Vivemos em uma época em que os fãs movem céus e terras por personagens queridos. Na intensidade das emoções, ainda temos a sensação de que o próprio ator não sabe onde começa e termina o personagem. Estou falando de Rocky ou de Stallone? Nem a pessoa que escreve sabe ao certo. E está tudo bem, aliás, tudo ótimo, porque Stallone ou Rocky são de uma sensibilidade e carisma sem tamanho. No imaginário dos fãs, Rocky estaria em Creed III, porém, após assistir o filme, não caberia uma pequena participação para Rocky, afinal, em Creed II, o protagonista finalmente libera a última fera que ainda está presa no porão: o afeto com o filho. Não seria justo com um personagem tão emblemático apenas participar com um pequeno arco.
Creed III marca a estreia de Michael B. Jordan na direção. Na trama, Adonis precisa lidar com traumas do passado e retornar aos ringues. Como sempre, o esporte é o pano de fundo para o que sempre impulsionou a franquia desde o primeiro filme em que o protagonista foi explorado, a verdadeira batalha são os conflitos internos dos personagens. Adonis proporciona uma chance para Damian após a saída da cadeia. Ele foi um prodígio do boxe, mas ficou preso por dezoito anos, agora, movido pelo rancor, também trava batalhas internas.
A previsibilidade do roteiro atrapalha no envolvimento emocional dos personagens. Como estudar o seu principal adversário sem ao menos saber com profundidade os conflitos internos que o motivam? Sabemos que Damian possui uma ligação forte com Adonis por conta da quantidade de flashbacks que surgem quebrando o elo emocional entre personagens e espectadores. Vale ressaltar que existe a possibilidade do antagonista retornar na franquia. Aqui consta uma das fragilidades do roteiro: proporcionar a superfície de um personagem forte, para que em um filme futuro, o espectador tenha o devido envolvimento. Como existir o confronto final na ausência do emocional?
Já na direção, Michael B. Jordan surpreende e apresenta autoria nos momentos decisivos. Mesmo que o espectador não tenha familiaridade com animes, fonte que o diretor utiliza nas lutas, o que prende aos poucos o espectador são os simbolismos como um colchão e as grades que surgem no lugar do ringue em si. Na questão da direção dos atores, Michael poderia lapidar melhor a composição de Jonathan Majors. A liberdade que Jordan proporciona ao ator pesa demais no envolvimento com o espectador. Majors domina nos detalhes que fazem diferença no contexto maior da caricatura. Se Michael observasse com mais atenção uma respiração aflita que grita por afeto, como fez ao focar no olhar de Jonathan na primeira conversa que a dupla teve; quando mesmo imerso na caricatura tentava a aprovação do amigo na luta em que ganha o título; ou na sobrancelha com um pequeno movimento, Creed III seria mais emoção e não o físico voltado para o estético.
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