A bela sensação de euforia após um show. Rocketman transporta o espectador para além do gênero musical. O filme reforça a sensação de empolgação e provoca o envolvimento pelas cenas musicais. A cinebiografia do artista Elton John provoca envolvimento no quesito musical, porém o distanciamento é sentido quando o roteiro foca na questão familiar e problemas pessoais do protagonista.
O roteiro não deixa de fora os problemas mais densos da vida do artista. O equilíbrio entre os conflitos do protagonista e os números musicais são bem explorados dentro da trama. A trama é centrada no protagonista, mas os coadjuvantes são tão importantes quando Elton. Os problemas emocionais com a figura paterna, a mãe que nunca acreditou no potencial do filho, o amigo que virou praticamente um irmão, os problemas com drogas, a insegurança do artista e a dúvida de ser verdadeiramente amado. As subtramas são bem estruturadas na figura dos coadjuvantes. Os arcos dos personagens auxiliam no arco do protagonista e no ritmo do filme.
Por falar em ritmo, a montagem duela constantemente no papel de protagonista . O ritmo é constante e por diversas vezes o espectador tem a sensação de estar assistindo um show do cantor. Sabe a sensação de uma música atrás da outra? A montagem proporciona esse sentimento cadenciado entre as cenas. Às vezes o artista pausa o show conversar com o público. Essas pausas que existem no show, também são exploradas no filme de forma breve quando o roteiro foca na vida pessoal do protagonista. O problema é que principalmente na relação com a mãe e o empresário. Tudo é explorado de forma abrupta. A cena de sexo do protagonista é conduzida por Dexter Fletcher com tamanha rapidez que o espectador não sente o envolvimento dos atores. Diferentemente da forma como é explorada a relação de Elton com Bernie. Existe pausa e respiro na relação dos amigos. Uma pausa que poderia ser sentida mais vezes ao longo da trama.
Não seria tarefa fácil para qualquer ator viver Elton John. Um dos pontos mais importantes na construção do protagonista é o exagero que se transforma em caricato. Taron Egerton transita bem entre a composição do artista e a melancolia da vida pessoal. Porém, o caricato é sentido pelo espectador de uma maneira que ultrapassa o limite entre ser o artista e interpretar o artista. Não existe na composição do ator a sensação de leveza no caricato. Taron está preso no caricato muito por conta da direção, pois podemos observar o caricato em outros personagens. O ator transmite a sensação de estar mais a vontade nos momentos em que o protagonista está nas reuniões de reabilitação. Totalmente exposto e vulnerável, o trabalho do ator ganha a tela literalmente pelo primeiro plano presente na câmera de Dexter. O ator cresce no sofrimento de Elton. Agora, quem toma o filme para si é Jamie Bell. O carisma que ele empresta ao personagem envolve o espectador de forma instantânea. A leveza que falta em Taron sobre em Jamie. A química entre os atores impulsiona o filme e reflete na sensibilidade do lado humano de Elton.
Rocketman é um musical de ritmo frenético que envolve e distancia o espectador. A câmera do diretor capta todo o pulsar e intensidade da figura de Elton, porém, a vida pessoal em alguns momentos não é sentida pelo espectador. Para manter o ritmo, os relacionamentos de Elton ganham o pulsar frenético dos musicais e o público se distancia do lado humano do protagonista. Uma pena. Todo artista possui dois lados: o pessoal e o profissional. Em Rocketman o espectador mergulha no lado profissional, porém observa de longe o lado pessoal.
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