Realizar um filme que pretende homenagear alguns clássicos do terror e proporcionar ao espectador um plot twist, no mínimo, questionável. Essa é a premissa de Um Clássico Filme de Terror que explora ao máximo pontos que já foram revisitados do gênero. Um grupo de jovens perdidos em uma "floresta" à mercê de uma seita que "recruta" vítimas para sacrifícios mortais. Já na sinopse podemos identificar três referências: O clássico, O Homem de Palha (1973), Midsommar (2019), que claramente buscou inspiração no primeiro e O Massacre da Serra Elétrica (1974), ou seja, um ciclo sem fim de homenagens que nos guiará...ops, O Rei Leão.
Ari Aster intensificou pontos explorados no clássico, porém, a autoria move a narrativa como um todo. Já Roberto de Feo e Paolo Strippoli tentam proporcionar ao longa uma roupagem conhecida dos fãs do gênero, porém, com um pé, ou melhor, o corpo todo no deboche. O que nos faz refletir sobre a importância das homenagens e como explorá-las sem transmitir a sensação de cópia propriamente dita.
O roteiro de Roberto busca o envolvimento do espectador nos dois primeiros atos evidenciando os conflitos internos dos personagens. Cada um possui o devido destaque, mesmo que seja mirabolante demais aceitar como os rumos da trama mudam drasticamente para alguns deles. Não que chegue a prejudicar o todo, pois o roteiro prepara o terreno com frases que destacam o humor e tornam plausível essa mudança. Fabrizio, em determinado momento, afirma que o cinema italiano já não desperta tanto interesse. Nos créditos finais, em um chat virtual, espectadores falam que o filme é pura cópia dos demais. Roberto aponta no roteiro aspectos que nos levam a seguinte reflexão: pode ser cópia mesmo, porém, te apresento uma nova roupagem. E à medida que o roteiro avança, o espectador sabe que a vida de cada um está por um fio. Agora, no terceiro ato, o plot twist possui assinatura e ganha o espectador por transportá-lo para a realidade. Comprar a mudança proposta me instigou ainda mais na narrativa e inseri-lá na cultura italiana intensifica ainda mais a atmosfera cômica.
A dupla também possui uma direção questionável, pois, até certos enquadramentos são cópias de determinados filmes, especialmente, O Massacre da Serra Elétrica, que os mais familiarizados com o gênero recordam de uma cena em que a jovem sobrevivente do clássico começa a ter ânsia de vômito. Aqui a "roupagem" ganha contornos justificáveis pelo estado da protagonista. Mudança no roteiro ou cópia? E os diretores continuam com os enquadramentos bem próximos do clássico, como também na cena em que a jovem Sofia cai na floresta e o diretor foca no corpo da atriz. Referências e mais referências. A direção não deixa de apresentar um longa interessante para a nova geração que não teve contato com os demais filmes. O cuidado com a estética é motório e atrai não somente os jovens como também o espectador mais exigente. As referências seguem também na trilha incômoda, muito próxima do clássico. O mesmo acontece com a fotografia e os créditos iniciais que resgatam alguns filmes do diretor Dario Argento. Aqui vale uma menção ao trabalho de Luca Guadagnino, no remake de Suspíria- A Dança do Medo, um clássico do terror de Dario que ganhou autoria total nas mãos do diretor.
Matilda Lutz possui o exagero e o pé no melodrama marcantes do cinema italiano, mas consegue impor uma presença significativa e os diretores exploram esse aspecto com vários closes. Peppino Mazzotta vale pela simples menção debochada do roteiro. Fabrizio comenta que Riccardo poderia ser facilmente galã de algum filme. Realmente, Peppino Mazzotta gera uma atração instântanea. Já Francesco Russo é o clichê em pessoa que ganha o espectador pelas nuances cômicas. A junção da direção e entrega dos atores impulsionam a narrativa e nos faz até esquecer no decorrer dos atos a pergunta que persiste: é uma cópia ou homenagem ? Acredito que a cena dos créditos finais responde da melhor forma possível essa questão. É uma cópia com roupagem moderna.
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