Nomes de peso seguram um filme? O Escândalo é o exemplo que um longa necessita de muito mais do que os principais nomes de Hollywood. O filme "só" apresenta no elenco Kidman, Theron e Robbie. Com esse trio o estúdio teria ao menos público garantido. Certo? Longe disso, afinal de contas, o espectador é o maior crítico de um longa. Ter atrizes comprometidas nunca foi sinônimo de bilheteria. O público dita o termômetro após a sessão e atualmente bem antes do filme ir aos cinemas, como foi o caso de Cats e Sonic. Os tempos mudaram e um nome de peso, ou melhor, três, não quer dizer muito sobre o filme. O conjunto dos elementos narrativos sempre fez a diferença e se um deles está fora do lugar, não existe atriz de peso que resolva a situação. É o que acontece em O Escândalo. Os produtores trabalharam com apostas certeiras: atrizes competentes, um diretor que possui em sua filmografia filmes baseados em fatos e um roteirista autoral. Tudo no devido lugar, mas cada filme percorre um caminho próprio e repetir fórmulas pode ser um tiro no pé.
O Escândalo tem como temática denúncias de assédio sexual contra um gigante do telejornalismo, Roger Ailes, que por décadas assediou várias funcionárias do canal Fox News. Gretchen Carison é a primeira a denunciá-lo, o problema é que a jornalista toma a atitude logo após ser demitida do canal, o que gera dúvidas sobre a veracidade dos fatos. No decorrer dos atos, outras jornalistas denunciam o ex CEO da Fox, porém o medo fala mais alto. No passado, logo no começo da carreira, Megyn Kelly também sofre com o assédio, mas decide seguir em frente. Já Kayla Pospisil é a nova vítima de Roger. A intenção de Charles Randolph era repetir o que foi realizado em A Grande Aposta. O que tornara o filme ágil anteriormente poderia funcionar em O Escândalo. Aqui temos o total oposto do que foi visto no filme de Adam McKay. O roteiro de Charles não impulsiona a narrativa e o espectador acaba sentindo o ritmo do longa. Não existe foco ao desenvolver os arcos das protagonistas. O único arco que causa empatia no espectador é o de Margot Robbie, pois o público acompanha todo o sofrimento de Kayla. O roteiro evidencia a tensão entre as vítimas e o sofrimento é abafado prejudicando o envolvimento do espectador com o arco de Charlize e Nicole. Existe um conflito de propostas na atmosfera criada ao longo dos atos. A quarta parede é quebrada em momentos pontuais na tentativa de aproximar o público da narrativa, o recurso é utilizado em vão porque o que funciona na leveza proposta no primeiro ato, não dialoga com a tensão explorada nos demais. Grechen é deixada de lado logo que a denúncia é feita para priorizar os conflitos internos de Megyn, proporcionando pouco peso ao personagem de Nicole Kidman. Quando tudo vem à tona o espectador pouco se importa com os acontecimentos e o desfecho da narrativa.
Outro elemento narrativo que poderia proporcionar peso ao roteiro de Charles é a montagem. O choque na atmosfera criada na narrativa é consequência do elemento ao intercalar o arco das protagonistas. Além da montagem, a composição de Charlize e Nicole não reflete o sentimento das personagens. Ambas confundem força com ausência de emoções. Seria injusto comparar as atuações de ambas com o trabalho de Margot. Kayla precisa ser inocente, pois está começando a perceber o que ambas sentiram ao longo de décadas. Porém, não existe resquício de sentimentos no trabalho das atrizes, o que corrobora e muito para o afastamento do espectador. Quando Megyn finalmente procura Kayla, o ritmo é sentido por completo pelo público que não consegue se importar se Rogers vai ou não ser condenado aos olhos da imprensa. O Escândalo é a prova de que estar seguro demais com certas escolhas somente porque elas funcionaram em outros filmes não quer dizer que funcione novamente. Somente se obtêm êxito na sétima arte quando o conjunto dos elementos narrativos dialogam entre si.
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