Pular para o conteúdo principal

Um clássico entre os independentes (Mank)


Mank é o tipo de filme que a Academia gosta de premiar e as dez indicações confirmam o favoritismo em relação aos demais longas. O diretor David Fincher convida o espectador a mergulhar na Hollywood dos anos 30 e 40. A trama explora os bastidores conturbados do roteirista Herman J. Mankiewicz ao escrever o Clássico Cidadão Kane. Herman é responsável por chefiar o departamento de roteiros da MGM e, por esse motivo, não poderia ter o seu nome creditado, no que até hoje é considerado por muitos críticos o maior filme do cinema. O espectador acompanha a briga entre Herman e Wells pelo script da obra e as batalhas pessoais do protagonista. 

Muito do que vemos em Cidadão Kane está presente em Mank. David Fincher, além de nos transportar para outra época, nos instiga em uma bela homenagem repleta de aspectos técnicos e estilísticos. Os elementos narrativos ressaltam a preocupação de Fincher com os mínimos detalhes que fazem toda a diferença para alcançar a aura da Era de Ouro do cinema americano. Profundidade de campo, fotografia específica da época com detalhes no canto da película, a edição de som com um aspecto abafado e o cuidado com o figurino. Tudo explorado por Fincher para apresentar ao espectador uma época de glamour.

Falar de Gary  Oldman é ressaltar a versatilidade do ator. Oldman pode fazer personagens de cunho duvidoso, como no pavoroso A Possessão de Mary, escolhido aqui no blog como pior filme de 2020, como também pode mover a trama com extrema competência em Mank. Aqui existe um misto de camadas do protagonista que cativa o espectador. Gary é galanteador, sóbrio, atormentado pelo vício e consciente da importância do personagem em defender a autoria da escrita em Cidadão Kane. Já a beleza e leveza de Amanda Seyfried dialoga com a aura das atrizes clássicas e os coadjuvantes são fundamentais para que os bastidores dos estúdios de Hollywood ganhe vida.

Mank é uma bela homenagem do fazer cinema. Um retorno ao Clássico que possui dois objetivos: atingir um público específico que acompanha o cinema por décadas e alcançar o público jovem que pode estranhar o primeiro contato com o cinema Clássico. Independente do alvo, Fincher consegue mesmo é atingir em cheio os votantes da Academia. Dez indicações reforçam que a atmosfera clássica ainda possui força, em um ano atípico com o domínio de filmes independentes na lista de melhor filme.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Entretenimento de qualidade (Homem-Aranha no Aranhaverso)

Miles Morales é aquele adolescente típico que ao grafitar com o tio em um local abandonado é picado por uma aranha diferenciada. Após a picada, a vida do protagonista modifica completamente. O garoto precisa lidar com os novos poderes e outros que surgem no decorrer da animação. Tudo estava correndo tranquilamente na vida de Miles, somente a falta de diálogo com o pai o incomoda, muito pelo fato do pai querer que ele estude no melhor colégio e tudo que o protagonista deseja é estar imerso no bairro do Brookling. Um dos grandes destaques da animação e que cativa o espectador imediatamente é a cultura em que o personagem está inserido. A trilha sonora o acompanha constantemente, além de auxiliar no ritmo da animação. O primeiro ato é voltado para a introdução do protagonista no cotidiano escolar. Tudo no devido tempo e momentos certos para que o público sinta envolvimento com o novo Homem-Aranha. Além de Morales, outros heróis surgem para o ajudar a combater vilões que dificultam s

Um pouquinho de Malick (Oppenheimer)

Um dos filmes mais intrigantes que assisti na adolescência foi Amnésia, do Nolan. Lembro que escolhi em uma promoção de "leve cinco dvds e preencha a sua semana". Meus dias foram acompanhados de Kubrick, Vinterberg e Nolan. Amnésia me deixou impactada e ali  percebi um traço importante na filmografia do diretor: o caos estético. Um caos preciso que você teria que rever para tentar compreender a narrativa como um todo. Foi o que fiz e  parece que entendi o estudo de personagem proposto por Nolan.  Décadas após o meu primeiro contato, sempre que o diretor apresenta um projeto, me recordo da época boa em que minhas preocupações eram fórmulas de física e os devaneios dos filmes. Pois chegou o momento de Oppenheimer, a cinebiografia do físico que carregou o peso de comandar a equipe do Projeto Manhattan,  criar a bomba atômica e "acabar" com a Segunda Guerra Mundial. A Guerra Fria já havia começado entre Estados Unidos e a Alemanha, no quesito construção da bomba, a ten

Rambo deseja cavalgar sem destino (Rambo: Até o Fim)

Sylvester Stallone ainda é o tipo de ator em Hollywood que leva o público aos cinemas. Os tempos são outros e os serviços de streaming fazem o espectador pensar duas vezes antes de sair de casa para ver determinado filme. Mas com Stallone existe um fator além da força em torno do nome e que atualmente move a indústria: a nostalgia. Rambo carregava consigo traumas da Guerra do Vietnã e foi um sucesso de bilheteria. Os filmes de ação tomaram conta dos cinemas e consagraram de vez o ator no gênero. Quatro décadas após a estreia do primeiro filme, Stallone resgata o personagem em Rambo: Até o Fim. Na trama Rambo vive uma vida pacata no Arizona. Domar cavalos e auxiliar no trabalho da policial local é o que mantém Rambo longe de certos traumas do passado. Apesar de tomar remédios contralodos, a vida beira a rotina. O roteiro de Stallone prioriza o arco de Gabriela, uma jovem mexicana que foi abandona pelo pai e que vê no protagonista uma figura paterna. No momento em que Gabriela d