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Uma luz no fim do túnel (Mulher- Maravilha)



Quando Batman vs Superman foi lançado, o universo "compartilhado" (ao menos é o que parece ser) da DC nos cinemas ficou estremecido e a recepção do público não foi a esperada pela Warner. Após vários problemas e críticas negativas, uma personagem roubou a cena e criou a expectativa para um filme solo: a Mulher-Maravilha. Mesmo com o roteiro pouco "inspirador", Batman vs Superman deixou nos fãs a sensação de que algo acima dos padrões da DC poderia ser possível com um filme dedicado a esse ícone feminista. Enquanto a Marvel apenas apresenta imagens do que pode ser a heroína de peso do estúdio, (o que sabemos sobre a Capitã Marvel?) a Warner/DC investe em uma personagem forte e mostra que o filme solo da Mulher-Maravilha pode ser um novo frescor para o gênero de super-heróis. 


Partindo do princípio que o espectador abrange desde fãs até os que não conhecem muito a história da princesa Diana, o filme dedica o primeiro ato todo para a ambientação e treinamento da heroína. Quando pequena, a protagonista já sentia uma atração pela luta e o vislumbre em ser guerreira. Para inserir uma subtrama ao universo da ilha das amazonas, o espião americano, Steve Trevor, sofre um acidente e Diana o salva. A ilha é invadida por soldados alemães. Com algumas perdas significativas, a protagonista sente que precisa impedir o grande Deus da Guerra e parte para Londres com Trevor.


Um dos pontos fortes do roteiro é o tom cômico presente no casal. A cena em que Diana e Steve conversam sobre os prazeres da carne funciona e ao longo de todo o enredo de Allan Heinberg as cenas envolvendo comicidade estabelecem um equilíbrio entre a ação e comédia. As cenas crescem e refletem um contraste entre os mundos e ideais do casal. Diana tem uma ideia romantizada do ser humano e Trevor a faz enxergar aos poucos a realidade e do que os humanos são capazes quando estão imensos na Primeira Guerra Mundial. Infelizmente, todo o arco envolvendo o vilão não é explorado de forma convincente, apesar da tentativa de algumas reviravoltas interessantes, o terceiro ato apresenta ao espectador mais do mesmo visto nos demais filmes de super-heróis. 

Gal Gadot estabelece para Diana um timing cômico imprescindível para a protagonista. A química com Chris Pine funciona e o casal causa empatia ao longo da trama. Como o espectador teve a oportunidade de ver somente um pouco de Diana em Batman vs Superman, no filme solo percebemos que a atriz ainda é limitada em termos dramáticos. As cenas que exigem mais na atuação deixam a desejar. Os coadjuvantes acrescentam e cada um possui importância na narrativa. Destaque para Lucy Davis ao interpretar Etta, o filme fica mais leve toda vez que a personagem aparece. 

Mulher-Maravilha é um avanço por ser a primeira personagem significativa do universo dos quadrinhos que ganha as telas. Desde mulher gato com Michelle Pfeiffer, o público não via uma personagem com grande destaque. Direção de arte e figurinos auxiliam com referências diretas aos quadrinhos. Os poderes são explorados nas batalhas de forma convincente e as cenas são coreografadas para realçar as características marcantes da protagonista. Patty Jenkins reforça a força da princesa Diana, mas perde as rédeas no terceiro ato com soluções fáceis para o desfecho de determinados personagens. Mulher-Maravilha é a luz no fim do túnel para explorar com mais coragem o universo feminino das heroínas nos cinemas.


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