Você faria tudo pela fama? Deixaria tudo para trás para viver um sonho? Conseguiria manter a estabilidade emocional e camuflar uma persona para o mundo? Essas perguntas movem a trama de Yesterday. Jack Malik vive uma vida modesta e canta basicamente para os amigos. De bar em bar, o cantor e compositor vive do entusiasmo de sua melhor amiga e empresária. Ellie sempre esteve presente na vida do amigo, provavelmente é a única que realmente acredita na carreira de Jack. O protagonista está prestes a desistir de tudo quando um acidente muda a sua vida por completo. Ser famoso agora é uma realidade. Jack é conhecido mundialmente por conta da rapidez das redes sociais. O grande problema é que o protagonista toma para si um repertório que não é dele. As músicas são do quarteto de Liverpool. Sim, as músicas são dos Beatles. Como no dia do acidente houve um apagão mundial, o protagonista descobre ao pesquisar na internet que os Beatles nunca existiram. O sucesso é imediato, mas será que Jack conseguirá manter a mentira por muito tempo?
O roteirista Richard Curtis segue a cartilha das comédias românticas leves e divertidas. Himesh Patel e Lily James são melhores amigos que estão cercados de coadjuvantes que roubam todas as cenas. A trama é repleta de clichês que aquecem o coração. O protagonista percebe que ama a melhor amiga quando está prestes a gravar um disco. Tem o amigo que vive no mundo da lua e que ofusca o protagonista. O pai que está mais preocupado com as comidas do que com a carreira do filho. E toda a cartilha segue a leveza de outros trabalhos de Richard fazendo com que o espectador não perceba o tempo passar entre os atos. Os coadjuvantes tomam conta de grande parte do filme. É uma pena que dois personagens específicos responsáveis pelo plot twist e por um certo suspense não são explorados o suficiente. Mesmo que o espectador mais jovem não se identifique com as músicas do quarteto de Liverpool, ainda terá uma comédia romântica com aqueles chiclês que todo espectador gosta de acompanhar. E para aqueles que conhecem as músicas dos Beathes, o musical dá um salto gigantesco e o tempo passa ligeiro no embalo das canções que marcaram gerações mumdo a fora. O espectador torce pelo protagonista mesmo sabendo que toda a fama é fruto de uma farsa. O humor é o ponto chave para envolver por completo o espectador. As participações especiais, as bandas referências da cultura pop, tudo o que foi esquecido (viver em um mundo onde não existe coca-cola?) é explorado de forma leve e cativante.
Outro aspecto importante que auxilia na leveza e ritmo do filme é a autoria de Danny Boyle. Os trabalhos do diretor ressaltam uma agilidade que envolve o espectador. Yesterday possui o viés frenético que dialoga perfeitamente com a visão de Danny na direção. Primeiro plano no protagonista e planos tortos destacam momentos importantes na vida de Jack. A montagem também possui um papel fundamental no musical. No decorrer dos atos ela é explorada com a trilha sonora em momentos de transição para proporcionar ao espectador a sensação de um ritmo contínuo e contagiante. A tríade composta por direção, trilha e montagem proporciona ao filme uma fluidez intensa e marcante.
Vale destacar também o trabalho da direção de arte ao proporcionar ao espectador uma trama repleta de cores e vivacidade. Quando Patel tenta lembrar as letras das músicas as colunas com post-it são vibrantes reforçadas pelo close do diretor. Se a direção de arte proporciona cor ao filme, o figurino complementa perfeitamente a persona de Ellie. A personagem sempre veste estampas floridas e delicadas reforçando a meiguice presente no trabalho de composição da atriz. Além do figurino, o trabalho de Lily é encantador e cativa o espectador. A química entre os atores move a trama, mesmo que durante os atos os coadjuvantes tomem o filme para si.
Yesterday é um filme leve e divertido que explora a importância da música na conexão com um mundo melhor. Em determinado momento uma personagem agradece Jack por fazer o mundo lembrar dos Beatles. As canções do quarteto de Liverpool marcaram várias gerações e são atemporais porque falam de amor. E a mesma personagem que agradece Jack solta a pérola: como o mundo pode viver sem Os Beatles?
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