A impressão que Taika Waititi transmite para o espectador é de ser um diretor despretensioso. Na realidade a simplicidade é consequência de um trabalho autoral apurado. Em Uma Fuga para a Liberdade a autoria na direção é reflexo do aprimoramento de cada elemento narrativo. Na trama o jovem problemático Ricky Baker procura um lar que o acolha após várias tentativas frustradas de adaptação. Uma provável adaptação é sentida no lar de Hector. Após boa parte do primeiro ato explorar a reação dos personagens com a tentativa de adoção, tudo parece desmoronar com a morte da esposa de Hector. Neste momento de luto, o espectador acompanha o estudo mútuo dos personagens que avança durante a trama.
A simplicidade da direção de Taika é camuflada, pois o que se tem em tela é o cuidado com cada elemento narrativo. O roteiro do diretor prioriza o estudo dos personagens e Taika consegue explorar cada detalhe de forma certeira para que o espectador fique imerso na narrativa. Os coadjuvantes surgem para que a trama ganhe ritmo e não seja focada somente na dupla de protagonistas. A leveza pode ser confundida com a simplicidade mencionada anteriormente. Os conflitos internos dos personagens são explorados sempre com muito humor, outra característica marcante do diretor. Mas é no humor que Taika engrandece os personagens, mesmo que alguns sejam puro reflexo de estereótipos, como no caso de Rhys Darby, o lunático que finge ter equipamentos para blindar a ação do governo na floresta. Mesmo trabalhando com personagens conhecidos do espectador o envolvimento é garantido, pois o humor prevalece e o diretor consegue brincar com o estereótipo o tornando atrativo aos olhos do público. A habilidade do diretor é necessária, pois o foco é no desenvolvimento dos conflitos internos da dupla. Cada um reage de forma distinta ao luto e o sentimento de perda os aproxima quebrando uma barreira emocional estabelecida anteriormente.
Como o foco da direção de Taika é a interação dos personagens, os atores precisavam estar entregues para que o filme tivesse força e o espectador não sentisse a falta de ritmo. Taika é habilidoso não somente na escrita criativa como também em dirigir atores que estão começando. O jovem Julian Dennison é um achado que move boa parte do longa. Claro que o foco é a relação com Sam Neill, porém de nada adiantaria se o ator não tivesse carisma. A relação de ambos é baseada nas personalidades opostas. Se Julian é extrovertido, Hector é o tio rabugento que demora praticamente o filme todo para demonstrar afeto pelo jovem. É com uma despretensão camuflada que Taika conduz os personagens e faz com que o espectador crie empatia por eles. Outro elemento narrativo que surge e auxilia no ritmo é a trilha sonora. Taika brinca com a trilha de tal forma que as canções envolvem o espectador e dialogam com o arco dos personagens. Perto do desfecho a sensação de simplicidade sentida durante todo o filme é seguida de um sorriso enorme que esteve ali o tempo todo fazendo companhia para o espectador. Algumas gargalhadas surgem em momentos dramáticos o que faz da autoria de Taika um sopro de criatividade no cinema atual.
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