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A angustiante caça ao protagonista (A Caça)



O que fazer quando há exatos dez anos atrás você assiste a um filme que se tivesse oportunidade de rever atualmente teria a mesma reação? Quando vi Festen (Festa de Família), de Thomas Vinterberg, logo percebi que se tratava de um diretor diferenciado. Mencionei o filme, pois o diretor aborda a mesma temática, a pedofilia, em A Caça.

Por ser um assunto delicado, o grande trunfo de Thomas é deixar claro para o espectador que o protagonista não é culpado de um ato tão extremo e hediondo. Sofremos junto com Lucas, que vai do céu ao inferno em questão de minutos. Toda conduta construída como professor de uma creche é colocada em dúvida quando uma criança (com uma imaginação extremamente fértil) afirma que ele a molestou.
  

Acredito que diretores quando também são atores deixam “suas marionetes” mais confortáveis por saber o exercício da atuação e Thomas consegue extrair de Mads Mikkelsen uma atuação impecável. O ator atinge o seu melhor desempenho e transmite a perturbação de Lucas aos poucos, envolvendo o espectador em cada ato. Praticamente em todo o filme o ator consegue expressar a angústia necessária sem exageros, somente com o olhar. Quando você acredita que o protagonista já sofreu o suficiente, mero engano, o filme está só começando.

Por se tratar da pequenina Klara, a cidade começa a hostilizar Lucas de todas as formas possíveis, quando tudo e todos o sufocam, o espectador vira aliado do protagonista e o desconforto é inevitável durante a maior parte de A Caça. Seu filho, Marcus, e alguns amigos de longa data acreditam em sua inocência, pois  em determinado momento, Klara afirma que foi molestada no porão da casa de Lucas, mas Marcus respira aliviado, junto com espectador, pois sabe que não existe porão em sua casa. A verdadeira caça ao protagonista acaba após um ano, onde tudo "parece" voltar ao normal.  Será ?

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