Cada vez mais adaptações literárias que ganham às telas levam consigo o dono da obra. Os autores também são os roteiristas e a probabilidade do resultado não ser satisfatório é grande. Foi assim em Animais Fantásticos: Os Crimes de Grindelwald, que não teve uma boa recepção por conta da confusão entre as subtramas provocada por J. K. Rowling. O mesmo acontece com Mundo em Caos, que também poderia ser uma franquia, porém, o roteiro prejudica o filme de seguir à diante. A trama foca em um planeta onde as mulheres são extintas e os homens possuem uma espécie de ruído. Esse ruído pode ser escutado por todos os homens. Tudo muda quando uma nave caí no planeta de Todd com Viola totalmente perdida. A jovem nunca teve contato com as coisas simples da vida, como sentir à chuva ou brincar com um cachorro. Todd logo decide ajuda-la, pois Mayor quer alguns benefícios ao captura-la.
O roteirista Patrick Ness, responsável pela ótima adaptação de Sete Minutos Depois da Meia-Noite, não consegue a mesma intensidade no novo projeto. Mundo em Caos é literalmente um caos em cada ato. Nunca pensei que fosse desejar um roteiro mais expositivo em uma trama porque aqui o espectador não compreende praticamente nada das camadas dos personagens, não existe um preparo para que o público tenha o envolvimento necessário para compreender os conflitos internos e motivações dos protagonistas e coadjuvantes. As reviravoltas acontecem por pura conveniência, principalmente, nos personagens Aaron e Ben.
Nada é tão ruim que não possa piorar. A narrativa piora e muito pela falta de química dos protagonistas. Viola possue objetivos específicos e está focada em achar uma nave para estabelecer contato com o seu planeta. Para ela, o foco é a sobrevivência e não tem tempo para romance. Só que se o roteiro explora essa possibilidade era preciso um casal com um pouquinho de química. Quando um começa a ajudar o outro, a atração física não acontece e o filme perde a força. Se a falta de química fosse o único problema, mas os demais surgem aos montes. Personagens aparecem e se distanciam da narrativa por pura conveniência que o espectador até percebe o momento exato do retorno. Mads Mikkelsen está seguro na construção do personagem, mas o ator nada pode fazer com a ausência de rumo para Mayor Prentiss, totalmente movido pelas conveniências.
Além dos problemas de roteiro e atuação, outro elemento narrativo que prejudica consideravelmente o todo é a edição. Os sucessivos cortes não proporcionam ao espectador o envolvimento com os personagens. Os conflitos internos sofrem cortes para dar prioridade a jornada da dupla. A falta de desenvolvimento do roteiro provoca uma bola de neve gerando um caos completo nos demais elementos presente no longa. Como os personamentos do protagonista surgem em tela a todo o momento podemos nos colocar no lugar do espectador refletindo em várias cenas: "Nossa, o filme não acaba!", "Olha ele aparecendo novamente", "Me poupe o Nick Jonas!". Enfim, de certeiro mesmo só o caos do título.
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