O acerto da DC nos cinemas foi investir em novos heróis e no que realmente deu certo do universo compartilhado. Mulher-Maravilha e Aquaman são os personagens que sobreviveram pós - Liga da Justiça. A tendência do estúdio é explorar filmes de origem. O mais recente é Shazam! que estreia nessa nova linha deixando definitivamente a autoria de Zack Snyder para trás. Na trama, o adolescente Billy Angel encontra um Mago e recebe super poderes. Ele é escolhido por pressão e também porque tem o coração puro. Toda vez que o jovem grita Shazam! ele vira um herói um tanto quanto atrapalhado. O mesmo acontece para ele voltar ao normal.
A narrativa caminha entre acertos e erros. O elemento narrativo que prejudica consideravelmente o envolvimento do espectador é a montagem. No segundo ato quando o protagonista está descobrindo seus poderes, a montagem apresenta vários cortes secos reforçando a quebra constante de ritmo. Esse elemento também prejudica nos primeiros confrontos entre herói e vilão. Já o maior acerto é o elenco formado pela família adotiva de Billy. Cada personagem é um tiro certeiro para que a trama central ganhe força. O conceito de família e a união movem os arcos dos personagens. O abandono serve de elo entre o bem e o mal. Como lidar com a frustração é o ponto chave para a virada da trama e diferencia o protagonista do antagonista.
Impossível não mencionar o entrosamento do elenco. O destaque do núcleo familiar fica para a dupla Jack Dylan Trazer como Freddy e a pequena Faithe Herman como Darla. Ambos são perfeitos e encantam o espectador. Jack despontou entre os adolescentes de It- A Coisa e terá uma carreira promissora. O filme só cresce com a presença do ator em cena. Já a pequenina é puro carisma cada vez que aparece intensificando a carência afetiva da personagem. Agora, o tom cômico e humor físico de Zachary Levi podem causar estranhamento no momento em que o herói surge, mas após algumas cenas, o espectador está totalmente envolvido na composição do ator para o herói. Mesmo com certo exagero característico, o protagonista jovem é mais contido e equilibra as atuações. Por falar em exagero, o vilão está caricato ao extremo e infelizmente não impulsiona a trama. Mark Strong confunde frieza com ausência de expressão. O equilíbrio entre bem e mal somente funciona pelo carisma de Zachary porque a vilania de Dr. Thaddeus deixa a desejar.
O design de produção e figurino intensifica a questão familiar no filme. No primeiro ato, a mãe de Billy veste um casaco vermelho. A ênfase no figurino é significativa, pois o protagonista sempre aparece com roupas vermelhas, além do uniforme. O lar adotivo possui objetos cênicos vermelhos. Outro aspecto primordial que move a trama é a aura oitentista. Referências diretas e indiretas reforçam a nostalgia para o espectador adulto. A cena em que o herói solta raios e brinca com a trilha sonora de Rocky - O Lutador é o auge do tom que a narrativa carrega. A trilha só acrescenta ao humor intenso proporcionado pelo protagonista. Ao som de Queen, o treinamento de Shazam torna-se puro entretenimento.
Shazam! é mais um acerto na nova fase da DC nos cinemas. O roteiro equilibra drama e leveza de forma envolvente. David F. Sandberg acerta ao explorar a comicidade na interação dos personagens, mas pesa a mão em todo o arco referente ao vilão. No geral o filme é puro entretenimento que vai agradar em cheio todos os públicos.
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