guerra)


Um arco se encerra com o público imerso em batalhas entre humanos e macacos. Batalhas foram travadas regadas por filosofia e questionamentos. Ao refletir sobre intensas indagações, o estudo de personagem do protagonista é o que mais ganha corpo dentro da trilogia.

Não falar do trabalho minucioso de AndySerkis é excluir o lado humano do filme. Planeta dos Macacos : A Guerra é reflexo de uma guerra essencialmente interna. César cresceu diante dos olhos do espectador e a empatia pelo protagonista é intensa logo nos primeiros minutos da narrativa. Andy acrescenta riqueza no vocabulário do personagem e a captura de movimentos é mais precisa ao explorar gestos minimalistas repletos de significados para o protagonista . Impossível não se envolver com a interpretação de Serkis que transmite no olhar todas as nuances e sentimentos de César. 


Personagens dos filmes anteriores retornam para trazer à tona o lado humano presente nos demais macacos. O destaque fica para a sensibilidade de Maurice que equilibra a narrativa com momentos de ternura e leveza. O contato com a pequenina Nova eleva e insere momentos importantes na trama que interferem diretamente nos rumos e ritmo da narrativa. Outro personagem cativante é Bad Ape, o alívio cômico necessário para retirar o peso denso presente na atmosfera do filme. 


A direção de Matt Reeves reforça os planos abertos nas cenas de batalha tornando o ritmo ágil sem que a computação gráfica fique evidente e retire a experiência do espectador. Já os planos fechados são voltados para ressaltar as expressões dos personagens e transmitir toda a humanidade presente nas interpretações. A trilha sonora de Michael Giacchino por alguns momentos pode parecer intensa demais para evocar a emoção do espectador, mas nos momentos em que ela acompanha o arco dos personagens é precisa. A fotografia explora perfeitamente a guerra interna do protagonista durante os atos do filme.

Planeta dos Macacos: A Guerra ressalta no espectador o questionamento para dualidades internas e a força de trabalhos específicos: o digital e o humano. Um complementa o outro. Dessa forma, a captura de movimentos que dialoga perfeitamente com a intensa interpretação de Andy Serkis, nos transmite a sensação de um belo estudo de personagem. 


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