No filme Estrelas Além do Tempo, o preconceito é a temática explorada e envolve o trio de protagonistas. Mulheres que tinham de lidar, além do racismo, com o machismo e
provar a todo momento que eram competentes e dignas do cargo que ocupavam.
Três mulheres ligadas pela determinação em alcançar posições
profissionais que eram até então ocupadas por homens brancos. Na década de 60,
ser mulher já era um obstáculo e acrescentar ao gênero a raça negra era um
obstáculo ainda maior. Será que alguns desses obstáculos já foram superados?
Infelizmente o machismo e o preconceito racial ainda estão fortemente presentes
na sociedade. No filme de Theodore Melfi, a ênfase nas cenas que ressaltam o
preconceito são essenciais para demonstrar uma pequena parcela do que
Katherine, Dorothy e Mary enfrentaram. Ter que utilizar um banheiro específico
para negros. Uma cafeteira separada somente para negros e ousar cursar
engenharia. Todas as cenas que ressaltam o preconceito são dirigidas de forma enfática e ressaltam a temática que pode em alguns momentos tender para o
melodrama, mas que não chegam ao extremo pelo intenso e suave trabalho do trio.
Estrelas Além do Tempo prioriza dois aspectos importantes para
estabelecer o equilíbrio da narrativa: a montagem e o roteiro. Ao longo do
filme, as histórias das protagonistas são mescladas com os avanços tecnológicos
de suas respectivas áreas. Katherine trabalha com números, Dorothy com
computadores (início da IBM) e Mary é responsável pela construção e teste
de equipamentos que vão posteriormente levar John Glenn para o espaço. O trabalho de Peter Teschner na montagem proporciona ao
espectador compreender a trajetória e o arco das personagens de forma fluída.
Sempre que um assunto mais técnico é enfatizado, a montagem ressalta um aspecto
pessoal do trio, assim as tramas são desenvolvidas envolvendo o
público.
O trabalho do trio de protagonistas faz o filme ganhar mais força
para a temática abordada. Katherine é mãe de três filhas pequenas e está focada
no trabalho. O amor aparece quando ela achava que o sentimento estava adormecido. A situação era delicada porque um homem naquela época não iria
assumir uma família já formada, mas Mahershala Ali interpreta de forma suave Jim Johnson e envolve a protagonista fazendo surgir um novo amor. Taraji P. Henson transmite para Katherine um
ar cartunesco e ingênuo. Dorothy é mais dura e objetiva. Por ser a mais
velha do trio, também luta contra o preconceito, mas de forma mais amena e igualmente significativa.
Octavia Spencer trás tranquilidade e equilíbrio para o trio. Já Mary é a mais
nova e impetuosa. Janelle Monáe é a voz cômica. As atrizes compreendem que cada característica é essencial
para gerar a empatia necessária no espectador. Muito
da empatia construída é resultado do roteiro que desenvolve de forma significativa
o arco de cada protagonista.
O filme prioriza a temática central : o preconceito racial. O
enfoque logo no primeiro ato é essa questão muito bem equilibrada com toques de
humor, mas assuntos igualmente importantes são resgatados com imagens que
ganham uma atmosfera documental. A corrida pela conquista espacial e a Guerra
Fria são destaque ao longo do segundo e terceiro atos. Estrelas Além do
Tempo reforça a importância de levar ao público a luta de mulheres que
conquistaram seu espaço pela competência independente da raça. O trio serviu de marco e exemplo para várias
mulheres ao longo de décadas. Filmes como este são importantes para lembrarmos
que o preconceito ainda persiste de forma direta e também velada.
Precisamos de muitas personas como Katherine, Dorothy e Mary para que o
preconceito deixe de existir e que outras conquistas sejam alcançadas.
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