No mais recente filme da franquia Star Trek, J.J. Abrams deixa o
comando nas mãos de Justin Lin. Enquanto Abrams fazia no primeiro longa, em
2009, toda campanha pelo retorno da tripulação da U.S.S. Enterprise e apelava
para o lado sentimental dos fãs mais afoitos, no terceiro longa, não temos mais
a ansiedade gerada no espectador. Ponto positivo para a nova direção que colhe
os frutos deixados pelo trabalho árduo de Abrams: entregar dois longas e
reativar no imaginário do público mais exigente, fãs de longa data da série,
filmes que enfatizassem a aura da série e despertar o interesse do público mais
jovem. O reflexo no acúmulo das bilheterias, mais de 480 milhões, somente
nos Estados Unidos, dos dois primeiros longas, nos demonstra que o espectador
estava satisfeito com o resultado. Com esta etapa ganha, Justin Lin assume a
direção e entrega um trabalho mediano para a nova missão no comando de Capitão
Kirk.
Star Trek: Sem Fronteiras tenta repetir algumas
questões já enfatizadas nos filmes anteriores. Se nas mãos de J.J.Abrams a
tripulação tinha igual intensidade nas cenas envolvendo o trabalho em
equipe e individualmente, no terceiro longa este aspecto é o que mais prejudica
a trama. No momento em que todos estão juntos para combater o vilão Krall, a
narrativa ganha mais ritmo e o trabalho de ação que vimos na franquia Velozes e
Furiosos funciona muito bem. A partir do segundo ato, a tripulação é separada por
duplas e o trabalho não convence. Uhura e Hikaru possuem menos destaque na
trama, sempre que o foco está nos personagens a narrativa não é desenvolvida e
fica com um tom mais lento. Outra dupla que falha na interação e carisma é
Spock e Bones. Individualmente são personagens de destaque, mas como passam a maior parte da história contracenando, o filme não avança
e o lado cômico de Bones que funciona perfeitamente no começo do longa com
Kirk, não ganha a intensidade necessária com Spock. Os destaques ficam para os
personagens de Scotty e Jaylah. O timing cômico
de Simon Pegg e a presença forte de Sofia Boutella são imprescindíveis para
retomar o ritmo da narrativa. O filme cresce cada vez que o arco dos
personagens é explorado.
Outro aspecto que enfraquece a trama de Star Trek: Sem Fronteiras é o vilão vivido por Idris Elba. O competente ator apresenta ao público Krall que não possui o destaque necessário para dar força e motivação ao personagem. Monossilábico, as poucas cenas em que aparece, principalmente no terceiro ato, não convencem o espectador da presença imponente do ator. Ofuscado pela maquiagem pesada, a composição do personagem fica em segundo plano. Um vilão intenso é que faz a história caminhar e Idris não possui tempo suficiente em tela para mostrar as camadas de Krall.
O visual e a trilha sonora são os pontos positivos do filme. Ambos enriquecem o contexto apresentado, apesar da nave Enterprise ser
substituída por outra, o aspecto precário serve para intensificar ainda mais o
trabalho em equipe, neste momento, o filme ganha ritmo e a tripulação une
forças e habilidades para combater o inexpressivo vilão. A trilha intensifica
a ação com direito a uma cena específica ao som de Sabotage de
Beastie Boys.
Star Trek: Sem Fronteiras entrega ao espectador um
entretenimento mediano que perde o ritmo ao focar na individualidade dos
personagens. O carisma da dupla Kirk e Spock tão envolvente e explorado em
filmes anteriores, aqui dá lugar ao individualismo dos demais personagens que
não possuem a intensidade necessária para contribuir no andamento da
narrativa.
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