O que torna um filme clássico? Uma trilha marcante, um diretor inovador, uma temática que vai além do lugar comum? E, acima de tudo, ainda permanece no imaginário do espectador? Todas as perguntas são atribuídas com louvor para O Massacre da Serra Elétrica, de Tobe Hooper. A Década de 1970 foi um marco em vários sentidos para o gênero. Filmes como O Bebê de Rosemary, O Homem de Palha, Suspíria e O Exorcista são exemplos de uma década em que o gênero ganhava força. O filme de Tobe Hooper buscou inspiração em um caso verídio dos Estados Unidos. Ed Gein foi um serial killer que matava e fazia máscaras com peles humanas. Ed também inspirou O Silêncio dos Inocentes, pois fazia roupas com as peles de mulheres que matava. Quando foi internado em um hospital psiquiátrico, os médicos suspeitavam que ele ao matar pensava que era a mãe. Outro clássico inspirado na vida real, Psicose, de Alfred Hitchcock.
O roteiro de Hooper acompanha a viagem de cinco jovens que de forma inesperada encontram o serial killer. O grupo decide dar carona para um jovem na beira da estrada. Hitchhiker apresenta comportamentos exóticos ao falar detalhadamente sobre como matar bichos e chega a pegar uma pequena faca para se cortar. Com esse ato extremo, o grupo apavorado consegue jogá-lo para fora do carro. Hooper apresenta um personagem fundamental e prepara aos poucos o espectador para o que está por vir. O coadjuvante é somente a ponta do iceberg para os atos de Leatherface, o homem mascarado, que surge e começa a matança repleta de muito sangue. O roteiro foca em uma trama simples, porém intensa pelo aspecto gráfico. As mortes são dignas de repulsa e perversidade. Em nenhum momento o chiclê de sabermos que todos vão morrer nos afasta do longa, muito pelo contrário, a atração é imediata. O que também nos faz refletir sobre a ousadia de Hooper em explorar temáticas complexas para a época. Digamos que a família de Leatherface também não ajuda. O avô sobrevive de sangue humano, os filhos possuem claramente problemas psíquicos e o pai os impulsiona por ser extremamente violento. Enfim, uma família tranquila com hábitos peculiares. A jovem Sally é a única sobrevivente que ainda passa por maus bucados ao pedir ajuda sustamente para o pai do mascarado. Temos mais meia hora de discussão familiar repleta de tortura e sangue, porém, a jovem consegue escapar deixando Leatherface literalmente dançando com a serra em mãos. Uma cena iconica que ecoa no imaginário do espectador.
Os elementos narrativos auxiliam na atmosfera tensa presente no longa. A trilha sonora é marcante com um som que causa arrepios no espectador. Incômoda, a trilha surge em momentos pontuais sempre premeditando a morte de um dos jovens. Uma trilha tão perturbadora que provoca a imersão do espectador. Outro ponto fundamental é a edição que intensifica e proporciona um ritmo cadenciado para cada morte. O elemento amplifica a sensação de terror gráfico presente nas cenas. A edição ganha força nas mãos de Hooper que abusa do close para extrair ao máximo o sofrimento dos personagens. A câmera é ágil em vários momentos quando Sally é torturada presa na cadeira. O diretor cria uma intensidade nervosa que acompanha a protagonista durante boa parte do longa. É preciso mencionar os efeitos visuais presente no filme que ganham destaque quando o espectador é convidado para o banquete familiar. Cabeças humanas misturam-se com as de animais em rituais que evidenciam a loucura dos coadjuvantes. O Massacre da Serra Elétrica é um clássico que causou calafrios na época do lançamento e até hoje inspira jovens cineastas. A trilha marcante, temáticas complexas e intensas, a mente perturbadora de um serial killer, atuações exageradas e pertinentes para o momento e a direção claustrofóbica de Hooper fazem do longa um clássico atemporal. Leatherface dança com sua companheira em um misto de loucura e solidão. Uma cena que evidencia a liberdade de Sally e o aprisionamento da violência crua de um personagem tão emblemático para a sétima arte.
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