Com Guardiões da Galáxia (2014), os estúdios Marvel mudaram o patamar dos filmes de super-heróis e investiram em um tom mais cômico e audacioso. Thor:Ragnarok é a imersão total na comicidade e ousadia ao apostar em um diretor novato para blockbusters. Logo nos primeiros minutos da trama do Deus do Trovão, o espectador sabe que irá ficar com um sorriso no rosto durante grande parte da projeção. O timing cômico do diretor Taika Waititi move grande parte do filme. Um novo rumo para a franquia perdida de Thor nos cinemas. Nesta "nova versão" do herói, o protagonista precisa salvar Asgard de Ragnarok e impedir o domínio da vilã Hela. Simples assim.
A proposta inicial é deixar Thor: Ragnarok com um tom leve para explorar e atingir vários públicos de diferentes faixas etárias. A questão principal é saber dosar a intensidade do timing cômico em cena. Mark Ruffalo e Chris Hemsworth possuem uma química interessante construída no primeiro Vingadores. Investir mais na dupla seria necessário para garantir o que já havia dado certo. Quando Thor e Hulk se encontram é puro fã service voltado para os leitores de quadrinhos. Mesmo que a todo momento o questionamento persista: a presença de Hulk não soa gratuita dentro da trama? Sim, ela é gratuita com a clara intensão de vender bonecos. Agora, graças a ousadia extrema de Taika Waititi teremos bonecos de Hulk pelado nas lojas com direto a vários colares de missanga. Precisava?
Todos os atores compreenderam o tom do filme e conduzem os personagens voltados para o humor leve e constante. O destaque fica para Cate Blanchett como a vilã Hela e Jeff Goldblum com o marcante Gradmaster. Sempre que Hela está em cena, o filme ganha equilíbrio por ser um núcleo mais denso, mesmo que a vilã seja carregada de sarcasmo cômico, a parte dramática familiar que permeia os dois filmes anteriores do herói ganha literalmente tons mais escuros nas mãos de Cate em Thor:Ragnarok. "Hela não anda, Hela desfila" e o que o espectador observa é o domínio da construção de uma personagem que poderia ser mais explorada dentro da trama por ter um imerso potencial. Já Gradmaster é o que mais se apropria do timing cômico proposto pelo diretor. Jeef Goldblum mescla falas e o humor físico do personagem.
O grande equívoco de Thor:Ragnarok é o excesso de personagens explorados no roteiro de Eric Pearson. Como inserir novos personagens, explorar os que já possuíam arcos definidos nos filmes anteriores da franquia e ainda encaixar em algum momento um personagem do universo compartilhado? A junção das três vertentes não é explorada devidamente. Doutor Estranho aparece sem a mínima necessidade, somente para ligar Thor ao pai. Odim ganha um desfecho indigno da grandeza do personagem. Sem falar nos amigos de Thor que aparecem cinco segundos no máximo. Por onde andará Sif? A personagem simplesmente sumiu do universo compartilhado. Enfim, talvez em um filme do herói algum roteirista faça uma piadinha semelhante a do reator atômico do Homem de Ferro. Fatos interessantes acontecem com o arco do protagonista, mas perdem o peso da dramaticidade, pois a prioridade é fazer comédia. O público não sente a densidade das cenas mais dramáticas.
O gênero dos filmes de super- heróis necessita de renovação e este ano vimos um belo exemplar com Logan, um road movie pesado e intenso. Thor:Hagnarok propõe ousadia visual e a elevação do timing cômico. O filme se perde pelo excesso de personagens e piadas constantes. Modificar drasticamente o tom do personagem para que ele seja engraçado e atinja todos os públicos, ao desfecho do filme torna-se cansativo. O mesmo acontece com a versão "Hulk chateado, Vou para meu canto esperar minha raiva passar". Faltou o cuidado com os personagem e equilíbrio para a nova aventura do Deus do Trovão.
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