Com algumas
pedras no caminho, uma bem grande intitulada O Fim dos Tempos, M. NightShyamalan manteve um fator fundamental no decorrer dos anos: a autoria. A cena
que Mark Wahlberg conversa com uma samambaia contém outro fator experimental
que claramente não funcionou dentro do contexto do filme, mas que em
Fragmentado auxilia e insere o espectador na atmosfera presente dentro da narrativa: o
humor. Se para Shyamalan conversar com plantas seria uma pausa para o
protagonista da história ter um tom diferenciado de deboche, em Fragmentado o
recurso é explorado com mais segurança e engrandece o enredo.
JamesMacAvoy interpreta Kevin e oito personagens, que são mencionadas claramente
pelo roteiro, mas ao todo temos 24. Ele sequestra três adolescentes em um
estacionamento. Logo na primeira cena a autoria do diretor se faz presente ao
criar uma atmosfera intensa e um roteiro envolvente. Shyamalan instiga aos
poucos e prende o espectador com pequenos detalhes e objetos que são
interligados ao longo dos atos. O que é um diferencial na filmografia do
diretor, em alguns casos causa no espectador um sentimento contraditório. Somos
envolvidos de tal maneira que ficamos muitas vezes reféns e
perdemos o contato com a obra aguardando o plot twist de Fragmentado. Ele não
decepciona, mas a espera causa um certo cansaço que poderia ser melhor
trabalhado ao longo da narrativa.
A alma de
trama é sem dúvida a interpretação de James MacVoy. O ator não poupa esforços
para trabalhar com competência as personas do protagonista. Auxiliado pela
edição que consegue mesclar os tempos precisos da troca de cada personalidade
somos igualmente reféns, no bom sentido, da interpretação de James. Alguns
podem até soar um pouco caricatos para os espectadores mais exigentes, mas
mesmo com a interpretação um pouco acima do tom, o ator toma o filme para si e
entrega interpretações instigantes.
Com tramas
paralelas que exploram pontos em comum, M. Night Shyamalan cria a atmosfera
essencial de suspense para que Fragmentado exigia do espectador a máxima
atenção no enredo. O diretor ressalta enquadramentos importantes para dar a
sensação de aprisionamento das garotas. O foco centralizado na expressão dos
atores também evidência outro tipo de aprisionamento, o psicológico, tanto de
Kevin quanto de Casey. Outro recurso utilizado pelo diretor é o zoom in, sempre
dando o timing exato para que o espectador sinta a sensação de tensão entre os
personagens.
Muitos afirmam que Fragmentado é o retorno do
diretor, mas acredito que ele sempre esteve presente, mesmo com as pedras
mencionadas no meio do caminho. Talvez a recente narrativa seja aquele plot
twist que nos faz reféns dos filmes de M. Night. Reféns no melhor sentido.
Reféns do que há de mais prazeroso no cinema: uma excelente história.
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