Pular para o conteúdo principal

Um roteiro superficial (Skin)


Skin lembra em vários momentos o filme A Outra História Americana. Nele o protagonista vive aos poucos os conflitos internos de pertencer a um grupo extremista que prega a supremacia branca. O estudo de personagem é menos desenvolvido do que o de Edward Norton. O foco é a transformação de atitudes e pensamentos do protagonista. Jamie Bell  vive Bryon Widner que foi adotado por um casal que lidera as ações do grupo. No outro lado da moeda Daryle resgata jovens e os faz perceber o quanto estão equivocados. O filme começa com uma manifestação em que Bryon quase mata um jovem negro. A partir desse momento o protagonista reflete sobre os rumos de sua vida e como o amor de Julie o faz ter a noção de laços familiares.

O roteiro foca na transição e conflitos internos do protagonista, porém, tudo é explorado de uma forma superficial. O espectador não é ambientado nos ideais do movimento, somente nas ações praticadas pelos membros do grupo. A personagem de Vera Farmiga toca em algumas questões que os motivam a praticarem certos atos de extremismo, mas não existe aprofundamento algum nas motivações dos personagens. Podemos fazer uma leitura sobre a superficialidade do roteiro, pois os membros e até mesmo quem fundou o grupo não sabem ao certo o que motiva. O mais recente membro do grupo é a exemplificação do quanto todos estão perdidos no ódio que sentem. Bryon o questiona sobre suas motivações, ele exita e após uma breve pausa confessa: " Entrei para o grupo porque estava com fome". Esse é o único momento de total esclarecimento no roteiro. Os atos são explorados de forma rápida sem que o espectador perceba o que de fato é importante na trajetória do protagonista.  


O destaque fica por conta da jovem atriz Danielle Macdonald que rouba as cenas como mãe solteira que também pertencia a um movimento com pensamentos próximos do protagonista, mas que conseguiu perceber o quanto estava equivocada. Mesmo que o roteiro não saiba ao certo o que fazer com a personagem que abandona o protagonista a todo o instante, a atriz proporciona a Julie uma orientação para que Bryon tenha uma nova oportunidade na vida. Se o roteiro peca ao desenvolver os personagens, Jamie Bell também consegue entregar um ótimo trabalho segurando a imersão do espectador. Uma pena que as atuações são ofuscadas pela superficialidade ao tratar temáticas atuais.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Não, não é uma crítica (Coringa : Delírio a Dois)

Ok, o título estampado no cartaz é: Coringa: delírio a dois. Podemos criar expectativas que a continuação é um filme do Coringa, correto? Na realidade, o que Todd Phillips nos apresenta e faz questão de reforçar a cada cena é que temos o Coringa, porém, o protagonista é Arthur Fleck, um homem quebrado físicamente e mentalmente. Temos também Lee Quinzel, que projeta no outro um sentido na vida e começa a manipular Arthur, para que Arlequina venha à tona. Podemos refletir sobre a manipulação da personagem, ela inclusive reforça:"Não assisti ao filme vinte vezes, talvez umas quatro ou cinco. Quem não mente?". Mas dizer que ela é culpada pelas atitudes de Arthur/ Coringa? A coerência existe no fato da personagem possuir um transtorno mental e, por isso, justifica o desejo e manipulação. Agora, qual a necessidade de criar uma pauta inexistente? O grande equívoco talvez seja do próprio estúdio em não vender o filme como musical e gerar expectativas equivocadas no espectador. É um f...

Uma guerra que está longe de acabar (Um Estado de Liberdade)

O período era a Guerra Civil Americana e o fazendeiro Newton Knight foi convocado para lutar, mas vários questionamentos lhe inquietavam: Morrer com honra defendendo a Nação? Qual o objetivo da guerra? Quais eram as verdadeiras motivações? Após perder o sobrinho, Knight responde ao companheiro: "Ele não morreu com honra, ele simplesmente morreu." O protagonista leva o corpo do jovem para a mãe e a partir deste momento é considerado desertor. Determinado e ao mesmo tempo refugiado em um Pântano com escravos foragidos, o personagem torna-se líder de causas significativas: A independência do Estado de Jones, no Mississippi e a questão racial.  A narrativa peca em alguns aspectos no roteiro por explorar subtramas desnecessárias que desviam o foco da trama principal. A montagem prejudica o ritmo do filme ao enfatizar a história de um parente distante de Knight. O mesmo acontece com a primeira esposa do personagem, interpretada por Keri Russel. O núcleo familiar é aprese...

"Isso parece uma novela" (Bad Boys Para Sempre)

O começo de Bad Boys Para Sempre é basicamente um resgate do primeiro filme dirigido por Michael Bay. Mike e Marcus estão em um carrão em alta velocidade trocando ofensas e piadas enquanto percegue suspeitos. Além de todas as referências, a trama gira em torno de vingança, uma vingança mexicana. Sim, os vilões são mexicanos. Bandidos de um lado, policiais do outro e segredos revelados.  Will Smith sabe como lucrar na indústria, apesar de algumas escolhas equivocadas em projetos passados, Bad Boys Para Sempre parece uma aposta acertada do produtor. Desde o primeiro longa a química entre os atores é o que move a trama e na sequência da franquia não seria diferente. Martin e Will são a ação e o tom cômico da narrativa. Os opostos são explorados de forma intensa. Martin está mais contido com a chegada do neto e Will na intensidade de sempre. As personalidades se complementam apesar da aposentadoria momentânea de Marcus. Tudo ganha contornos diferenciados quando a família em to...