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O grande mérito do filme é não parecer um drama (Sentimentos que Curam)


Sentimentos que Curam é aquele filme que pertence aos atores. Centrado nas atuações das filhas e do pai maníaco - depressivo, a trama ganha uma leveza pouco vista em filmes que abordam assuntos delicados. Cameron e Maggie são um casal e que pela doença do marido a separação torna-se inevitável. Após alguns anos convivendo separados, Maggie, o lado da razão, se vê em mais um conflito: deixar as filhas aos cuidados de Cameron, o lado emocional, por dezoito meses para estudar em Nova York. A mãe vai relutante e combina de visitá-los aos finais de semana. 

Mark Rufallo é um dos poucos atores de sua geração que tomam o personagem para si e consegue moldá-lo da melhor forma possível. A bipolaridade é construída com competência pelo ator que aos poucos apresenta um protagonista que equilibra a fúria e delicadeza com a mesma intensidade. O tom cômico em momentos de extrema dramaticidade não pesa na trama e faz Mark crescer a cada cena. Ele faz com que o espectador não sinta pena de Cameron, e sim, uma imensa empatia. O filme é todo do ator, mas Zoe Saldana também consegue estabelecer uma conexão interessante com o protagonista. A atriz interpreta Maggie de forma contida, não existe descontrole por parte da mãe. Ela sendo a razão da relação, mais do que nunca, necessita transparecer a tranquilidade para as filhas e o marido. 

Um dos principais aspectos que poderiam fazer de Sentimentos que Curam um filme difícil de assistir é a dupla infantil. Escalar crianças não é tarefa fácil e a trama felizmente acerta neste aspecto, as meninas do casal roubam a cena, em especial, a mais velha que toma para si a responsabilidade de cuidar da família. Os momentos mais tocantes são dessa garotinha que pode ter uma carreira de destaque pela frente em Hollywood. A irmã mais nova, em alguns momentos deixa a história enfadonha, mas as melhores falas ditas com sinceridade e naturalidade típicas de uma criança são dela, a tornando até certo ponto interessante.

A diretora Maya Forbes poderia fazer deste filme uma tragédia sem precedentes, mais ela acerta em equilibrar delicadeza e profundidade nos momentos corretos. A trama passa rapidamente aos olhos do espectador que torce pela união da família, mas de uma maneira acolhedora e sem carregar no drama. Os momentos mais pesados e a passagem dos meses são mesclados com vídeos caseiros e fotos tiradas pelo protagonista, essa questão apesar de parecer simplória funciona perfeitamente para retratar os momentos felizes e de união familiar, apesar de todos  viverem mergulhados no caos do protagonista.

O espectador pode constatar ao término da trama: eu assisti um filme tão pesado, mas me sinto extremamente leve! Este é o grande mérito de Sentimentos que Curam, o público consegue ver um drama somente nas aparências porque sua essência é de uma leveza sem tamanho.


Obs: O leitor que se sentir tocado em assistir, segue o vídeo dublado do filme completo retirado do YouTube . Quem tiver acesso aos canais telecine, o link para o filme legendado  http://globosatplay.globo.com/telecine/v/4899919/






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