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Jodie é digna de aplausos (O Silêncio dos Inocentes)


Esses dias estava participando de uma live sobre cinema e perguntei o motivo pelo qual Jodie Foster não recebia os devidos méritos pela atuação em O Silêncio dos Inocentes. O crítico prontamente respondeu:" Porque ela simplesmente divide as atenções com um dos maiores vilões do cinema". Ok, Anthony Hopkings está intenso e realmemte sentimos falta de Hannibal em cena, mas ao rever o clássico é preciso notar que Jodie também é igualmente importante para a narrativa como um todo.

Na trama Clarice é uma agente do FBI que investiga o assassinato de várias mulheres. O assassino retira a pele das jovens. O roteiro instiga o espectador em núcleos distintos: a investigação policial para chegar ao suspeito e o auxilio de Hannibal proporcionando pistas para que a jovem entenda a mente do assassino. Existe uma atmosfera tensa entre os personagens que permeia toda a narrativa. Anthony e Jodie intensificam a tensão e aos poucos de forma meticulosa Hannibal apresenta ao espectador um pouco mais sobre a vida de Clarice e os conflitos internos da personagem.


Clarice é tão importante quando Lecter, apesar de muitos focarem somente na presença ameaçadora do psicopata. Jodie vive logo nas primeiras cenas um ambiente totalmente opressor. Rodeada pela presença masculina, a personagem sofre assédio no trabalho, além de ter que provar a todo momento que é competente o suficiente. A personagem demonstra nos detalhes toques femininos. Um par de brincos de pérolas discreto e cores frias no figurino. Somente quando a investigação avança as unhas e batom surgem no tom vermelho. Jodie duela com Anthony de forma intensa e o jogo realizado pelos atores é de total equilíbrio.

Se Jodie mantém a tensão até o desfecho da narrativa, Anthony provoca um vazio quando a trama foca somente na investigação. O vilão icônico que marcou a sétima arte ainda se faz presente no imaginário do espectador. A presença de Anthony é tão marcante que lhe rendeu um Oscar de Melhor Ator. Quase três décadas após o lançamento, rever o clássico continua sendo um deleite pela aula de interpretação que Anthony proporciona. O domínio que o ator possui em cena e a intensidade do personagem envolve o espectador. Não sabemos muito sobre Hannibal, mas sabemos que a presença do ator causa medo. O personagem vive cercado, mas quem fica preso é o público na maestria do ator em cena.

Os elementos narrativos auxiliam no decorrer dos atos e reforçam o jogo psicológico entre Clarice e Hannibal. A mise- en-scène sempre evidencia a presença de Anthony de forma superior, porém em determinado momento, quando Clarice toma as rédeas do jogo, ela surge de pé e o psicopata sentado. A fotografia explora o vermelho no primeiro momento que Clarice entra na cela ressaltando a tensão existente mesmo na ausência física de Lecter. Vários objetos cênicos aparecem em vermelho,  a cor está sempre presente, mesmo nos detalhes. E, claro, o domínio na direção ao criar a atmosfera e explorar ao máximo o close- up para intensificar o jogo psicológico entre os atores. Anthony é superior em cena, mas Jodie, assim como sua Clarice é digna de aplausos.

Comentários

Anônimo disse…
Faltou foco no texto.
Paula Biasi disse…
Obrigada pela crítica. Volte Sempre.

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