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Jogo de Aparências (Segredos de um Escândalo)

Todos possuímos máscaras para vivermos em sociedade, algumas são acionadas dependendo do ambiente em que estamos inseridos. Seria natural se essas máscaras não ganhassem tons sombrios fugindo do cotidiano. Segredos de um Escândalo propõe um jogo de interesse baseado em como cada personagem utiliza uma máscara para alcançar objetivos específicos. No centro do jogo estão Elizabeth e Gracie que almejam reviravoltas em suas vidas. A protagonista chega em uma cidade pacata para fazer um estudo complexo sobre Gracie. Elizabeth é atriz e pretende interpretá-la em um filme independente, para isso ela decide passar o pouco de tempo que possui estudando trejeitos físicos e entendendo as motivações que levaram Gracie para a prisão. Porém, qual a máscara utilizada que transmite a verdadeira essência de cada personagem? O roteiro de Samy Burch ressalta aos poucos o jogo entre as personagens e como cada uma utiliza as máscaras quando lhe convém. Elizabeth almeja o sucesso em um papel diferenciado e
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Pistas e Poucas Recompensas (Anatomia de uma Queda)

Snoop corre certeiro em direção ao corpo caído na neve.  Daniel entra em pânico, a sensação é de total desespero. Sim, sensação, pois o garoto, portador de deficiência visual, busca intensidade pelo toque. O corpo é de Samuel. Daniel grita pela mãe, Sandra, que liga imediatamente para a emergência. E, assim, o pesadelo da protagonista começa. Ela é a principal suspeita pela morte do marido. O roteiro de Justine Triet propõe um jogo de pistas e não proporciona ao espectador todas as recompensas. Esse jogo ganha amplitude quando uma tríade participa ativamente do processo: Sandra, Daniel e o espectador. O trio observa o julgamento movido por emoções. Sandra precisa manter-se firme, apesar do turbilhão de sensações dentro de si; Daniel se vê divido entre as lembranças do pai e a dúvida sobre a inocência da mãe; já o espectador observa atento os eventos gerando um misto de emoções causados pela empatia presente na relação entre mãe e filho e, posteriormente, o distanciamento dos personagen

A sombra (O Assassino)

O novo filme de David Fincher  O Assassino, adaptação de uma série de Hqs francesa, criada por Alexis Nolent, apresenta o protagonista explorando a sutileza dos elementos narrativos. Temos a narração em off que causa certa empatia. O timbre na voz de Michael Fassbender transmite a frieza do personagem, o recurso está ali para "justificar o didatismo dos métodos". Quando algo inesperado acontece, a narração mantém o timbre com poucas nuances, ressaltando o fato do matador eliminar alvos e, nas horas vagas, carboidratos. Não se engane com blusas estampadas, um disfarce perfeito, sempre que o protagonista elimina um alvo, o preto toma conta aos poucos do assassino, como se cada peça nos mostrasse o matador por completo, sua essência: coberto pela sombra da morte. O encontro com o último alvo reforça a transparência do protagonista. O foco é trabalhar com as emoções da vítima, não ter empatia. E o figurino de Fassbender na cena? Todo preto. A direção de David Fincher cria uma atm

O Yn e Yang do Trio (Assassinos da Lua das Flores)

Assassinos da Lua da Flores exalta a todo momento o contraste entre o Yn e Yang presente no Ser Humano. Mollie Burkhart é uma mulher de semblante sereno, porém sua observação do mundo é tão cortante, que entra em erupção nos momentos de conflitos internos da personagem, quando o Yang surge certeiro. Já, o Rei, William Hale, é a combustão, o Yang move as ações do coadjuvante necessitando de uma faísca para explodir em ganância, aqui, o Yn surge como fachada. Agora, com Enerste Burkhart, os opostos duelam em cada cena buscando o equilíbrio entre duas famílias. O protagonista alcança o Yn, na família com Mollie, já o Yang, o impulsiona ao participar do genocídio da tribo Osage. Enerste nunca consegue atingir o equilíbrio, o laço sanguíneo o move de forma consciente, porém, o Yn está ali, mesmo que camuflado. Uma calma passageira atinge o personagem ao tentar fazer o que é certo, mesmo que o sentimento logo desapareça ao ser confrontado pela esposa. Scorsese intensifica às raízes culturais

Você conhece Jacky? (Bullhead)

Logo na primeira cena de Bullhead, Jacky nos relata, em narração em off, que acontecimentos traumáticos nunca deixam de nos perturbar. Eles sempre retornam com  intensidade devastadora. Esse relato instiga o espectador e nos faz  acompanhar os eventos propostos pelo roteiro no estudo de personagem. Por ser veterinário, o protagonista é cercado de animais e injeta substâncias ilegais para que os bois tenham um crescimento intenso. Assim como os bichos, Jacky também utiliza o hormônio no corpo, com a finalidade de reverter o irreversível. Como evitar os efeitos traumáticos na alma? Aos poucos o espectador acompanha os conflitos internos do protagonista, como também testemunha o vício em testosterona.  Jacky e os animais não são distintos. Em diversas cenas, o protagonista é movido pela impulsividade, Matthias Schoenaerts toma o filme para si, em uma performance que ressalta o físico, sem deixar de lado o olhar perdido imerso na solidão, de um homem que  afirma não ser capaz de sentir. Co

Quando o protagonista é o clichê (The Mustang)

Uma narrativa consegue emocionar pela previsibilidade? The Mustang é um exemplo de como o clichê é explorado em alguns elementos narrativos para envolver o espectador em torno das emoções. Na trama, Matthias Schoenaerts  - que apresenta nuances do personagem de Ferrugem e Osso - imprime  brutalidade e intensidade no olhar. O protagonista é preso e transferido para um programa de reabilitação visando o controle de seu comportamento violento, nele os detentos precisam domar os cavalos para que sejam leiloados. A narrativa repleta de momentos previsíveis envolve o espectador e emociona na temática central: a relação entre Mustang e Roman. Um é a extensão do outro. É importante perceber que a direção sabiamente compreende ao máximo o alcançe de Matthias, que com a mesma intensidade física demonstra uma vulnerabilidade no olhar que cativa o espectador. Neste momento, aliás, durante toda a narrativa, o espectador é bombardeado por uma infinidade de closes. The Mustang é claramente um filme c

Está tudo bem (Barbie)

Barbie, de  Greta Gerwig , possui uma temática feminina? Sim, no primeiro ato a infância de muitas mulheres que brincavam com acessórios, casas, piscinas e  bonecas ganham o devido destaque. O acerto da diretora é dar vida à Barbielândia nos mínimos detalhes e, consequentemente, estabelecer uma identificação direta com o público-alvo. O roteiro da dupla também visa os lucros da Mattel e apresenta os mais variados tipos de bonecas/ coadjuvantes, assim, nos faz reviver momentos de pura nostalgia. O filme começa a pecar no humor exagerado, quando a protagonista fala com todos e não consegue parar. Aqui,  o inevitável aconteceu: enquanto a nostalgia me aproximava, o humor  afastava. Bom, como já tinha em mente que boa parte do longa seria um obstáculo para mim, outros aspectos poderiam me envolver na busca da boneca em compreender o quanto é difícil ser humano. Na trama, após alguns devaneios, Barbie procura,"o oráculo", uma referência mais do que direta à Matrix, um marco da cul