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Liberdade e criatividade para reinventar um universo (Guardiões da Galáxia 2)

 

O que muitos diretores desejam quando iniciam um projeto é ter liberdade total do estúdio para poder trabalhar. A Marvel apostou na criatividade e proporcionou essa liberdade para um diretor até então desconhecido do grande público. James Gunn (II) entrou no universo estendido da Marvel com a missão de apresentar personagens sem o apelo intenso para o espectador. Com uma mistura interessante de trilha sonora e heróis com arcos desenvolvidos, o público abraçou o quinteto e a continuação seria inevitável. 

O primeiro ato de Guardiões da Galáxia vol.2 logo ambienta o espectador no universo paralelo de James Gunn. A edição funciona perfeitamente para estabelecer a conexão das ações dos personagens e mesmo com os conflitos de comunicação, como bem enfatiza Nebula: " Vocês não são uma família, vocês só gritam uns com os outros", a missão foi concluída. Com um início extremamente promissor, o espectador tem a sensação de respirar um pouco para embarcar em uma nova aventura quando momentos de sensibilidade são inseridos na trama. Ficar preso a narrativa é reflexo de um roteiro bem estruturado e o ponto central que liga todos os personagens é o sentimento de família, assim, todos os heróis estabelecem um elo forte entre si que sempre permeia a trama. 




Ser ousado o suficiente para investir em um universo repleto de cores vibrantes e uma trilha sonora que encaixa perfeitamente em cada cena foi a marca do primeiro filme. Esses dois elementos combinados entre si são parte essencial do universo de James Gunn. Guardiões da Galáxia vol.2, os elementos são mais pulsantes e vibrantes para introduzir um novo planeta, Ego, vivido por Kurt Russell. A cena em que Peter Quill fica deslumbrado com tudo que observa ao som de  My Sweet Lord envolve o espectador. O mesmo acontece quando Yondu recupera os poderes. A coordenação geográfica da mise- en- scène estabelecida entre os elementos cênicos e a trilha sonora inserem a cada cena o público para dentro da narrativa. 

O que fica evidente na sequência é a liberdade que o diretor possui também ao explorar o teor sexual presente no roteiro, principalmente nas falas de Drax mescladas com o timing cômico que Dave Bautista proporciona ao personagem aproximam em especial o público adulto. Sem falar no pequeno Baby Groot que cativa os espectadores de todas as idades. O roteiro peca ao explorar o arco de Ayesha, uma parte desnecessária para o contexto proposto dentro da trama. O destaque fica para o competente ator Michael Roocker, que deixou os fãs de The Walking Dead saudosos, mas que felizmente se ausentou da série para dar vida ao personagem que é o centro da narrativa de Guardiões Vol.2. O vilão? Esse realmente continua sendo o calcanhar de Aquiles no universo Marvel.  Difícil compreender a fixação do estúdio em associar a cor azul com os atos de vilãnia. Deve ser um elemento narrativo dentro do universo estendido dos heróis que precisa ser explorado. Enfim, aqui também temos a cor em uma cena primordial envolvendo o vilão.

Junto com toda a liberdade, James Gunn carrega consigo os excessos presentes nas piadas e principalmente nas cenas de ação que perdem a conexão existente de forma tão interessante no primeiro ato. No final de Guardiões, a sensação que fica é que o filme perdeu os freios perto do terceiro ato. Durante as intermináveis cenas pós- créditos, o espectador sabe que os heróis retornam no vol.3. James Gunn nos mostra que não existem limites para a criatividade e que o "gênero" dos super-heróis pode ser inovador, somente é preciso criatividade e liberdade para reinventar o universo das adaptações das histórias em quadrinhos.   


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