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O momentâneo que marcou uma geração (Trainspotting- Sem Limites)


Trainspotting foi um filme que marcou uma geração de espectadores na estreia. Lembro da sensação que tive quando saí do cinema. Estava entorpecida pelo impacto das imagens e principalmente pela trilha sonora. Na época fiquei impressionada com o ritmo que a narrativa tomava no decorrer dos atos, mas também me recordo que a sensação logo passou, pois minha geração estava mergulhada na era dos vídeo clipes, a MTV era o comentário entre meus amigos e, neste momento, o impacto logo foi tomado pela zona de conforto. Trainspotting pegava carona nessa geração que estava imersa em um mundo paralelo repleto de sons. Rever Trainspotting é observar a importância que o filme teve para uma geração que ligava a TV e escolhia uma banda por telefone (sim, por telefone), para ficar no topo dentre tantas no dia. 

O roteiro, em narração em off, destaca as angústias e conflitos internos de cada personagem. Os coadjuvantes são desenvolvidos de forma intensa com o devido destaque. Existe um humor no roteiro que proporciona o respiro para a narrativa. Destaque para a construção de Ewen Bremner que envolve o espectador com o teor cômico. A única personagem deslocada na trama é Diane que surge em momentos pontuais como a consciência de Renton. E Ewan McGregor é o destaque que move os demais personagens e o grupo como um todo. O roteiro busca o equilíbrio entre a sobriedade e angústias da dependência e o ator alterna com competência esses momentos.

A empolgação momentânea da época dá lugar ao olhar mais apurado dos dias atuais. A importância dos elementos narrativos auxiliam no arco do quarteto de "amigos". O desing de produção é puro reflexo do cotidiano de um grupo viciado em heroína. A desorganização e falta de higiene intensificam o caos vivido pela falta de perspectiva dos personagens. O destaque fica para o Tommy que vive em um apartamento organizado, por ser um dos coadjuvantes que não é usuário. Após uma desilusão amorosa, o personagem logo torna-se usuário e o desing de produção destaca a decadência em objetos jogados pelo chão e um único colchão para simplesmente deitar. 

Impossível não mencionar a importância da trilha sonora na narrativa. A trilha impulsiona as ações dos personagens e deixa o espectador imerso em cada detalhe da narração de Renton reforçando ainda mais o aspecto vídeo clipe presente na narrativa. O que também contribui para o ritmo pulsante do longa é a montagem. São cortes secos  e constantes proporcionando o devido destaque para cada coadjuvante. Outro elemento narrativo que vale destacar é a direção de Danny Boyle que intensifica a experiência alternando planos para que o espectador sinta a angústia da abstinência de Renton, uma cena que marca a narrativa e ressalta a autoria do diretor. Trainspotting marcou uma geração de espectadores que mergulhava no impacto causado pela MTV e que consumia tudo em uma velocidade frenética. Porém, o filme demonstra que o ritmo pulsante envolve e emociona mesmo que momentaneamente. 

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