Cada geração tem uma versão de Adoráveis Mulheres. A última foi em 1994 com um tom contemplativo e melancólico. Agora Greta Gerwing proporciona um olhar diferenciado para as quatro irmãs tendo como pano de fundo a guerra civil americana. Cada irmã tem uma personalidade e reflete o posicionamento firme da mulher na sociedade. A visão de Greta e as adaptações realizadas dialogam com o empoderamento feminino e momento atual envolvendo o espectador. Além de proporcionar ao filme uma visão autoral, a diretora mantém a essência do livro de Louisa May Alcott.
O roteiro escrito por Greta foca em quatro irmãs e o posicionamento de cada uma na sociedade. Jo, Meg, Amy e Beth possuem personalidades distintas, mas que refletem perfeitamente a mulher que podemos ser dependendo da situação vivenciada. Jo deseja ser uma escritora que claramente vive muito além de sua época. Jo preserva a liberdade na escrita e o que escreve é puro reflexo de sua postura perante a vida. Meg deseja um posicionamento na sociedade sem deixar de acreditar que o casamento não necessariamente a ofusque como mulher com desejos e realizações. Amy é a irmã mais impulsiva que nutre sentimentos por Theodore e o faz refletir sobre o quanto ele perde tempo sem fazer nada de produtivo. Quem nunca pegou no pé de alguém sendo que na verdade sentia algo mais forte pela pessoa? Aos poucos Amy deixa a pintura de lado para ser feliz e não viver a sombra de Jo. Beth é a personagem mais introspectiva e menos desenvolvida por Greta. Apesar da enfermidade da irmã movimentar boa parte da trama, a personagem não gera tamanha empatia como as demais. Adoráveis Mulheres é um filme feminino com personagens fortes e Greta proporciona a cada uma um momento específico para digamos defender os respectivos personagens. Como o pai está na guerra, a mãe precisa estabelecer a ordem na casa e ser forte o suficiente para lidar com todos os conflitos sozinha. O arco de Laura Dern é complexo por ser minimalista. Sentir tudo e ao mesmo tempo deixar de lado os sentimentos para priorizar as filhas é de uma profundidade tamanha que Greta capta com sensibilidade. Apresentado de forma não linear, o roteiro explora flashbacks para retratar a passagem de tempo e o amadurecimento das irmãs. O recurso soa repetitivo, porém, o roteiro sabe posiciona-lo em prol da narrativa.
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