Luca Guadagnino logo no primeiro ato cria uma gradação de tensão que percorre o filme até o auge visual no desfecho. O diretor explora os personagens e intensifica ao máximo a atmosfera ressaltada pela troca de olhares entre as professoras da prestigiada Markos Company. Outro aspecto que contribui para a tensão é o pano de fundo da Guerra Fria. Os personagens são tomados pela magia do local, mas também pela insegurança e medo do período histórico. Além da autoria que acompanha todo o filme, Luca explora ao máximo o jogo de espelhos e a coreografia nas cenas. A sugestão de que algo estranho acontece no local acompanha o espectador durante boa parte do filme é reforça o equilíbrio e firmeza da câmera de Guadagnino. Quando o diretor quer exagerar no impacto das cenas o resultado é gritante e visceral. Luca sabe dosar os momentos precisos para chegar ao ápice no desfecho que reforça a sincronia entre dos elementos e direção distanciando definitivamente do terror da versão de Argento.
O roteiro de David Kajganich intercala de forma intensa as subtramas dentro da narrativa. O pano de fundo da Guerra Fria se faz presente e equilibra a tensão presente no impacto visual em Markos. Os olhares entre as atrizes, a investigação e o romance do psiquiatra tornam a trama mais rica ao focar não somente no terror, mas também no arco dos demais personagens. Outro elemento narrativo que intensifica as subtramas e proporciona um ritmo interessante para o filme é a montagem. Ela auxilia ao intercalar rimas visuais e na gradação da tensão. Aos poucos o espectador aguarda o ápice da cena em que Susie dança sob o efeito da magia de Madame Blanc. Ao proporcionar cortes precisos, a montagem reforça não somente o envolvimento do espectador, mas também a intensidade do gênero. O contorcionismo de uma das alunas e a sincronia das danças é resultado do belo trabalho realizado por Walter Fasano.
Suspíria - A Dança do Medo conta com um elenco feminino de peso que consegue elevar a tensão entre os atos da narrativa. As "professoras" de Markos são interpretadas por atrizes competentes. O equilíbrio entre o drama e a comédia está presente de forma cativante na figura de Miss Vendegast. A vivacidade que Ingrid Caven empresta para a personagem é o destaque dentre as veteranas. Já Tilda Swinton interpreta Madame Blanc com uma presença marcante mesmo na ausência de expressão, o que casa perfeitamente com a frieza da personagem. Dakota Johnson possui o ar ingênuo e angelical que Susie necessita. A tensão maior entre as jovens atrizes fica por conta de Mia Goth que investiga o desaparecimento de Patrícia. Todas transmitem segurança para que o arco das personagens fique completo na trama.
Todos os elementos narrativos corroboram para criar a atmosfera tensa da trama que alterna entre o drama, suspense e terror. A gradação da tensão é trabalhada de forma eficiente pela câmera de Luca Guadagnino. O jogo de espelhos, a fotografia vibrante, a trilha envolvente, as atuações firmes do elenco feminino, o roteiro que consegue equilibrar os arcos e subtramas dos personagens e, principalmente, a autoria que distancia muito da primeira versão fazem de Suspíria - A Dança do Medo um filme incomodo e envolvente. Luca reforça a ideia de que remakes podem ser analisados com outro olhar, Um olhar autoral e renovador.
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