Ele nunca esteve só. O jovem soldado Schofield é convocado para uma missão: evitar o ataque com mais de 1600 soldados. Para que a missão seja realizada com êxito, ele precisa atravessar em pouco tempo o território inimigo. A trama de 1917 é ambientada na Primeira Guerra Mundial e o principal inimigo são os alemães. Até determinado momento, Schofield tem como companheiro de missão o jovem Lance Blake. Blake possui uma motivação maior para atravessar o território inimigo e evitar o ataque. Seu irmão mais velho está no batalhão. Como a dupla corre principalmente contra o tempo, o diretor Sam Mendes opta pelo plano-sequência para provocar a sensação de urgência e imersão no espectador.
Ele nunca esteve só. Como o objetivo principal de 1917 é o envolvimento total do espectador, o jovem Lance tem como companhia a câmera de Sam Mendes e a fotografia inspirada de Rogers Deakins, ambas proporcionam intensidade a cada momento do protagonista até a entrega da carta para o General Erinmore vivido por Benedict Cumberbatch. Cada cena é extremamente rica em detalhes para que o grande plano-sequência captasse não somente a urgência da missão como também toda a emoção dos atores em cena. O trabalho de Mendes acompanha o protagonista e proporciona momentos de introspecção e alívio para o espectador. Sam Mendes reforça o plano detalhe em corpos e objetos cênicos para evidenciar o terror da guerra. A câmera acompanha o esforço do soldado e ao longo dos atos o filme não perde o ritmo para que o plano-sequência provoque a imersão constante do espectador que está em todos os obstáculos no decorrer da missão.
Ele nunca esteve só. Toda a imersão que o espectador sente até o desfecho do filme é proporcionada também pelo trabalho da trilha e edição de som. Em um filme ambientado na Primeira Guerra Mundial o elemento narrativo voltado para o som é de fundamental importância. A trilha é companheira do jovem Lance, pois o acompanha durante toda a missão. Nos momentos de maior intensidade a trilha embala a solidão do protagonista. Thomas Newman alterna momentos de silêncio e explosão emocional com equilíbrio. A edição de som é trabalhada em prol da ambientação, pois a qualquer momento o protagonista precisa enfrentar algum obstáculo, além da guerra em si que está camuflada pela retirada do inimigo do território. Vale destacar que a ausência do elemento narrativo provoca um alívio momentâneo no espectador, mas que em alguns momentos o silêncio reflete o desespero de Lance.
Ele nunca esteve só. O plano-sequência funciona durante todo o filme muito por conta do trabalho do ator George MacKay. A entrega do ator é o que preenche a tela por completo. A urgência que a ambientação necessita é sentida a todo o momento pela intensidade com que o ator se entrega ao protagonista. Para manter o ritmo a entrega física fica evidente em cada obstáculo que Lance supera. De forma competente, George consegue segurar o filme também nas cenas que necessitam de maior dramaticidade. Apesar da interação momentânea com coadjuvantes, nos momentos de solidão o ator sempre esteve acompanhado dos horrores da guerra e cada reação de pavor provoca impacto no espectador.
O trabalho de MacKay só não é excelente por conta do roteiro de Sam Mendes. Claro que a protagonista da trama sempre foi a missão, ela acompanha o protagonista o filme todo, a questão é que o roterio não desenvolve nenhum arco proposto na trama. Existe o drama do irmão de Lance e a questão de tentar evitar o ataque, porém, o roteiro não desenvolve um contexto maior sobre a guerra. O espectador mais jovem pode sair do filme sem um aprofundamento sobre os conflitos e a causa da guerra em si. Existe o drama do momento que é desenvolvido de forma intensa e cômica com diálogos sobre o comportamento dos soldados em conversas típicas de filmes do gênero, mas saber somente perto do desfecho um pouco do arco do protagonista reflete uma empatia parcial pelo jovem. Simplesmente completar a missão é uma forma rasa e superficial de apresentar o protagonista. Visando os aspectos técnicos, o jovem Lance realmente nunca esteve só.
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