Pular para o conteúdo principal

O ícone merece mais, muito mais... (Mulher-Maravilha 1984)


Diz o ditado que em time que está ganhando não se mexe, então voltam todas as peças que fizeram Mulher - Maravilha dar certo para o segundo filme solo da heroína. Patty Jenkings, na direção e Gal Gadot, como protagonista. O que poderia dar errado? Sempre afirmo que se a base, o roteiro, não for bom tudo desanda de tal forma que os demais elementos gritam por atenção. É o caso de Mulher-Maravilha 1984, que tem como maior vilão justamente a base. Na trama a heroína enfrenta dois vilões e reencontra o amor verdadeiro ao fazer um desejo para uma pedra diferenciada. Diana deseja a volta de Steve; Barbara quer ser como Diana e Maxell almeja poder. Com os desejos devidamente concedidos tudo foge do controle.

O roteiro também escrito por Patty explora várias subtramas e não consegue manter o foco ao desenvolvê-las. Barbara deseja ser atraente como Diana e após algumas cenas ganha a notável habilidade de andar com salto alto. Essa é a maior habilidade de Diana? Vários diálogos são estabelecidos com coadjuvantes que reforçam a tal força. Esbarrou na personagem, alguém comenta: "Nossa, que lindos sapatos!". E o desenvolvimento de Barbara em Mulher- Leopardo perde a força. Sem falar no romance com Maxwell que é sugerido e descartado em uma única cena, os personagens unem forças por pura conveniência. Já Pedro Pascal brinca como ninguém com o personagem, porém as motivações do vilão são extremamente vazias. Na metade do segundo ato, Marwell somente aparece em cortes de cenas para realizar desejos. Chris Pine retorna com carisma e humor apenas para auxiliar Diana e nada mais. Uma pena porque a química entre os atores é o que faz o espectador não abandonar a trama por completo. E Gal Gadot é Diana/Mulher-Maravilha. A atriz compreende as nuances da personagem, porém em cenas mais dramáticas deixa a emoção de lado. O roteiro desenvolve a personagem intensificando a ausência de foco. Diana precisa dar conta das várias subtramas e em determinados momentos frases soltas surgem para amarrar o que se quer teve desenvolvimento. "Preciso resolver como meu namorado surgiu no corpo de outro homem", "Ele está no Cairo", "Eu quero algo dominador, felino". Por falar em frases soltas, o poder feminino é ressaltado sempre que surge um homem na tela. Quanta decepção envolvida em um ícone dos quadrinhos. 
 

Se a direção envolve o espectador nas cenas de Themyscira, o mesmo não acontece no confronto entre Mulher-Maravilha e Mulher-Leopardo. Se alguém conseguiu ver alguma cena, me avise! Porém, vale ressaltar o cuidado da direção de arte e figurino ao destacar a década de 1980. A cena do shopping é exagerada e combina com a atmosfera dos filmes que marcaram aquela época. Vários detalhes surgem para ambientar o espectador. O exagero se faz necessário com cenas galhofas e divertidas. Por falar em galhofa, o que foi a construção de personagem de Pedro Pascal? O ator é pura diversão e proporciona humor ao vilão sem motivações. Mulher-Maravilha peca em vários aspectos proporcionando ao espectador uma narrativa sem rumo reputada de pontas soltas. Resta saber se o terceiro longa terá  uma base digna da força da heroína. DC, o ícone merece mais, muito mais.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Entretenimento de qualidade (Homem-Aranha no Aranhaverso)

Miles Morales é aquele adolescente típico que ao grafitar com o tio em um local abandonado é picado por uma aranha diferenciada. Após a picada, a vida do protagonista modifica completamente. O garoto precisa lidar com os novos poderes e outros que surgem no decorrer da animação. Tudo estava correndo tranquilamente na vida de Miles, somente a falta de diálogo com o pai o incomoda, muito pelo fato do pai querer que ele estude no melhor colégio e tudo que o protagonista deseja é estar imerso no bairro do Brookling. Um dos grandes destaques da animação e que cativa o espectador imediatamente é a cultura em que o personagem está inserido. A trilha sonora o acompanha constantemente, além de auxiliar no ritmo da animação. O primeiro ato é voltado para a introdução do protagonista no cotidiano escolar. Tudo no devido tempo e momentos certos para que o público sinta envolvimento com o novo Homem-Aranha. Além de Morales, outros heróis surgem para o ajudar a combater vilões que dificultam s

Um pouquinho de Malick (Oppenheimer)

Um dos filmes mais intrigantes que assisti na adolescência foi Amnésia, do Nolan. Lembro que escolhi em uma promoção de "leve cinco dvds e preencha a sua semana". Meus dias foram acompanhados de Kubrick, Vinterberg e Nolan. Amnésia me deixou impactada e ali  percebi um traço importante na filmografia do diretor: o caos estético. Um caos preciso que você teria que rever para tentar compreender a narrativa como um todo. Foi o que fiz e  parece que entendi o estudo de personagem proposto por Nolan.  Décadas após o meu primeiro contato, sempre que o diretor apresenta um projeto, me recordo da época boa em que minhas preocupações eram fórmulas de física e os devaneios dos filmes. Pois chegou o momento de Oppenheimer, a cinebiografia do físico que carregou o peso de comandar a equipe do Projeto Manhattan,  criar a bomba atômica e "acabar" com a Segunda Guerra Mundial. A Guerra Fria já havia começado entre Estados Unidos e a Alemanha, no quesito construção da bomba, a ten

Rambo deseja cavalgar sem destino (Rambo: Até o Fim)

Sylvester Stallone ainda é o tipo de ator em Hollywood que leva o público aos cinemas. Os tempos são outros e os serviços de streaming fazem o espectador pensar duas vezes antes de sair de casa para ver determinado filme. Mas com Stallone existe um fator além da força em torno do nome e que atualmente move a indústria: a nostalgia. Rambo carregava consigo traumas da Guerra do Vietnã e foi um sucesso de bilheteria. Os filmes de ação tomaram conta dos cinemas e consagraram de vez o ator no gênero. Quatro décadas após a estreia do primeiro filme, Stallone resgata o personagem em Rambo: Até o Fim. Na trama Rambo vive uma vida pacata no Arizona. Domar cavalos e auxiliar no trabalho da policial local é o que mantém Rambo longe de certos traumas do passado. Apesar de tomar remédios contralodos, a vida beira a rotina. O roteiro de Stallone prioriza o arco de Gabriela, uma jovem mexicana que foi abandona pelo pai e que vê no protagonista uma figura paterna. No momento em que Gabriela d