Todos possuímos máscaras para vivermos em sociedade, algumas são acionadas dependendo do ambiente em que estamos inseridos. Seria natural se essas máscaras não ganhassem tons sombrios fugindo do cotidiano. Segredos de um Escândalo propõe um jogo de interesse baseado em como cada personagem utiliza uma máscara para alcançar objetivos específicos. No centro do jogo estão Elizabeth e Gracie que almejam reviravoltas em suas vidas. A protagonista chega em uma cidade pacata para fazer um estudo complexo sobre Gracie. Elizabeth é atriz e pretende interpretá-la em um filme independente, para isso ela decide passar o pouco de tempo que possui estudando trejeitos físicos e entendendo as motivações que levaram Gracie para a prisão. Porém, qual a máscara utilizada que transmite a verdadeira essência de cada personagem?
O roteiro de Samy Burch ressalta aos poucos o jogo entre as personagens e como cada uma utiliza as máscaras quando lhe convém. Elizabeth almeja o sucesso em um papel diferenciado e Gracie quer o perdão da sociedade travestido de vitimização. Mesmo que fique cada vez mais evidente a intensão da dupla, não sabemos ao certo a veracidade dos fatos. Gracie foi presa por manter um relacionamento com um jovem de treze anos. Décadas após o escândalo, o casal tenta estabelecer o cotidiano de aparências camufladas pelo abuso psicológico. Elizabeth é a faísca para que Gracie perceba que não pode controlar tudo e todos ao seu redor. Será? Quem está no controle?
As interpretações são o centro das peças do jogo e envolvem o espectador de tal forma que não sabemos ao certo quem está no comando ou quem finge estar para conseguir o que quer. Natalie Portman transmite uma atmosfera delicada, mas que de forma sutil manipula e desperta desejos adormecidos em Joe. O cuidado da atriz em intensificar os trejeitos, olhar e a maneira de falar de Gracie reforçam a maturidade e domínio da atriz em cada cena. Já Julianne Moore é o controle pela delicadeza ao proporcionar um timbre de voz que beira o infantil para Gracie. A tensão cresce à medida que cada personagem deseja modificar uma peça no jogo. O único transparente é Joe, interpretado pelo jovem Charles Melton, que na melancolia presente no olhar destaca a perda da inocência na ausência de motivação para recomeçar. Uma peça de fácil manipulação no jogo e batalha de egos entre Elizabeth e Gracie.
Toddy Haynes auxilia na movimentação das peças de aparências com reflexos no espelho onde duas mulheres são uma só. Cenas em que o reflexo sugere não somente a dualidade, como também diálogos que nas entrelinhas reforçam que máscaras podem cair a qualquer momento. Bergman com Persona mandam lembranças. Outro elemento utilizado pelo diretor é o close, principalmente em Natalie, ao tentar expor o real interesse de Elizabeth. O traveling destaca momentos de tensão entre as personagens e os conflitos internos de Joe ressaltando que cada um possui o tormento dentro de si.
O figurino reforça a aura de suspense em torno de Natalie. O preto intensifica uma sombra que permeia a protagonista em diversas cenas. Já os tons mais claros refletem uma falsa transparência / imitação da atriz buscando o reflexo de Gracie. Já o figurino de Julianne com vestidos brancos e tons claros destacam uma falsa transparência. Joe alterna tons de azul intensificando uma melancolia constante presente em um personagem refém de um relacionamento tóxico e abusivo. No jogo de aparências estabelecido pelas personagens, Joe faz o papel do espectador extremamente perdido e manipulado por máscaras que insistem em sobrepor emoções adormecidas pelo tempo.
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