O diretor José Padilha ao aceitar dirigir o remake de RoboCop
tinha duas questões implícitas antes mesmo de começar as filmagens: agradar o
público que cultua o clássico dos anos 80 e familiarizar o público atual
que não possui referências do filme . Padilha consegue agradar ambos? Consegue,
mas com algumas limitações.
Padilha afirma em várias entrevistas que aceitou o projeto por ter liberdade suficiente para criar e dar ao espectador um novo RoboCop. Mesmo com a pressão dos produtores, o diretor consegue deixar sua marca e reforçar aspectos que eram pouco explorados no clássico. A questão política e filosófica é a prioridade do remake. Outro ponto que ganha destaque é o núcleo familiar do policial Alex Murphy , a partir do momento em que Alex vira uma máquina, a relação com a mulher e o filho fica estremecida e Padilha consegue dar mais importância a esse aspecto se comparado ao clássico. Além dos aspectos filosóficos e políticos, os efeitos visuais são um dos grandes atrativos da trama. Em várias cenas de lutas e tiros a sensação que se tem é que o espectador está inserido em um vídeo game, e assim, esquecemos que estamos vendo realmente um filme.
O filme peca ao explorar com menos intensidade o humor. No
clássico, as tiradas de RoboCop são constantes na trama, o que torna o filme
mais cômico, já na versão de Padilha, podemos ver esse aspecto somente em
alguns momentos. Talvez pelo fato de ter mais liberdade o diretor Paul Verhoeven conseguiu dar um ar mais trash para o clássico, como na cena em que
um traficante fica com o corpo deformado ou quando RoboCop atropela o chefe da
quadrilha. Padilha somente utiliza essa questão quando mostra o corpo do
policial antes da esposa aceitar que Alex faça parte do experimento
científico e em cenas onde o cientista interpretado por Gary Oldman explica
todo o procedimento ao transformar o homem em máquina. A questão Homem X
Máquina é explorada excessivamente na trama tornando o filme cansativo em diversos
momentos com várias explicações científicas, no clássico esse aspecto é
sintetizado em poucas cenas. Outro ponto negativo é o desfecho da trama,
provavelmente por pressão dos produtores, no clássico temos um final voltado
para a comédia.
RoboCop é um remake necessário? Sim, Padilha consegue resgatar alguns aspectos presentes no clássico e simultaneamente apresenta ao espectador da nova geração um filme reflexivo e visualmente necessário.
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