Pular para o conteúdo principal

Somos Al Pacino (Casa Gucci)

 






Casa Gucci possui tantos equívocos que durante toda a projeção eu realmente me questionava se estava assistindo um filme com a assinatura de Ridley Scott. Devo confessar que o diretor me enganou por um determinado período do longa. A primeira hora do filme me envolveu de tal forma que estava empolgada com o amor dos jovens Maurizio e Patrizia. A cena em que os personagens dançam demonstra perfeitamente o contraste entre as personalidades. Ele possui um charme e timidez; já Ela é pura sedução com passos de dança que parecem ser tirados de um clip de Lady Gaga. Brincadeiras à parte, o contraste entre as personalidades envolve o espectador. Existe uma felicidade mutua compartilhada pelo casal que é quebrada quando surgem às intrigas, traição e jogo de poder pela pele Gucci, como afirma Patrizia em determinado momento. A trama se perde por completo quando Ridley explora a atmosfera densa da família. É compreensível que a atmosfera fosse modificada até porque o amor do casal é substituído pela ganância, porém, praticamente tudo muda drasticamente no longa e quem sente é o espectador. 

O roteiro é confuso principalmente quando explora a passagem de tempo na narrativa e as subtramas voltadas para o jogo de poder e traições. São tantos conflitos explorados que a narrativa ganha um ritmo apressado para que o espectador compreenda as ações dos personagens. O mercado paralelo de falsificação das bolsas, a ascensão e queda de Maurizio no comando dos negócios, a relação extraconjugal do protagonista, a personagem de Selma Hayek, as camadas de Domenico e a loucura de Patrizia ao saber que o casamento não exsite mais. O espectador não acompanha as transições presentes no roteiro fazendo tudo ganhar tons rasos. Um dos grandes equívocos que o espectador sente prejudicando o ritmo do longa são as camadas dos personagens que ganham uma atmosfera drástica compreensível pela dramaticidade exigida porém tudo ganha contornos muito distintos afastando o espectador de temáticas que poderíam aproximá-lo do casal. 


As interpretações passam do limite do caricato, com exceção de Al Pacino e Jeremy Irons que apresentam os coadjuvantes e sabem distinguir intensidade de canastrice. A canastrice fica por conta de Jared Leto. Adam Driver está bem na timidez um tanto quando exagerada que transmite certo charme para Maurizio, mas o ator esquece a introspecção quando apresenta um personagem firme assumindo os negócios da família. Ainda sinto que Lady Gaga é uma atriz mediana e em Patrizia essa questão fica evidente em vários momentos, desde o passo de dança para chamar a atenção de Driver, ou pelo fato de não alcançar a dramaticidade necessária. Tudo piora quando a protagonista intensifica o tom italiano beirando o melodrama. Não compreendo como Ridley simplesmente não dirigiu Jared Leto em cena. O tom cômico que o ator empresta para Paolo é tão canastra que provavelmente o fará ganhar um framboesa de ouro. Sem mencionar o sotaque. Meu Deus, o sotaque!!! 

Ridley apresenta ao espectador dois filmes em um, o primeiro é extremamente cativante e envolvente, já o segundo ganha contornos pesados com o ritmo lento que afasta o público de temáticas tão intensas. Toda a questão envolvendo intrigas e disputa de poder se perde em escolhas equivocadas embaladas pelo excesso. Excesso na trilha, nas interpretações e subtramas. A montagem é responsável pelo envolvimento no espectador no primeiro filme proporcionando tempo suficiente para que o espectador fique encantado pelo contraste das personalidades de Patrizia e Maurizio. O elemento também quebra todo o envolvimento ao somente apresentar os conflitos e não deixar com que o espectador participe da dramaticidade dos eventos. No desfecho somos Al Pacino em determinado momento quando esbraveja para o "idiota" Paolo: Não, Não, Não!"  




Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Entretenimento de qualidade (Homem-Aranha no Aranhaverso)

Miles Morales é aquele adolescente típico que ao grafitar com o tio em um local abandonado é picado por uma aranha diferenciada. Após a picada, a vida do protagonista modifica completamente. O garoto precisa lidar com os novos poderes e outros que surgem no decorrer da animação. Tudo estava correndo tranquilamente na vida de Miles, somente a falta de diálogo com o pai o incomoda, muito pelo fato do pai querer que ele estude no melhor colégio e tudo que o protagonista deseja é estar imerso no bairro do Brookling. Um dos grandes destaques da animação e que cativa o espectador imediatamente é a cultura em que o personagem está inserido. A trilha sonora o acompanha constantemente, além de auxiliar no ritmo da animação. O primeiro ato é voltado para a introdução do protagonista no cotidiano escolar. Tudo no devido tempo e momentos certos para que o público sinta envolvimento com o novo Homem-Aranha. Além de Morales, outros heróis surgem para o ajudar a combater vilões que dificultam s

Um pouquinho de Malick (Oppenheimer)

Um dos filmes mais intrigantes que assisti na adolescência foi Amnésia, do Nolan. Lembro que escolhi em uma promoção de "leve cinco dvds e preencha a sua semana". Meus dias foram acompanhados de Kubrick, Vinterberg e Nolan. Amnésia me deixou impactada e ali  percebi um traço importante na filmografia do diretor: o caos estético. Um caos preciso que você teria que rever para tentar compreender a narrativa como um todo. Foi o que fiz e  parece que entendi o estudo de personagem proposto por Nolan.  Décadas após o meu primeiro contato, sempre que o diretor apresenta um projeto, me recordo da época boa em que minhas preocupações eram fórmulas de física e os devaneios dos filmes. Pois chegou o momento de Oppenheimer, a cinebiografia do físico que carregou o peso de comandar a equipe do Projeto Manhattan,  criar a bomba atômica e "acabar" com a Segunda Guerra Mundial. A Guerra Fria já havia começado entre Estados Unidos e a Alemanha, no quesito construção da bomba, a ten

Rambo deseja cavalgar sem destino (Rambo: Até o Fim)

Sylvester Stallone ainda é o tipo de ator em Hollywood que leva o público aos cinemas. Os tempos são outros e os serviços de streaming fazem o espectador pensar duas vezes antes de sair de casa para ver determinado filme. Mas com Stallone existe um fator além da força em torno do nome e que atualmente move a indústria: a nostalgia. Rambo carregava consigo traumas da Guerra do Vietnã e foi um sucesso de bilheteria. Os filmes de ação tomaram conta dos cinemas e consagraram de vez o ator no gênero. Quatro décadas após a estreia do primeiro filme, Stallone resgata o personagem em Rambo: Até o Fim. Na trama Rambo vive uma vida pacata no Arizona. Domar cavalos e auxiliar no trabalho da policial local é o que mantém Rambo longe de certos traumas do passado. Apesar de tomar remédios contralodos, a vida beira a rotina. O roteiro de Stallone prioriza o arco de Gabriela, uma jovem mexicana que foi abandona pelo pai e que vê no protagonista uma figura paterna. No momento em que Gabriela d