Esqueça a adaptação
de A Torre Negra. It - A Coisa é um filme que retoma a essência dos clássicos
antigos de Stephen King. A narrativa reúne sete adolescentes excluídos do
convívio escolar e social, intitulado o "grupo dos perdedores". Após
o desaparecimento do pequeno Georgie e de outras crianças,os jovens, cada um
com uma personalidade e arcos bem desenvolvidos, nos fazem compreender quem ou o
que está causando as mortes repentinas que aterrorizam a até então tranquila
cidade de Denny.
O
grande trunfo da narrativa é equilibrar a leveza presente no humor e nas
brincadeiras típicas de adolescentes nas férias de verão com o terror envolto
na atmosfera crescente presente na figura do palhaço dançante Pennywise. Finn
Wolfhard (o Mike, de Stranger Things) toma a parte cômica para si e temos o
alívio que o espectador necessita em momentos preciosos da trama. O restante
do grupo tem como referência alguns dos melhores filmes adolescentes da década
de 1980. Conta Comigo (também de King), Goonies e uma grande dose do recente
seriado Stranger Things, principalmente pela personagem de Sophia Lillis.
Vários aspectos fazem o filme ser grandioso e diferenciado dos demais feitos
recentemente. Se não fosse o elenco primoroso a trama perderia força. Além dos
sete amigos igualmente competentes nos devidos personagens, Bill Skarsgard
envolve o público com um físico que impressiona e eleva o patamar de It. A
variação do trabalho vocal também complementa o trabalho detalhista do ator ao
compor o personagem.
A direção de Andy
Muschietti também explora o equilíbrio apesar de pecar em alguns momentos
reforçando o plano detalhe nos objetos cênicos e elevar a trilha
sonora para reforçar a atmosfera dentro da narrativa. O diretor explora com
planos fechados a casa abandonada e o poço com zoon in para aos poucos envolver
o espectador, mesmo que esses elementos reforcem aspectos voltados para o jump scare. Vale ressaltar a direção segura de Rich Delia com o elenco juvenil. É
necessário cautela para realizar um trabalho específico e explorar devidamente
cada arco proposto para os personagens.
Outro elemento narrativo que estabelece o equilíbrio é a trilha sonora de Benjamin Wallfisch. Nos momentos de descontração entre os amigos, a música que permeia a trama torna-se mais suave. Já nas cenas que exigem mais tensão do elenco, a trilha eleva o tom e prepara o espectador para uma atmosfera mais pesada e com temas extremamente delicados. Mesmo sendo previsível, a figura do palhaço toma dimensões maiores tirando o espectador da zona de conforto típica de filmes do gênero.
It- A Coisa reforça a ligação com aspectos fundamentais da obra de Stephen King. A essência do livro está presente na adaptação que busca com todos os elementos narrativos o equilíbrio dentro da trama. O humor e o terror estão lado a lado e auxiliam durante todas as cenas na leveza e tensão necessárias para envolver o espectador. Que venha uma continuação mais adulta e que priorize também as características marcantes da literatura de King.
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