Pular para o conteúdo principal

No duelo dos heróis quem se frustra é o espectador (Batman Vs Superman)


Como não criar expectativas pelo tão aguardado duelo entre os heróis? Cada um possui uma legião de fãs ansiosos esperando o momento que chegou com a estreia de Batman vs Superman - A Origem da Justiça. Expectativa quebrada pela frustração com o filme dirigido por Jack Snyder que não possui freios e fôlego para fazer o espectador respirar e tentar entender o que acontece em quase duas horas e meia de projeção.

A trama começa com os desfechos de O Homem de Aço e as consequências geradas pela batalha travada entre Superman e o General Jod. O grande debate é transformar o herói em vilão. O roteiro cresce a medida que a população de Metrópolis se vê dividida entre adorar um Deus ou odiá-lo por ele ser fruto da destruição e morte de vários inocentes. O conflito é absorvido pelos heróis : de um lado, Superman não sabe ao certo se deve continuar sua jornada, do outro, Batman reflete se necessita combater o alienígena para que ele não cause mais danos. Neste meio tempo ainda temos espaço para Lex Luthor arquitetar seu plano e proporcionar o confronto direto de ambos.  

Várias referências podem ser percebidas, mas a principal fonte de Snyder foi a HQ clássica de O Cavaleiro das Trevas de Frank Miller, onde o Homem Morcego já está mais envelhecido e amargurado. Ben Affleck consegue transportar para a tela essas características marcantes do herói, o problema está nas cenas de luta. Como o personagem não possui tanta agilidade, o que é perfeitamente normal e abordado com intensidade na história em quadrinhos, essa fidelidade é interessante, mas ao mesmo tempo prejudica no tão esperado embate com lutas que mais parecem serem filmadas em câmera lenta. Batman necessita de uma armadura específica, o confronto já é desleal. Como combater um alienígena? Superman até menciona : "Se eu quisesse, você já estaria morto". A grande questão é que Batman estuda seus adversários e sempre consegue atingí-los em seu ponto mais fraco, outra marca dos quadrinhos presente no filme. O problema é a expectativa gerada em torno da luta. Claro que todo o fã e o espectador que não conhece muito da história quer ver o embate. Ele não dura muito e a frustração é inevitável. Melhor não entrar muito em detalhes, mas a cena de Batman carregando O Homem de Aço poderia ter rendido mais. 



O que seria pior: um vilão caricato ou um mostro alienígena bem próximo de uma tartaruga ninja? Não temos escolha, aqui, somos "presenteados" com os dois. A primeira hora da trama fica interessante com a construção de Jesse Eisenberg e seu Lex Luthor afetado, mas fica exaustivo e não gera a empatia para o público acompanhá-lo no decorrer da história. Quando o embate gerado pelo vilão é confrontado pela trindade dos heróis, o filme ganha um aspecto megalomaníaco, reflexo da mente e das mãos de Zack Snyder. Tudo é muito exagerado, os efeitos especiais não contribuem em nada e só prejudicam ainda mais o acompanhamento do espectador, que nesta altura, já está totalmente perdido e exausto com uma gama gigantesca efeitos jogados na tela. 

O aspecto positivo foi a introdução de vários personagens para a futura Liga da Justiça. Somente algumas passagens para causar a sensação no espectador de que algo bom está por vir quando todos estiverem em cena. A chegada da Mulher Maravilha é sutil no decorrer da história, mas ganha o devido destaque quando utiliza seus poderes. Uma personagem feminina importante e fundamental para a trama. O toque de humor também acrescenta em diversos momentos com colocações pertinentes, aqui não há exageros.  

Todo cuidado é pouco porque podem lhe vender gato por lebre. Aqui, infelizmente, a expectativa gerada no público foi a de presenciarmos um duelo épico entre heróis, quando na realidade o que temos foi uma grande frustração em perceber que ambos poderiam ter travado uma luta que marcaria a  história do gênero, mas que não causou o verdadeiro impacto proposto.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

E o atendente da locadora?

Tenho notado algo diferenciado na forma como consumimos algum tipo de arte. Somos reflexo do nosso tempo? Acredito que sim. As mudanças não surgem justamente da inquietação em questionar algo que nos provoca? A resposta? Tenho minhas dúvidas. Nunca imaginei que poderia assistir e consumir algum produto em uma velocidade que não fosse a concebida pelo autor. A famosa relíquia dos tempos primórdios, a fita VHS, também nos aproximava de um futuro distópico, pelo menos eu tinha a sensação de uma certa distopia. Você alugava um filme e depois de assistir por completo, a opção de retornar para a cena que mais gostava era viável. E a frustração de ter voltado demais? E de não achar o ponto exato? E o receio de estragar a fita e ter que pagar outra para o dono da locadora? Achar a cena certinha era uma conquista e tanto. E o tempo...bom, o tempo passou e chegamos ao DVD. Melhoras significativas: som, imagem e, pasmem, eu poderia escolher a cena que mais gostava, ou adiantar as que não apreciav...

Entretenimento de qualidade (Homem-Aranha no Aranhaverso)

Miles Morales é aquele adolescente típico que ao grafitar com o tio em um local abandonado é picado por uma aranha diferenciada. Após a picada, a vida do protagonista modifica completamente. O garoto precisa lidar com os novos poderes e outros que surgem no decorrer da animação. Tudo estava correndo tranquilamente na vida de Miles, somente a falta de diálogo com o pai o incomoda, muito pelo fato do pai querer que ele estude no melhor colégio e tudo que o protagonista deseja é estar imerso no bairro do Brookling. Um dos grandes destaques da animação e que cativa o espectador imediatamente é a cultura em que o personagem está inserido. A trilha sonora o acompanha constantemente, além de auxiliar no ritmo da animação. O primeiro ato é voltado para a introdução do protagonista no cotidiano escolar. Tudo no devido tempo e momentos certos para que o público sinta envolvimento com o novo Homem-Aranha. Além de Morales, outros heróis surgem para o ajudar a combater vilões que dificultam s...

Não, não é uma crítica (Coringa : Delírio a Dois)

Ok, o título estampado no cartaz é: Coringa: delírio a dois. Podemos criar expectativas que a continuação é um filme do Coringa, correto? Na realidade, o que Todd Phillips nos apresenta e faz questão de reforçar a cada cena é que temos o Coringa, porém, o protagonista é Arthur Fleck, um homem quebrado físicamente e mentalmente. Temos também Lee Quinzel, que projeta no outro um sentido na vida e começa a manipular Arthur, para que Arlequina venha à tona. Podemos refletir sobre a manipulação da personagem, ela inclusive reforça:"Não assisti ao filme vinte vezes, talvez umas quatro ou cinco. Quem não mente?". Mas dizer que ela é culpada pelas atitudes de Arthur/ Coringa? A coerência existe no fato da personagem possuir um transtorno mental e, por isso, justifica o desejo e manipulação. Agora, qual a necessidade de criar uma pauta inexistente? O grande equívoco talvez seja do próprio estúdio em não vender o filme como musical e gerar expectativas equivocadas no espectador. É um f...