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O vazio que persegue o espectador (Brookling - Sem Pai Nem Mãe)


O cuidado com o filme é sentido na produção e nos demais elementos narrativos. Brooklyn - Sem Pai Nem Mãe mostra para o espectador a paixão de Edward Norton pela sétima arte. O ator está literalmente envolvido em todos os setores do longa. Além de ser protagonista, o ator dirige, escreve e produz. O grande ruído do filme é que apesar de todo o zelo de Eward o filme não possui emoção. Ao longo dos atos o espectador sente constantemente o tempo não passar e as reviravoltas não ganham o peso necessário para fazer a trama ter potencial.

Edward vive Lionel, conhecido por muitos como aberração, por sobre da Síndrome de Tourette, mas apesar dos problemas, ele é extremamente hábil ao memorizar acontecimentos e falas. O protagonista trabalha como detetive e vê em Frank o laço paterno que não teve. Com a morte de Bruce Willis, a trama ganha contornos de suspense policial. O roteiro escrito por Edward tenta manter o foco na investigação do personagem na morte de Frank, mas entre os atos o espectador sente que as subtramas são mencionadas e não desenvolvidas por completo. A questão do preconceito e núcleo familiar que envolve Laura não prende a atenção do público, apesar de ganhar uma importância maior que influência diretamente na trama central. Esse aspecto é sentido nos demais coadjuvantes que desaparecem e retornam com plots fracos e previsíveis. Assim, o espectador sente a falta de ritmo do filme.


A direção de Edward também é sentida pelo espectador. O primeiro ato da trama ganha uma direção ágil pelos acontecimentos e tensão vivida por Frank. Não existe uma pausa para que o espectador sinta a tensão da cena. Alguns acontecimentos retornam com flashbacks que dialogam com a frequência do pensamento do protagonista. Mas se no primeiro ato as cenas já não causam o envolvimento necessário, quando repetidas causam cansaço no espectador. Nos demais atos o ritmo ganha um tom de suspense policial, porém, o ritmo contido com toques musicais afasta ainda mais o espectador. A direção não é fluida e transmite a sensação de somente transitar de uma cena para a outra.

A mão pesada de Edward percorre os atos, mas é preciso destacar os elementos narrativos que chamam a atenção do espectador no longa. A direção de arte transporta o espectador para o período retratado. O cuidado com os carros, o pub que o protagonista se acalma, o quarto pequeno de Lionel. São detalhes que enriquecem a narrativa. O mesmo acontece com os figurinos dos personagens. Cada detalhe auxilia na composição dos atores. Por falar em atuação, Edward é o tipo de ator que busca trejeitos para compor seus personagens. Aqui não seria diferente. Apesar de causar certo ruído e quebra nas cenas, a síndrome de Lionel ganha contornos cômicos no decorrer do filme. Os demais atores estão soltos no roteiro e fazem o que podem pelos personagens. Quando os créditos sobem a sensação de vazio ecoa no cinema. Se Edward persegue os suspeitos pela morte de Frank, o vazio narrativo persegue o espectador.

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